Espaços urbanos

Espaços urbanos
Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Coincidência histórica

            A história se repete. Ou pelo menos fica muito próxima de se repetir. É o que sucede agora com a Ponte do Fandango, cuja capacidade parece estar se esgotando após pouco mais de 50 anos de utilização.
Ponte do Fandango - foto Jorge Ritter

            A coincidência fica por conta de que há exatos 100 anos, portanto em 1912, um grupo de cachoeirenses preocupados com a carência de uma ponte sobre o rio Jacuí nas proximidades da cidade, o que facilitaria enormemente o ir e vir de pessoas e produtos, reuniu-se em 10 de março daquele ano, na casa do industrialista Jorge Franke, para tratar do assunto. O grupo projetava construir uma ponte sobre a cachoeira do Fandango, como também sobre os arroios Capané e Irapuá.
O industrialista Jorge Franke - foto Monte Domecq, 1916

            No dia 17 de março de 1912 aconteceu uma grande reunião na Intendência Municipal, às 9h da manhã, comparecendo o grupo proponente da ideia, comerciantes, industrialistas, fazendeiros e agricultores convidados. Resultou do encontro a formação de uma comissão para levar adiante todos os atos necessários à incorporação de uma companhia que projetasse e executasse as pontes. Compunham a comissão: Jorge Franke (escolhido para presidi-la), Emilio Barz, Virgilio de Abreu, Aurélio Porto, Carlos Schmidt, Pedro Werlang e Affonso Fonseca.
Virgílio de Abreu - membro da Comissão
- arquivo familiar

            A história nos mostrou que a empreitada não teve o sucesso pretendido. Somente na década de 1950, ou seja, 40 anos depois, é que a construção da Ponte do Fandango, sobre o local pretendido pelo grupo de 1912, efetivamente aconteceu. Passados 51 anos da inauguração da Barragem-Ponte do Fandango, novamente a comunidade cachoeirense passa a discutir o seu esgotamento e a necessidade de outra ponte que a desafogue e atenda à demanda de nossos dias.
           Que a história não se repita e que possamos ser mais efetivos em nossas ações, do contrário teremos que aguardar o longo tempo que nossos antepassados aguardaram!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Escola Municipal de Belas Artes - EMBA

             Caso ainda estivesse em atividade, a Escola Municipal de Belas Artes – EMBA teria completado, no dia 20 de fevereiro de 2012, 55 anos de criação.
            Sonho acalentado por muito tempo pela professora e pianista Rita de Cássia Fernandes Barbosa, a EMBA foi antecessora da grande e inesquecível Escola Superior de Artes Santa Cecília – ESASC que formou gerações de professores de música e artes, pintores, escultores, enfim profissionais que trabalharam em prol da arte não só em Cachoeira do Sul, como por várias cidades do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Rita de Cássia Fernandes Barbosa
e o professor Homero Magalhães
- acervo familiar
            Fundadora e primeira diretora da EMBA, Rita de Cássia Fernandes Barbosa dá nome hoje ao Auditório da Casa de Cultura Paulo S. Vieira da Cunha, prédio que sediou as duas escolas de Belas Artes que Cachoeira do Sul já teve.
Casa de Cultura - sede das extintas EMBA e ESASC
- foto Cristianno Caetano

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Cachoeira em 1912

        Você faz ideia de quem eram os vereadores de Cachoeira em 1912? Na realidade, naquele tempo eles eram denominados conselheiros e somavam nove cadeiras, mais dois suplentes.
         A nominata do período 1908 – 1912 era a seguinte:
- Olympio Coelho Leal (presidente)
- José Gomes de Oliveira
- João Baptista Carlos
- Horácio Gonçalves Borges
- Manoel Antônio d’Ávila
- Antônio Antunes de Araújo
- José Weber Filho
- Arlindo de Freitas Leal
- Henrique Bischoff
         Os conselheiros suplentes eram:
- Pedro Stringuini
- Paulino da Silva Breton
         O Conselho Municipal (era assim que se chamava a Câmara Municipal) tinha seus conselheiros eleitos por sufrágio direto para um período de quatro anos e não recebiam salários. A eleição do presidente, secretário e comissões era determinada pelo regimento interno.
         As sessões do Conselho aconteciam no segundo andar do prédio da Intendência Municipal.

         Dos conselheiros acima relacionados, não há qualquer tipo de informação a respeito de Manoel Antônio d’Ávila, Henrique Bischoff e Paulino da Silva Breton, tampouco fotografias. Apesar de haver dados biográficos esparsos, também não há fotografias de José Gomes de Oliveira, Antônio Antunes de Araújo e Arlindo de Freitas Leal. O blog História de Cachoeira do Sul aceita colaborações para trazer à luz dos cachoeirenses de hoje quem foram estes ilustres cidadãos do passado.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cine-Teatro Coliseu - inaugurado há 74 anos

         No dia 17 de fevereiro de 1938, Cachoeira se engalanou para a abertura da mais nova casa de cinema da cidade, o Cine-Teatro Coliseu, instalado em prédio estilo art-dèco, especialmente construído para este fim e no ponto mais nobre da Rua 7 de Setembro.
O que resta hoje do imponente Cine-Teatro Coliseu
 - foto COMPAHC

         O jornal O Comércio, em sua edição do dia 23 de fevereiro de 1938, assim descreveu as instalações do Cine-Teatro Coliseu:
         “Localizado a Rua 7 de Setembro, num dos trechos mais movimentados e elegantes, o Cine-Teatro Coliseu apresenta feição de soberana grandeza e de magnífica conformação, cuja fachada, obedecendo à harmonia de seus traços, - a qual ostenta perpendicularmente o letreiro de cores encarnado e branco, nos dá uma ideia real, verdadeira da obra prima, bem acabada, moderna e distinta. A entrada, ao alto do que pende um esplêndido lustre, é guarnecida por vistosos corrimãos niquelados, dando-lhe, por isto, forma atraente e chique.

Letreiro hoje - foto Renato Thomsen


A sala de espera, aos lados da qual estão dispostos dois artísticos espelhos, se caracteriza por uma suntuosa escadaria de mármore e pelo fulgor dos coloridos que refletem das luzes e da pintura, constituindo assim um conjunto de rara graciosidade.

 Espaçosa, com poltronas de estilo moderníssimo, a sala de projeções se impõe pelas linhas de sua construção, que lhe dá a faculdade de oferecer ao público todo o conforto indispensável. Com amplas janelas e portas laterais, nela se sente a frescura do ar puro. As cores da pintura, na sua discrição de bom gosto, combinam com o brilho da estrutura do recinto. Também maravilhosamente desperta atenção a plateia superior, para a qual dão acesso duas escadas laterais que são formadas em caracol. Em semicírculo, sobressaem os magníficos balcões, cuja disposição das localidades obedece a filas de duas poltronas. O palco, quer pela sua perfeita organização, pelos seus detalhes admiráveis, como pelas variações de luzes incrustadas em redor de seu artístico quadrante, coopera de modo a dar ao Cine-Teatro Coliseu um relevo de alta imponência.”

Compareceram à inauguração autoridades e convidados, sendo a fita inaugural descerrada pelo Prefeito Reinaldo Roesch na companhia dos proprietários Henrique Comassetto e Algemiro Carvalho.

Para o ato inaugural foi exibido o filme São Francisco, a cidade do pecado, com Clark Gable e Jeannette MacDonald, de 1936.

Cartaz do filme inaugural


        

Cachoeira em 1912

         Já que estamos entrando no período de carnaval e carnaval rima com cerveja, vamos relembrar Cachoeira no ano de 1912, quando tínhamos nossa própria fábrica da bebida.
A Cervejaria Moderna, de Augusto Trommer, situada na Rua Sete de Setembro n.º 7, noticiava, em janeiro de 1912, que havia promovido uma completa reforma e aumento em suas instalações. O proprietário informava à clientela que passaria a fornecer brevemente produtos filtrados, de limpidez impecável. Também havia montado uma fábrica de gelo, cujo produto seria fornecido ao público ao custo de 300 réis o quilo e a 200 réis quantidade a partir de cinco quilos. Mas avisava: só aceitava pagamento em dinheiro!
Prédio da Cervejaria, à direita, com chaminé

Cartão-postal em que aparecem as chaminés da Cervejaria já ampliada

         Fonte: Jornal O Comércio, edição de 10/1/1912.
         Imagens: fototeca do Museu Municipal

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Carnavais de antanho

            Nos albores do século XX o carnaval em Cachoeira tomava as praças e ruas com apresentações das bandas de música e a presença de “mascarados” que perambulavam fazendo gracejos. Os mascarados eram predominantemente do sexo masculino, ou melhor, identificavam-se como tal, uma vez que este tipo de exibição era explicitamente proibido para mulheres de bem.
            Um dos grupos mais antigos que costumava se fantasiar e sair às ruas de Cachoeira, denominado Pirilampos, tomou as ruas no carnaval de 1900 e celebrou alegremente o reinado de Momo.
            Já em 1904 o carnaval de Cachoeira apresentou-se como estratégia de marketing. Ao som do “Zé Pereira”*, os foliões invadiram as principais ruas propagandeando os produtos da fábrica de fumo de Soares Netto, oferecendo-os como presente às pessoas que assistiam ao desfile.
            No ano seguinte, surgiu o Clube Diabo a 4, voltado às pessoas que não eram sócias dos clubes e que mediante ingresso de 3.000 réis podiam participar das folias de Momo. Em 1906, mal das finanças, o Diabo a 4 não pode atender aos foliões. Naquele ano não houve carnaval, pois nem o Zé Pereira saiu às ruas.
            O Bazar Krahe, de Martin Krahe, localizado na esquina da Rua 7 de Setembro com a Travessa 24 de Maio (hoje Rua Dr. Silvio Scopel), comercializava em 1907 serpentina, confetes, bisnagas, lança-perfumes, máscaras, narizes e barbas para o carnaval.
Bazar Krahe - Rua 7 de Setembro - fototeca Museu Municipal

            Nos anos seguintes os foliões seguiam em seu périplo pelas ruas, de forma autônoma, sem coordenação. E os clubes se organizavam para os bailes de “masqué”, com destaque para a dança chamada “polonaise-masqué”, sendo os salões invadidos pelos lança-perfumes e serpentinas.  
        
Fonte: Jornal O Comércio, banco de dados do Museu Municipal
*Zé Pereira: genericamente é brincadeira carnavalesca em que várias pessoas cantam e tocam bumbo enquanto desfilam.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Relógio da Sete - por Jorge Ritter

Lá na praça tinha um relógio
... Solitário...
Imponente...
Marcando nossas vidas
Nossos dias...
... Eu passei
... A cidade passou.
E o relógio se foi...

Hoje escondido, ele marca as horas do tempo perdido...
A cidade cresceu, desumanizou.
... E pela praça solitária...
As pessoas passam...
... As horas...
E eu distante, imaginando a cidade sonhar.
Só o tempo em meu relógio de pulso continua o mesmo.
... E minha praça...

Jorge Ritter
(um cachoeirense em Salvador – BA)


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Onde está o relógio?

    Caso Sherlock Holmes aportasse por Cachoeira, uma das primeiras tarefas que nós cachoeirenses daríamos ao “detetive dos detetives” seria a de descobrir o paradeiro do relógio que existia no cruzamento da então Travessa 24 de Maio (hoje Rua Dr. Sílvio Scopel) com a Rua Sete de Setembro.

     Colocado no local no início de 1928, conforme atesta edição do jornal O Comércio, de 1.º de fevereiro daquele ano, o relógio estava montado sobre coluna com degraus de mármore cor-de-rosa e adornado com flores em sua base. Nos ângulos da coluna, havia um barômetro e três termômetros!

     Sua extirpação do nobre local que ocupava e o suprimento do útil serviço que prestava foram uma das tantas insanas decisões que nossa “urbs” tomou!
     Onde está o relógio?
Imagens: Fototeca Museu Municipal

Calçamento do Bairro Rio Branco

O Bairro Rio Branco, que neste ano de 2012 completa 100 anos de abertura, teve iniciado o calçamento de suas ruas em fevereiro do ano de 1927.

Obras de calçamento na Rua Ernesto Alves


Juntamente com as obras de calçamento do bairro, houve a colocação de canteiros centrais arborizados e de postes de luz com candelabros artísticos e globos opacos pelas ruas, aspectos que, em sua maioria, até hoje se mantêm.

Assentamento de canteiros

 O calçamento foi feito com pedras irregulares e calhas de paralelepípedos no prolongamento da Rua 1.º de Março (atual Liberato Salzano V. da Cunha) e que no bairro tomou o nome de Rua Isidoro Neves, quadras entre Venâncio Aires (atual Presidente Vargas) e Ernesto Alves. Pelo eixo de todas as ruas do bairro foram construídos refúgios arborizados e gramados com 1,20 m por dois metros de largura, com arborização pela beira e iluminação pelo centro da rua.

Rua Isidoro Neves

Em todos os terrenos baldios foram assentadas as canalizações de águas e esgotos para os futuros prédios, bem como em todos os cruzamentos de ruas seriam instalados hidrantes para o serviço de extinção de incêndios e irrigação das ruas.

Rua Presidente Vargas

Como podemos depreender das informações contidas nas edições do jornal O Comércio daquele fevereiro de 1927, o Bairro Rio Branco, o primeiro bairro planejado da cidade, não à toa constitui-se recanto dos mais bem cuidados de Cachoeira do Sul desde os seus primeiros tempos, o que se deve grandemente ao esforço de planejamento.

Imagens: Arquivo particular Família Gressler

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Árvores da cidade: Praça José Bonifácio

Em 6 de fevereiro de 1915 foram plantados jacarandás nos lados Leste e Norte do Mercado Público, na Praça José Bonifácio, por João José Marques Rodrigues, zelador dos jardins públicos. Já existiam outros jacarandás nas imediações com idade variando entre um e três anos.
Mercado Público no centro da Praça José Bonifácio

Hoje restam poucos jacarandás na Praça José Bonifácio, alguns bastante antigos pelo aspecto de seus troncos. Serão remanescentes do distante ano de 1915?

Serão quase centenários estes jacarandás?


Imagens: Fototeca do Museu Municipal e Mirian Ritzel

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Primeiro velocípede a circular em Cachoeira

         Em 8 de fevereiro de 1896 um sujeito conhecido em Cachoeira como “Pedro Faz Tudo”, cujo nome de batismo era Pedro Fortunato Batista Alegri, de nacionalidade italiana, transitou pelas ruas poeirentas de então com um velocípede, sendo o primeiro registro de uso deste equipamento, hoje conhecido genericamente como bicicleta, em nosso Município.
         A experiência despertou o interesse de muitos, como prova a história, pois em 14 de janeiro de 1900 foi inaugurada uma pista de ciclistas e, em 10 de junho de 1900, fundado o Clube Ciclista Cachoeirense, tendo como presidente José de Oliveira, vice Pedro Soares, 1º secretário Afonso Fonseca, 2º Ernesto Moreira e tesoureiro Albino Pohlmann.
Ciclistas do passado... - fototeca do Museu Municipal

         Atualmente um movimento tem ganhado a mídia e a atenção das pessoas. Trata-se do Cicloativado, composto por pessoas das mais variadas idades que incentivam o hábito salutar de circular de bicicleta, colaborando para a redução da emissão de poluentes das descargas dos automóveis, para desobstruir o trânsito caótico da cidade e para reduzir os altos índices de sedentarismo da população.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Série Lojas do Passado: Agência Ford

Sob a firma Figueiredo & Cia., João Minssen e Antonio Figueiredo constituíram-se em sociedade, com o capital de vinte contos de réis, para a venda de automóveis Ford e todos os acessórios, como pneumáticos, óleos, etc.
A firma estabeleceu uma oficina para montagem e consertos de automóveis, com depósito permanente dos autos Ford. O depósito e a oficina estavam localizados na Rua Sete de Setembro.
Figueiredo & Cia., agentes dos automóveis Ford em Cachoeira, Caçapava, Rio Pardo e São Sepé iniciaram as suas vendas entregando um automóvel para Ricardo Schaurich, residente nesta cidade, e um a Arthur Taurino de Rezende, Intendente do vizinho município de Rio Pardo.
Os antigos agentes, Germano Preussler & Cia. (Germano Preussler, Dr. João Minssen e Euclides Carlos) haviam vendido automóveis Ford ao Tenente-Coronel Ramiro Ramos de Chaves, Coronel David Soares de Barcellos, Luiz Diefenbach, Freitas, Moura & Cia. e Raymundo Preussler, todos residentes em Cachoeira, segundo noticiava o jornal O Comércio do dia 9 de janeiro de 1918.
        Como se vê, Cachoeira é de longa data uma cidade cheia de automóveis.




Aspecto interno da agência

Imagens: fototeca do Museu Municipal

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Insana decisão

            A Prof.ª Renate Schmidt Aguiar (Jornal do Povo, 4 e 5 de fevereiro de 2012) pôs o dedo em uma ferida que corrói aqueles que vivenciaram uma página triste da nossa história e que registra, em meados da década de 1970, a destruição da velha Estação Ferroviária, aquela que dividia a cidade em alta e baixa, conceito que até hoje vigora entre nós: “Encurralada pela ausência de debates isentos e muita adrenalina destrutiva, num dia de junho triste, a turba sem coração e emoção começou a enxergar o fruto de sua pressão e equívoco: os velhos muros começaram a ser derrubados e, em seguida, os trilhos retirados. Foram semanas inexplicáveis, pois quando a coisa aconteceu já veio armada e ávida por ruínas.”
No entanto, é necessário fazer justiça a duas mulheres corajosas de Cachoeira do Sul que procuraram o Prefeito para fazer a defesa da velha Estação. Ambas sonhavam instalar nela um museu, instituição que ainda não havia entre nós. O nome dessas mulheres: Lya Wilhelm e Eluiza de Bem Vidal. A primeira seria a diretora e organizadora do Museu Municipal no final daquela década. A segunda, a primeira diretora e hoje patrona do Atelier Livre Municipal. As duas vozes não encontraram eco e a velha Estação ruiu, levando com ela uma parte importantíssima da nossa história.
Começo da demolição - foto cedida por Claiton Nazar

Prosseguindo em seu libelo, a Prof.ª Renate lança um desafio a que nos associamos: “Ferreira poderia ser a autoestima cachoeirense. Ressuscitar trilhos e dotá-los de um circuito turístico é doidice? No Museu Municipal jaz quieto o trem azul, desmanchando-se diante dos humores do tempo.”
Todos podem colaborar com este desafio – a cidade como um todo ganhará com isto. As gavetas que guardam álbuns de fotografias de inúmeras famílias devem conter registros das nossas estações e paradas de trens. Reconstituir sua história é uma forma de preservar a memória e, quem sabe um dia, estes registros possam integrar um memorial no “trem azul” do Parque Municipal da Cultura que, de certa forma, nos redimirá de uma insana decisão.
Mirian Ritzel

Demarcação da Praça do Pelourinho

               Reza a história que a Praça do Pelourinho – ou a nossa velha e triste José Bonifácio – começou a ter seu terreno demarcado no dia 1º de fevereiro de 1830. Os vereadores, reunidos em sessão naquele dia, decidiram visitar as ruas e praças da Vila, sendo a Praça do Pelourinho a primeira a receber o procurador da Câmara, o fiscal e o arruador para esquadrejar, medir e demarcar o seu terreno, fixando os limites e dimensões da sua área em 400 palmos de frente a Norte, o mesmo de frente a Leste, em quadro, com fundos a Sul. Os ditos 400 palmos correspondem a 88 metros lineares. Assim sendo, o terreno da praça estendia-se entre as atuais ruas Saldanha Marinho e Moron.
Mas os documentos da Câmara dão a entender que a demarcação feita em 1830 só foi efetivamente concretizada em maio de 1848, quando o engenheiro indicado pela Câmara, Manoel Christianno da Silveira, vistoriou o local. Houve a deliberação de que a praça teria então 600 palmos de largura e de comprimento o correspondente à extensão entre a Rua Santo Antônio (atual Saldanha Marinho) e a da Igreja (atual Moron). No dia 23 de maio daquele ano, o Juiz Municipal da Vila recebeu a planta da praça elaborada pelo engenheiro e determinou o levantamento dos marcos de pedra para a efetiva demarcação do recinto da Praça do Pelourinho.
                Como se vê, a história da nossa triste praça tem muito de abandono...


Praça José Bonifácio descampada
Praça J. Bonifácio com paineiras recém-plantadas e cerca de taquaras

A praça em seu período aúreo - final da década de 1920

Retrato atual do descaso - foto Renate S. Aguiar
Imagens: fototeca do Museu Municipal