Espaços urbanos

Espaços urbanos
Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

domingo, 25 de setembro de 2016

Château d'Eau - vestígios do passado sob as tintas do tempo

Poucas vezes Cachoeira do Sul teve a oportunidade de ver diversos de seus patrimônios históricos, verdadeiros ícones, em processo de recuperação. E o Château d’Eau, nossa maior referência de urbanidade, depois de anos entregue à própria sorte, finalmente ressurge em sua magnitude arquitetônica e simbólica.


Das  janelas do Paço Municipal, as obras de recuperação
do Château d'Eau e Catedral N. Sra. da Conceição
- foto Renato F. Thomsen


As diversas fases pelas quais o monumento tem passado em seu processo de restauro, obra executada pelo Studio Sarasá, vêm revelando muitas coisas, desde as diferentes camadas pictóricas até sua dimensão simbólica.


O Château d'Eau sob andaimes - foto Drone Cachoeira

E o transeunte da Praça Balthazar de Bem, estupefato com as obras que se desenvolvem também no Paço Municipal (ou Prefeitura) e na Catedral, fica a se perguntar diante da “transparência” que o restauro do Château d’Eau oferece por não haver paredes que o escondam: afinal que cores tinham as ninfas, Netuno e o próprio Château d’Eau?


 Tentando responder às indagações e também dar sustentação ao que os técnicos encontraram a partir da última camada de tinta removida, historiadecachoeiradosul foi buscar fotografias antigas do monumento para demonstrar que as cores que hoje se apresentam como propostas dos restauradores, bem mais escuras do que o usual, parecem ter sido efetivamente utilizadas no monumento.

Com o julgamento o leitor!


Château d'Eau na década de 1930
- fototeca Museu Municipal

Coleção particular Armando Fontanari


Coleção particular Armando Fontanari



Atletas do Grêmio Náutico Tamandaré defronte ao Château d'Eau
- Coleção particular Armando Fontanari

Antônio Machado da Silva
- Coleção particular Família Waldicyr Machado

Agradecimentos a Ione Sanmartin Carlos que obteve as fotos da Coleção particular de Armando Fontanari.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Apostas do passado

A cada edição da EXPOINTER os criadores de Cachoeira do Sul voltam com um bom número de rosetas, evidenciando que a pecuária local tem qualidade e competitividade. Mas isto não é fruto do acaso e sim de uma trajetória histórica fundada na segunda metade do século XVIII.

A criação de gado foi a primeira vocação econômica do município. A opção que os soldados portugueses tiveram quando aqui chegaram para tentar assegurar o cumprimento do Tratado de Madri, aproveitando-se do gado xucro que vadiava pelos campos, perpassou os séculos, sobrevivendo e acompanhando os ciclos econômicos que vieram depois.

Na segunda metade do século XIX, com a instalação da Charqueada do Paredão, houve grande incremento à criação de gado. A própria Charqueada mantinha em seu redor vastos campos para invernada do gado que adquiria. Cachoeira chegou a abalar os negócios das charqueadas de Pelotas por sua localização geográfica privilegiada, no centro do estado. Vender para a Charqueada Paredão era melhor negócio, pois Cachoeira ficava no meio do caminho...

Charqueada do Paredão vista de longe - cartão-postal de Benjamin Camozato
- fototeca Museu Municipal

Por conta das vantagens de Cachoeira em detrimento de outros pólos charqueadores, e aproveitando o movimento revolucionário de 1893, dizem, a ponte do Passo Geral do Jacuí teve providencialmente incendiada parte do seu leito, impossibilitando assim a passagem das tropas que vinham abastecer a Charqueada!

Pilares que restaram da Ponte do Passo Geral do Jacuí - foto Méia Albuquerque

Durante os primeiros anos do século XX, notadamente quando o Dr. Balthazar de Bem era o intendente, a administração municipal demonstrou preocupação com a melhoria do plantel de gado criado localmente, tomando iniciativas que hoje podem parecer inusitadas, mas que certamente contribuíram para que a pecuária aqui tivesse os incrementos necessários para se solidificar. O touro flamengo adquirido para cruzar com as vacas dos chacareiros em 1913 foi uma destas iniciativas, assim como a compra e a distribuição gratuita de sementes do capim-gordura e capim-jaraguá, também ideia do visionário Balthazar de Bem naquele mesmo ano. Estes capins eram considerados os melhores para o engorde do gado. Aliás foi o Dr. Balthazar o introdutor no município do gado da raça Devon, de que fazia criação em suas duas granjas da Penha, uma que se localizava onde hoje está o Bairro Marina (este era o nome da sua esposa) e outra no caminho para Caçapava.

Capim-jaraguá - unilabsementes.com.br

Capim-gordura - agrolink.com.br

Os tempos mudaram e a tecnologia chegou ao campo, vencendo as barreiras naturais da própria cultura do criador gaúcho, que era baseada quase que unicamente na experiência e na tradição passadas de pai para filho. As cabanhas cachoeirenses estão consentâneas com o século XXI, esbanjam bons espécimes e honram uma tradição fundada ainda ao tempo do domínio e posse de nossas fronteiras. Apostas do passado com respostas no presente e projeções para o futuro.