Espaços urbanos

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Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

As brumas do tempo...

As brumas do tempo guardam segredos... 

Um bom mistério da história de Cachoeira é o caso do Instituto Sagrado Coração de Jesus, um educandário mantido por freiras que, apesar do beneplácito das autoridades e do investimento em um grandioso prédio no Bairro Rio Branco, acabou naufragando sob duras críticas do pároco da Igreja Matriz...

Esta história teve início em 1916, quando algumas irmãs da Companhia de Maria* chegaram à cidade com a intenção de estabelecerem uma escola para meninas. Na falta de um prédio adequado, instalaram-se provisoriamente na Rua 15 de Novembro, esquina da Rua General Câmara, em propriedade de Bento Pereira Alves. No segundo semestre daquele ano deram início ao ano letivo.


Rua 7 de Setembro por volta de 1916 - Fototeca Museu Municipal

O programa de ensino da escola era de 10 anos, com garantia de sólida educação moral e formação intelectual. As meninas poderiam ser matriculadas como internas, semi-internas e externas e, além das matérias formais da época, receberiam lições de francês, alemão e espanhol, bordado, costura e música instrumental e vocal. Para uma escola de orientação católica, o interessante era que as aulas de doutrina cristã eram facultativas.


Logomarca atual da Companhia de Maria

Enquanto as aulas transcorriam no endereço provisório, as irmãs, sob a liderança da diretora Madre Maria Dolores Rosas Sanmiguel, providenciavam a construção de um grande prédio empreitado pelo engenheiro-arquiteto Emílio Bonnet.

A pedra fundamental do edifício foi lançada em 13 de janeiro de 1918, com grande assistência e sofisticado cerimonial. O jornal O Commercio, em data de 16 de janeiro, diz o seguinte:

Às 18h30, já estando reunido, no Bairro Rio Branco, grande número de exmas. famílias e cavalheiros, chegou uma banda musical, vindo também, na mesma ocasião, membros da Irmandade Conjunta e da Irmandade do Rosário devidamente uniformizados.
Depois de ter a banda musical tocado algumas peças, foram acesas, às 18h45, as velas para o ato, segurando-as e servindo assim de paraninfos o Dr. Balthazar de Bem e a exma. Sra. D. Maria Manoela Pereira da Cunha.
Em seguida, o revmo. padre Luiz Scortegagna, vigário da paróquia, procedeu à bênção solene da pedra, auxiliado pelo diácono Armando Teixeira.

A matéria do jornal cita o discurso proferido por Antônio Antunes de Araújo, em nome da diretora, e detalha o lançamento da pedra fundamental:

Dr. Antônio Antunes de Araújo - lápide no Cemitério das Irmandades

Às 18h55 o Dr. Balthazar de Bem deitou, no vácuo destinado à pedra, a qual tinha o volume de cerca de ¼ metro cúbico, a primeira colher de argamassa, e ato contínuo os operários Pedro Faria e João Garcia, sob as ordens do engenheiro-construtor Dr. Emilio Bonnet, rolaram a pedra benzida ao lugar destinado, situado no ângulo esquerdo, à frente do edifício.
Na parte superior da pedra estava preparado um vácuo, onde foi depositada uma latinha de folha de flandres, contendo moedas da época atual, sendo também colocado um exemplar do Mignon e outro d’O Commercio na referida cavidade.

O jornal conclui a matéria parabenizando a Madre Maria Dolores pela numerosa assistência ao ato solene.

O fato é que a construção, que parecia ser vultosa, esbarrou na carência de recursos das irmãs. Em meados de 1918, diante da quase paralisação, a cidade, que se ressentia de um internato para meninas, tentou apoiar as empreendedoras. Formou-se, para o fim de angariar donativos, uma comissão de senhoras que organizou um “bando precatório”. Mesmo com as dificuldades e ainda estando as obras inconclusas, o Instituto já funcionava no prédio do Bairro Rio Branco. Para arrecadação de recursos, as freiras noticiavam aceitar encomendas de pintura a óleo, aquarela, do tipo Zip, bordados em enxovais de noivas, ornamentos, etc.

E eis que em 1919, sem maiores explicações, a imprensa divulga uma grande nota intitulada Declaração necessária, em que Irmã Margarida Ross revela ter sido comunicada pelo bispo diocesano que deveria fechar a escola e se retirar para a Espanha, de onde era oriunda, com as demais irmãs.

Eis a nota publicada n’O Commercio de 30 de abril de 1919:

Declaração necessária. Manda-me o Exmo. e Revmo. Bispo Diocesano declarar a todos a quem interessar possa que o Instituto do S. Coração de Jesus, fundado na cidade de Cachoeira, deste Bispado, pelas Monjas da Companhia de Maria, três em número, e das quais era Superiora a Revda. Madre Maria Dolores Rosas, extinguiu-se, de pleno direito, desde dezembro do ano próximo findo, data em que as ditas religiosas foram convidadas a recolher-se ao seu Convento, em Solsona, Espanha. Não se iludam os interessados e o público com anúncios e outros escritos que ultimamente se tem publicado em jornais daquela cidade. A signatária que ora se firma – Irmã Margarida, ora Irmã Margarida Ross, não pode mais, com verdade, alegar direitos que só à comunidade pertenciam, comunidade da qual infelizmente se desligou por ato de escandalosa e notória desobediência e rebelião contra os seus legítimos superiores. Santa Maria, 22 de abril de 1919.

A esta declaração, que parece ter sido feita à revelia da religiosa, sucedeu-se um a pedido da Irmã Margarida:

A pedido. A declaração necessária. Provavelmente a pedido do Rev. Vigário desta Paróquia foi estampada na última edição desta folha, como extraída do Boletim Diocesano, uma "declaração necessária" em que se me atribui o papel de intrujona e um ato de "escandalosa e notória desobediência e rebelião contra meus legítimos superiores". A dureza das expressões e os vexatórios conceitos dessa publicação impõem-me o dever da defesa. Com a possível concisão, vou, pois, relatar os fatos que, até aqui, constituem a história da fundação do Instituto do S. C. de Jesus, nesta cidade, dos quais resultou a minha atitude, agora tão asperamente condenada. Em 1916 aqui cheguei em companhia da Rev. Madre Dolores, procedente de uma casa da nossa Ordem, na República Argentina, onde, desde a nossa chegada de Espanha, trabalhamos cerca de três anos em dois dos nossos colégios, e de onde trouxemos algumas economias. Logo em seguida, começamos a trabalhar estabelecendo aulas com o prestante concurso de distintas e piedosas moças desta cidade, tais como as Srtas. Zeca Fialho, Cecília Vargas, Mimosa Porto Fontoura, Lucilia Porciúncula e outras, cujos nomes e cujas intenções religiosas manda a gratidão e a justiça que se recordem. Animadas por tão bom acolhimento e por uma coleta de 3:600$ anteriormente feita, destinada ao primeiro colégio de irmãs que aqui se fundasse, cogitamos para logo da fundação do Instituto do S. C. de Jesus, confeccionando os respectivos estatutos que, devidamente legalizados, foram registrados, adquirindo a nossa associação personalidade jurídica, e, cuja então diretora Rev. Madre Dolores Rosas, empreendeu, em seguida, a construção do prédio hoje existente no Bairro Rio Branco, empreitando-o por 30 contos, com um engenheiro-construtor, consagrando o respectivo contrato a cláusula de concluí-lo em março de 1918. Infelizmente, por diversas circunstâncias que agora não vem muito ao caso, o referido empreiteiro, mesmo fora daquele prazo, não deu o edifício concluído apesar de já ter recebido, para esse fim, entre prestações adiantadas e fornecimento de materiais e outros concursos, o valor de mais de 30 contos. Entretanto, em novembro do ano passado, o governo municipal nos ordenou o fechamento das aulas, assim como todas as da cidade foram obrigadas a fechar devido à gripe. Após vieram as férias. Lutando com as dificuldades da construção e com as provenientes de suspensão das nossas aulas, preparávamo-nos para reabri-las no começo deste ano no edifício próprio quando a Rev. Madre diretora, instada pelo Rev. Padre Luiz, teve de ir a Santa Maria entender-se com o bispo diocesano. Ali chegada, foi ela surpreendida com a seguinte ordem de S. Excia. Rev.: retirar-se sem perda de tempo, antes do fim do mês, com as Irmãs do Instituto para a Espanha ou Argentina, transmitindo ela, legalmente, ao Rev. Pe. Luiz o patrimônio do mesmo Instituto e assumindo a Diocese a responsabilidade das dívidas orçadas, então, em uns sete contos. O motivo era, disse-lhe S. Excia., ter recebido carta de Salsona da qual se inferia não poderem vir irmãs para o Instituto de Cachoeira. A Madre Dolores, de regresso, bem que muito decepcionada, tratou de fazer a transmissão ordenada, mas quando pô-la em prática defrontou com a impossibilidade oposta pela lei civil reguladora das instituições desta natureza; isto é, o Instituto não se extinguira legalmente de modo a poder passar o seu patrimônio ao domínio da Mitra Diocesana, segundo o modo previsto nos estatutos. Tudo isso foi comunicado ao Monsenhor que, em resposta às rogativas da Rev. Madre e outros ilustres cidadãos de Cachoeira, opôs sempre a mais severa inflexibilidade. Não podendo cumprir a ordem e, também por isso, não podendo obter recursos para a viagem das três irmãs, a Madre não sabia que fazer. Não podia ficar porque passava por desobediência. Não podia ir porque não tinha recursos. Em vista dessa indecisão, S. Excia. Sr. Bispo baixou um decreto marcando o prazo improrrogável de 30 dias para a Madre e suas duas irmãs abandonarem esta cidade, recolhendo-se a qualquer convento, fora da Diocese, por ter, dizia o decreto, fracassado o Instituto em vista de não poderem vir mais irmãs. Esse prazo foi, porém, prorrogado por duas vezes diante das circunstâncias fortuitas acima referidas: não poder transmitir o patrimônio e não haver, por isso, recursos para o nosso transporte. Diante de tal emergência, S.E. Rev. autorizou a Madre a vender o edifício, abrindo mão do seu direito ao patrimônio. A lei, entretanto, vedava à Madre a venda, visto como os estatutos não lhe davam poderes para isso, nem mesmo o de gravar os bens do Instituto. Mas ainda assim a constante pressão sobre ela exercida obrigou-a a praticar uma ilegalidade, vendendo, em leilão público, todo o mobiliário, utensílios do Instituto. Com o produto dessa venda é que ela pôde retirar-se, deixando à provável execução dos credores somente o edifício. Resumidamente é esta a história da nossa fundação. Resta-me agora dizer as razões porque fiquei, persistindo no objetivo de completar o edifício do S. C. de Jesus, resgatando-o das dívidas. Embora me atingisse o decreto da expulsão, com ele não me conformei. Primeiro, porque o motivo nele alegado de não nos quererem mandar mais irmãs, era a esse tempo e ainda agora o é, contrariado por cartas das nossas casas da Argentina e Espanha, manifestando desejos de virem boas professoras o que já teriam feito se a Diocese o permitisse. Forçoso seria concluir que outra seria a causa e não essa. Mas qual? Naturalmente um motivo vexatório para nós, que a munificência de S. E. Rev. aprouve ocultar sob aquele. (...) Muito me pesa ser obrigada a trazer a público este assunto, pois aqui ficando e dedicando-me exclusivamente ao serviço do Instituto, através de todas as dificuldades, tinha esperança de que o Sr. Bispo, a cuja respeitável autoridade muito desejo abrigar-me, melhor informado modificaria por fim a sua atitude em relação ao Instituto de Cachoeira. Cachoeira, 1.º de maio de 1919. Irmã Margarida Ross.” (O Comércio, 7/5/1919, p. 2).

Seis anos depois, a Intendência Municipal publicou um edital de concorrência pública para venda do terreno** no Bairro Rio Branco, Rua Comendador Fontoura, onde estava construído um prédio de alvenaria de tijolos, de dois andares, não terminado... O único proponente, Dr. Alfredo Papay, foi o adquirente pelo valor de 35:000$000.

O que teria acontecido? Que crime as irmãs cometeram? Que desaforo fizeram ao Pe. Luiz Scortegagna? As brumas do tempo ainda não trouxeram a resposta.

Pe. Luiz Scortegagna - Fototeca Museu Municipa

*A chegada das irmãs da Companhia de Maria em Cachoeira parece ter sido uma pioneira tentativa de estabelecimento no país. Somente em 1936 a congregação chegou oficialmente ao Brasil, com dois grupos de irmãs. O primeiro estabeleceu-se no interior de São Paulo e o segundo no Rio de Janeiro, onde mantém escolas até nossos dias.
**O Instituto Sagrado Coração de Jesus ocupava o terreno onde hoje está um edifício residencial.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O octogenário Cine-Teatro Coliseu

Muitos querem que ele sucumba, desapareça com seu aspecto de abandono e dê lugar a qualquer coisa sem história, sem forma, sem graça. Outros lutam para manter a sua memória, dando valor à fachada art-decó que foi a sensação da cidade a partir daquele 17 de fevereiro de 1938, quando suas portas se abriram para que o público embevecido assistisse ao filme inaugural São Francisco - a cidade do pecado.

Inauguração do Cine-Teatro Coliseu - 17/2/1938
O prefeito Reinaldo Roesch descerrando a fita inaugural do Cine-Teatro Coliseu
- Fototeca Museu Municipal
Letreiro - Foto Renato F. Thomsen

80 anos se passaram desde aquele dia. Muitas glórias o Cine-Teatro Coliseu viveu e muitos papéis desempenhou na vida de Cachoeira, excedendo o de simples casa de exibições cinematográficas para ser palco de peças teatrais, de conferências, audições musicais, de formaturas e discursos políticos. Sem contar o quanto povoa o imaginário das gerações que tiveram oportunidade de disputar suas poltronas nas sucessivas sessões ofertadas.

Hoje a discussão paira sobre o pouco que sobrou de sua estrutura magnífica e os incômodos advindos de uma edificação abandonada, o que representa simplificação da sua importância e minimização do valor de sua presença na paisagem urbana.

Fachada art-decó - Foto Renato F. Thomsen

Neste fevereiro de 2018, quando o Cine-Teatro Coliseu atingiu seus 80 anos de inauguração, vale ressaltar que este outrora luxuoso palco de espetáculos poderá ter vários e diversos usos, já tendo sido tema de trabalhos acadêmicos de arquitetura que sonharam para ele dignidade e inserção na vida da comunidade. 

O velho cinema espera pela redenção de sua existência e se hoje ostenta triste figura, certamente é porque os responsáveis por sua estrutura só o tiveram em conta quando por suas bilheterias soavam moedas em profusão, pagamento justo daqueles que buscavam no seu escuro salão as lindas luzes da ribalta.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Das pipas às torneiras

No verão, quando o calor nos assola, lembramos o quanto abrir uma torneira é bom! Este simples e corriqueiro ato, quase automático, desperta nada além da instantânea sensação de vermos escorrer a água para atendimento da necessidade premente...

Mas há 100 anos este conforto era sequer cogitado. A água chegava às casas através de poços abertos nos pátios das casas que contavam com algum veio d’água e para os demais através do serviço dos pipeiros, aguadeiros, ou vendedores de água.

Aguadeiro em Porto Alegre - ronaldofotografia.blogspot.com.br

Esse serviço tinha seu preço – e seus inconvenientes. O consumidor precisava ter claro o quanto necessitaria do precioso líquido para não ser pego de surpresa e ficar sem o suficiente para o consumo; precisava também de vasilhas para acondicioná-lo. Talvez venha daí o hábito das casas terem talhas de barro com tampas, que havia de vários tamanhos. Aos que tinham poços a tarefa era de encher todas as talhas da casa ao anoitecer. Aos que dependiam do pipeiro, necessário era ter o dinheiro disponível para mais um pedido.

Talhas - poesiadomeujeito.blogspot.com.br

Logicamente que água estocada era artigo de luxo. E seu uso precisava ser comedido. Banhos não podiam ser tomados a toda hora; célebres são as memórias dos mais antigos que contam que os banhos “gerais”, ou seja, do corpo todo e cabeça, só às quartas e sábados – para os mais esbanjadores. Normalmente o dono da casa, ao chegar do trabalho, lavava os pés, para os quais havia até toalha especial, em tamanho intermediário entre a toalha de rosto – que normalmente ficava junto ao jarro e à bacia no quarto – e a de banho. Estas toalhas eram de linho ou algodão; sendo que as famílias mais abastadas costumavam adorná-las com bordados e franjas – tarefa das moças casadoiras.

Mas voltemos ao serviço dos pipeiros. Em 26 de dezembro de 1917, o jornal O Commercio publicou uma reclamação geral de abuso dos pipeiros:

Quinta-feira última foi preso correcionalmente o preto Horacio dos Santos, prisão feita à ordem do Sr. João Antonio da Motta, atualmente no exercício do cargo de subintendente, por ter encontrado o referido pipeiro em flagrante delito de negar água a consumidores que a pediam e de ter exigido preço exagerado em uma casa que resolveu atender.
Há longos anos, todos os verões, a nossa população é submetida ao suplício de pedir água por favor e de aturar as impertinências da maioria dos pipeiros, que negam-se a fornecer água a quem não é freguês.
Acontecesse o fato do fornecedor não aparecer um ou dois dias, porque lhe adoecesse ou fugisse um burro, ficavam os fregueses na falta do precioso líquido, que tinham que sair a pedir na vizinhança, em doses homeopáticas, por não lhe fornecerem os outros pipeiros.
Presenciado tal abuso, achamos que a autoridade procedeu bem em aplicar-lhe um corretivo.
O Sr. João Motta mandou, em seguida, chamar todos os pipeiros no edifício da subintendência, tomando-lhes os nomes e os números das suas pipas e intimando-os a atenderem a todas as casas que lhes pedirem água.
Sob pena de multa, de prisão correcional e de lhes ser cassada a licença de vender água, na reincidência, todos os pipeiros são obrigados a dar de 1 a 4 barris em cada casa que exigir o líquido, podendo pedir 100 réis por barril, em vez de 50.

Além da medida de contenção do abuso, a notícia permite que se tenha ideia de onde a água era recolhida, sendo principalmente em fontes – de que a cidade era pródiga.

E segue o que O Commercio registrou:

Embora tenha havido seca, que diminuiu as águas da Fonte do Mato e da fonte do Sr. Antonio Ribeiro*, ainda temos vários mananciais d’água a leste da cidade, a rumo do arroio Amorim, que podem ser explorados.
Ultimamente, muitos pipeiros tiram água de duas fontes existentes na chácara do nosso amigo Virgilio de Abreu, situada a oeste da cidade e arrendada ao Sr. José Daniel de Magalhães.
Já se vê que não é por absoluta falta d’água que os pipeiros deixam de atender à população e sim por falta de boa vontade, aliás manifestada em verões anteriores, em que tem havido maior abundância do indispensável líquido.
Quem pedir água e não for atendido, tem, pois, o recurso de tomar o número da pipa e denunciar o condutor à autoridade administrativa, que está animada do melhor empenho de acabar com semelhante abuso, impróprio de existir numa cidade populosa e adiantada, como a nossa.

Virgílio de Abreu e família - Acervo familiar

Depois desta história, certamente pensaremos o quanto o gesto simplório de abrir uma torneira nos facilita a vida, mas também nos leva ao desperdício do cada vez mais precioso líquido!

*Antônio Ribeiro: português que fez fortuna com a venda de água em Cachoeira.