Espaços urbanos

Espaços urbanos
Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Desvendada a foto histórica

A foto descoberta por Eduardo Vieira da Cunha nos guardados do seu avô provocou um excelente exercício em busca da descoberta de que evento determinou o registro e quando ele foi feito. O interesse de muitas pessoas na bela foto é também um excelente indicativo do quanto os documentos do passado podem provocar positivas discussões, levando ao entendimento de momentos históricos que compõem a trajetória da comunidade.

Foto localizada por Eduardo Vieira da Cunha - acervo Achylles Figueiredo

Pois, ao que parece, o mistério foi solucionado e, para tal, foi fundamental e determinante a colaboração do pesquisador Coralio Bragança Pardo Cabeda, um especialista em história militar, e as excelentes informações que prestou. Anotadas as observações de Cabeda, o próximo passo foi servir-se do excepcional acervo de imprensa do Arquivo Histórico para buscar a comprovação dos dados.

Segundo ele,  a fotografia que ilustrou a última postagem  parece mostrar desfile do 3.º GIAP (3.º Grupo Independente de Artilharia Pesada) que foi transferido da Margem do Taquari (General Câmara) para Cachoeira por volta de 1928. E questiona: Por que desfile do 3.º GIAP e não do 3.º BE? Porque as viaturas da foto tracionam canhões, carros de munição e os serventes vão sentados nesses carros; a viatura seguinte, a partir da retaguarda, traciona uma peça de artilharia. A Engenharia dispunha de tração animal apenas para os carroções que transportavam os pontões e estes não aparecem na foto. 

Lançando mão das suposições do pesquisador, o volume de 1928 do jornal O Commercio foi fonte natural de consulta. Nele, edição do dia 12 de setembro de 1928, matéria de capa, foi encontrada a seguinte notícia:

Passou, sexta-feira última, mais um aniversário da independência do Brasil.

O comércio local não abriu as portas, sendo embandeiradas as repartições públicas, as casas bancárias e outros estabelecimentos, inclusive a redação desta folha.

Às 9 horas efetuou-se, na Igreja Matriz, uma solene missa pró-Pátria que teve numerosíssima assistência de povo, comparecendo  também os alunos e professores do Colégio Elementar e de outros institutos locais de ensino.

Em seguida, os alunos do Colégio Elementar efetuaram uma passeata pelos principais pontos da cidade, volvendo ao edifício respectivo, onde fez uso da palavra a professora Olympia de Paula e foram vocalizados hinos patrióticos pela meninada.

Às 10 horas realizou-se uma parada na Praça Balthazar de Bem, com a assistência de excelentíssimas famílias, cavalheiros e populares, formando o 3.º Batalhão de Engenharia, o Grupo Independente de Artilharia Pesada, o Tiro de Guerra 254 e o Destacamento da Brigada Militar do Estado.

O Sr. tenente-coronel Barbosa Lisboa, comandante geral das forças federais aqui aquarteladas, passou revista a esse contingente militar que, em seguida, dirigiu-se para a Rua 7 de Setembro, onde desfilou, à frente do Clube Comercial, perante o comando e a oficialidade da guarnição que se achavam na sacada daquele clube.

Continuando a marcha pela Rua 7 de Setembro, a rumo sul, o 3.º B. E. entrou, depois, para a Rua Saldanha Marinho e dali dirigiu-se aos seus quartéis enquanto o G.I.A.P. ficou na Praça Balthazar de Bem, onde deu, ao meio-dia, as 21 salvas de estilo.

Esse grupo deu as mesmas descargas às 6 horas da manhã, à frente dos seus quartéis e, igualmente às 6 horas da tarde.

Também na Praça José Bonifácio, defronte à Avenida, por ocasião do desfile da tropa, foi numerosa a aglomeração de povo, dirigindo-se uma grande parte ainda à Praça Balthazar de Bem, onde o G.I.A.P. permaneceu durante uma hora com os seus carros, guarnecidos e tirados por belos animais.

Ao meio-dia terminaram as comemorações públicas que foram protegidas por bom tempo.

A tarde caiu chuva, porém em quantidade menor que a observada na tarde de 7 de setembro do ano passado.

Uma nota publicada em 11 de abril de 1928 confirma que o GIAP estava aquartelado em Cachoeira. Primeira confirmação. Passada a informação para o pesquisador Cabeda, eis a sua resposta: o texto parece coincidir com o desfile militar fixado na foto. O 3.º GIAP aderiu à Revolução de 1930. Era unidade importante da 3.ª Região Militar, porque penso fosse a única unidade de artilharia pesada do Rio Grande do Sul à época, o que a tornava desejável. As mudanças de denominação dessa unidade acompanharam a evolução do Exército Brasileiro, passando de unidade hipomóvel a motorizada.

Desvendada a foto histórica! Que venham outras para desafiar memórias, associar conhecimentos e disseminar a importância da valorização da nossa história.

Agradecimentos especiais à colaboração valiosa de Coralio Cabeda! 

sábado, 26 de agosto de 2017

Desvendando uma foto histórica

O porto-alegrense de origem cachoeirense Eduardo Vieira da Cunha localizou entre os guardados de seu avô, Achylles Figueiredo, uma raríssima foto que registra uma movimentação de tropas na Rua Sete de Setembro. A partir das evidências da imagem teve início um exercício de tentativa de desvendamento do momento histórico que suscitou o registro.

Foto a ser desvendada - acervo particular Eduardo Vieira da Cunha


Eduardo observou que não há nenhum veículo automotivo na foto; os soldados que aparecem são, em parte, conduzidos por carroções. Há uma grande concentração de pessoas que parecem acompanhar o cortejo militar pela rua principal. A conformação urbana e os trajes remetem ao final da década de 1920, início de 1930.

A via é a Rua Sete de Setembro. No canto esquerdo da foto, em primeiro plano, o perfil de um prédio imponente que tudo indica seja o do Banco da Província, obra inaugurada em setembro de 1927 e que hoje abriga a Câmara de Vereadores, na esquina com a Rua Andrade Neves. No lado oposto ao do Banco da Província, vê-se a placa do Café Paulista.


O Café Paulista, de Manoel Costa Júnior, foi inaugurado em 14 de junho de 1920, no prédio onde funcionava a Mensageria Chic. A pintura interna foi feita por Alcides Ávila e o nome do estabelecimento foi escolhido por concurso público. O Café Paulista abrigava três bilhares e servia bebidas e café, além de doces e cigarros. Para a distração dos seus frequentadores, possuía um grupo musical dirigido pelo pianista Álvaro Gusmão. Em 1924, Manoel Costa Júnior admitiu Luiz Teixeira como sócio e em março do ano seguinte o Café Paulista foi vendido para Angelo Costa, passando à denominação de Café e Bilhar Paulista.



Adiante do Café Paulista vê-se uma placa indicativa de confeitaria, porém o nome do estabelecimento está ilegível. Seria a Confeitaria Avenida, comprada por Felipe Moser a Carlos Wolf em agosto de 1916? Ou a Confeitaria de Olívio H. Costa, adquirida em 1921 de Luiz Ruschel?


Infelizmente a resolução da foto não permite a leitura das placas subsequentes. A primeira depois da confeitaria parece dizer Casa de Meias. A única loja do gênero até a presente data levantada na Rua Sete de Setembro, pertencente a Paulo Boaz e localizada no número 219, teria se mudado para a Rua Conde de Porto Alegre, esquina 1.º de Março, em abril de 1927.

Com relação ao aspecto da Rua Sete, nota-se que parece já estar calçada com paralelepípedos, obra mandada executar pelo vice-intendente (em exercício do cargo de intendente) Dr. João Neves da Fontoura em 1926/1927. Também é possível verificar a existência de postes “Nova Lux”, inovação também introduzida durante a administração do Dr. João Neves. Esses postes, importados dos Estados Unidos, foram inaugurados na Rua Sete em 14 de julho de 1927.


E para finalizar: que evento militar foi este? Um desfile de tropas militares da guarnição local em data cívica? Estavam os militares se dirigindo à Intendência Municipal, local de comemorações festivas e cívicas? Procediam da estação ferroviária? Tais perguntas, ainda sem resposta, poderão ser brevemente respondidas... Ou ainda povoarão nosso imaginário por mais um tanto de tempo?


sábado, 5 de agosto de 2017

Nomes, atos e registros

Há 197 anos, quando o Ouvidor Geral e Corregedor Joaquim Bernardino de Sena Ribeiro da Costa mandou reunir o povo e os “homens de bem” da freguesia no local de levantamento do pelourinho, aqueles que tiveram o privilégio de deixar suas assinaturas no primeiro livro da nossa história deviam estar cheios de expectativas. Finalmente a povoação, ainda acanhada em suas instalações e dependente de Rio Pardo, poderia andar com suas próprias pernas e gerenciar seus negócios. A caminhada foi longa, grandes os desafios e dificuldades que se verificaram naqueles primeiros tempos da Vila Nova de São João da Cachoeira.

Assinatura de Joaquim Bernardino de Senna Ribeiro da Costa - 1820
- Acervo documental Arquivo Histórico do Município

O tempo cumpriu sua marcha, como tem que ser. A distância temporal entre 1820 e 2017 dilui-se graças à história e aos documentos produzidos nesse longo período. Não estivessem eles preservados, o abismo entre os dois períodos jogaria todos num vazio histórico desprovido de nomes, atos e registros.

Neste 5 de agosto de 2017, Cachoeira do Sul pode-se orgulhar de recontar aquele 5 de agosto de 1820 e buscar nos nomes e atos daquele dia o registro da história político-administrativa graças a importantes instituições municipais de cultura: o Arquivo Histórico e o Museu Municipal.

Criado justa e propositalmente num dia 5 de agosto, no ano de 1987, o Arquivo Histórico é depositário da documentação histórica conservada desde então. Referência não só para Cachoeira do Sul, mas para todos os municípios que se emanciparam do imenso território dos domínios iniciais, o Arquivo guarda com zelo e disponibiliza com critério e responsabilidade os registros que remetem aos homens e atos que tiveram o compromisso de levar a Vila até que se tornasse Cidade e assim por diante, construindo o caminho que desembocou neste dia 5 de agosto de 2017.

Logo criado por Giancarlo Borges - 2008



O Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima, vitrine dos nomes, atos e registros da nossa história, instalado no recém-restaurado prédio do Paço Municipal, ressaltará e valorizará a capacidade de materialização do imenso conteúdo histórico que o passado nos legou.

Logo criado por Cristianno Caetano




Mas a história vive de nomes, atos e registros. Se o correr do tempo encaminha-nos brevemente para o bicentenário desta terra, necessário e justo é que se registre que adentramos definitivamente numa nova era de valorização e difusão de nossa memória graças à ação voluntária e visionária de um grupo de cidadãos que emprestam seus nomes para grandes atos, sensibilizando a comunidade e o poder público municipal. Que fique o justo registro: Movimento pela Restauração do Paço Municipal e Museu no Paço já!