Espaços urbanos

Espaços urbanos
Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

domingo, 20 de novembro de 2016

Novos tempos para o tempo passado IV: Fazenda da Tafona

O ano de 2016 tem sido marcado por grandes obras de recuperação de bens de interesse coletivo em Cachoeira do Sul e culmina com o reconhecimento da Fazenda São José, ou da Tafona, localizada na Porteira Sete, como patrimônio histórico-cultural do Rio Grande do Sul.

Sede da Fazenda São José - da Tafona - foto Renato F. Thomsen
Localidade de Porteira 7, Cordilheira, Cachoeira do Sul - RS

A Fazenda São José apresenta uma série de características que a colocam como exemplar único em nossa região, despertando o interesse de historiadores, pesquisadores e adeptos do turismo cultural. Sua importância para a memória local vem da significação histórica, da arquitetura, do mobiliário e do ambiente natural que a cerca, além do elemento humano que a construiu e habitou por mais de 200 anos, produzindo farta documentação devidamente preservada.

A criação de gado sempre foi muito importante para a economia do Rio Grande do Sul desde os tempos da concessão de sesmarias aos primeiros povoadores. Naturalmente as sedes das fazendas de criação foram sendo modificados ao longo do tempo histórico, sofrendo adaptações ou sendo substituídas em sua integralidade por outras construções. A sede da São José, acrescida das instalações da atafona, constitui-se pela razão de ter sido pouco modificada ao longo de dois séculos em um exemplar raro e digno de reconhecimento, mantendo traços da arquitetura portuguesa, cujas evidências materiais, apesar da dominação cultural, são raras em nossas paisagens.

Fazenda em foto do início do século XX - fototeca Museu Municipal

A origem lusitana da São José está em seu provável construtor, o português José Vieira da Cunha, casado com Rosa Joaquina, que por sua vez era filha do açoriano João Pereira Fortes, proprietário de grandes extensões de terras desde Rio Pardo até Cachoeira.

A São José, com o passar do tempo e a sucessão natural das gerações familiares que a fundaram passou a pertencer, na segunda metade do século XIX, ao casal José Sebastião Vieira da Cunha e Maria Manoela Pereira da Cunha. Os traços deste casal e suas memórias foram preservados pelos descendentes, dando conteúdo histórico ao lugar. No correr do século XX, a sede da fazenda ficou para Emília Vieira da Cunha que por sua vez a vendeu, no ano de 1963, para a sobrinha Gemina Vieira da Cunha e Silva e seu marido Sylvio Martins da Silva, pais de Marô Silva que junto ao esposo Marco Aurélio Schntz envidaram todos os esforços para transformar a Tafona em patrimônio histórico-cultural do município e agora também do estado.

José Sebastião Vieira da Cunha
- acervo da Fazenda da Tafona - Casa de Memória
Família e agregados de José Sebastião Vieira da Cunha na sede
- acervo da Fazenda da Tafona - Casa de Memória

Com registro de museu desde 2001 junto ao Sistema Estadual de Museus, a Tafona credencia-se a projetos de captação de recursos que promovam a restauração de sua estrutura e ruma para a condição de importante atrativo cultural que documenta página ímpar da nossa história, oferecendo sua estrutura construtiva e elementos do entorno e interior para apreciação dos modos de fazer e viver característicos das antigas estâncias de criação do estado ao tempo ainda das grandes extensões de terras disputadas entre espanhóis e portugueses. Suas paredes guardam também as memórias de todos os homens e mulheres, senhores e serviçais, que viveram um tempo que não volta mais, mas que se perpetua e revela quando se cruza o seu portal...

Porta principal da Tafona - foto Mirian Ritzel

Descerramento da placa alusiva ao tombamento estadual da Tafona
- Secretário de Estado da Cultura, Vitor Hugo Alves da Silva, e os proprietários
Marô Silva e Marco Aurélio Schntz - 18/11/2016 - foto Cristina Mór