Espaços urbanos

Espaços urbanos
Catedral Nossa Senhora da Conceição - foto Robispierre Giuliani

domingo, 3 de agosto de 2025

Ernst Julius Rieth

Em 31 de julho de 1945 falecia, no interior do município de Cachoeira do Sul, o arquiteto alemão que deixou um legado de obras públicas e particulares, muitas das quais ainda existentes. Trata-se de Ernst Julius Rieth, ou apenas Júlio Rieth, nascido em 1.º de abril de 1871 em Neuenhaus. 

Julius Rieth - Acervo familiar

Na sua necrologia, publicada no Jornal do Povo, edição de 2 de agosto de 1945, é possível perceber sua inserção na comunidade cachoeirense:

Júlio Rieth. Faleceu repentinamente em Marupiara, no exercício de sua profissão, o Sr. Júlio Rieth, engenheiro construtor residente nesta cidade. Júlio Rieth nascera na Alemanha, mas já há uns 30 anos estava radicado no Brasil. Era casado com a Exma. Sra. D. Frida Rieth e deste matrimônio deixou os seguintes filhos: Kurt Rieth, atualmente residindo na Alemanha, Ernesto Júlio Rieth, casado com a Exma. Sra. D. Wanda Horbe Rieth, e a senhorinha Hildegard Rieth. Sua morte ocorreu quando trabalhava em Rincão da Porta, às 8 horas e meia do dia 31 de julho p. p., na construção de uma casa para o Sr. Ervino Hamann. Os atos de sua encomendação e sepultamento realizaram-se ontem, saindo o féretro da casa mortuária, sita à Rua Nova, para o Cemitério Municipal. Júlio Rieth, espírito trabalhador e profissional competente, era bastante estimado nesta cidade. (p. 4).

O jornal O Comércio também repercutiu a sua morte na edição do dia 8 de agosto de 1945:

Necrologia no jornal O Commercio, 8/8/1945, p. 1 - Acervo de Imprensa do AHMCS

Na ocasião do seu falecimento, Júlio Rieth estava trabalhando na construção da ponte sobre o arroio Irapuá, uma das tantas obras públicas executadas por ele para o governo municipal. 

Sua formação foi obtida na Koenigliche Baukewerkschule, de Stuttgart, onde ingressou em 1901. Depois de formado, trabalhou em obras na mesma cidade, deixando um legado construtivo importante, inclusive um conjunto de prédios que sobreviveram à II Guerra Mundial e são hoje tombados.

Em 1914 emigrou para o Brasil, fixando-se depois em Cachoeira. Em 1918, seu nome estava associado aos do engenheiro civil Hans von Hof e do engenheiro-arquiteto Ernesto Schlosser, que mantinham escritório à Rua 1.º de Março. Em 1925, era sócio de Roberto Jagnow em escritório de engenharia que foi responsável, dentre outras, pelas obras de construção do Armazém de Paschoal Gazzaneo, do Cine-Teatro Coliseu e da Casa Alaggio, todos na Rua 7 de Setembro.

Casa Alaggio - Rua 7 de Setembro - MMEL

Cine-Teatro Coliseu - Rua 7 de Setembro - foto Renato Thomsen

Outra importante obra arquitetada por Julius Rieth foi o primeiro prédio do Colégio Imaculada Conceição (1927), hoje Totem, no Bairro Santo Antônio. 

Projeto do Colégio Imaculada Conceição - MMEL

Várias residências ainda existentes na cidade têm a assinatura do engenheiro-construtor, dentre elas a famosa Casa 500, cuja reforma que lhe deu a feição atual foi por ele executada em 1917 para o então proprietário Djalma Pereira da Silva. A casa anterior a esta reforma pertenceu ao Comendador Antônio Vicente da Fontoura, localizada na esquina das ruas 7 de Setembro com Conde de Porto Alegre.

Casa 500 - foto Renato Thomsen

Maiores informações sobre este grande e ilustre engenheiro-construtor alemão, que se radicou e faleceu em Cachoeira do Sul, deixando um legado impressionante, podem ser encontradas no trabalho da arquiteta Vera Grieneisen no link: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/85915/000909483.pdf?sequence=1&isAllowed=y

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Coletividade

Em algum momento da história de Cachoeira do Sul o senso de coletividade foi perdido. Pautas importantes para a cidade não têm hoje a importância que teriam para gerações passadas. Certamente vários fatores contribuíram para o arrefecimento da união, com claro prejuízo ao desenvolvimento municipal. Tal constatação se torna mais realista quando vemos desaparecer um cidadão que talvez tenha sido uma das últimas lideranças imbuídas do espírito da coletividade, do bem comum e não apenas das vantagens individuais: Dr. Julio Cezar Mandangaran Caspani.

Dr. Julio Cezar Mandagaran Caspani - Acervo familiar

Nossa história tem vários exemplos de união em torno de interesses que se tornariam importantes para o conjunto de cidadãos. Um dos mais expressivos é certamente o de criação e instalação do Hospital de Caridade, ideia que foi lançada pelo advogado Ernesto Barros, em 1903, e que conquistou e segue conquistando toda a cidade. É o HCB a maior prova da capacidade coletiva do povo cachoeirense. 

Hospital de Caridade e Beneficência - foto Renato Thomsen

Outro exemplo foi a iniciativa tomada em 1912 por industriais, comerciantes e poder público no intuito da construção de uma ponte que permitisse a travessia do rio Jacuí, uma vez que a ponte construída no passo geral do mesmo rio não existia mais desde o final do século XIX. A obra sonhada em 1912, que só aconteceria a partir da década de 1950 e resultaria na Ponte do Fandango, beneficiou e segue beneficiando, indistintamente, tanto o empresário, o produtor, quanto os cidadãos comuns que necessitam dela para seus deslocamentos.

Ponte do Fandango - foto Jorge Ritter

Entidades foram, por muito tempo, carreadoras de ideias que beneficiavam a comunidade, mas parece que até elas se fecharam em torno dos interesses de sua representação, de forma que vivemos em um mundo corporativista e, portanto, excludente ao invés de ser inclusivo e coletivo. 

Em 1935, problemas na viação férrea, responsável pelo principal meio de transporte da época, juntamente com o fluvial, provocou reação da Associação Comercial de Cachoeira, antecessora da CACISC - Câmara de Agronegócio, Comércio, Indústrias e Serviços. Por conta da falta de transporte para o arroz, então o principal produto da economia cachoeirense, o presidente da Associação Comercial, Júlio Castagnino, enviou telegrama à Federação da Associação Comercial, em Porto Alegre. O presidente, representando seus pares, solicitava intervenção junto ao diretor de tráfego da Viação Férrea para o fornecimento imediato de nove carros previamente solicitados à estação local para carregamento de arroz destinado ao Paraná. A demora no transporte, segundo justificava Júlio Castagnino, prejudicava o comércio do arroz cachoeirense que sofria concorrência dos produtores paulistas, além da ameaça dos destinatários de anularem as compras.

Por outro lado, também em função do mesmo problema com a viação férrea, uma comissão da Associação dos Varejistas, de olho na possibilidade da criação da estrada de ferro Pelotas - Cachoeira, que faria da nossa cidade ponto terminal da linha férrea que ligaria o porto de Rio Grande ao centro do estado, dirigiu-se ao comandante da guarnição local, autoridade no assunto. Ernesto Pertille Filho, presidente da Associação dos Varejistas, acompanhado de Orlando da Cunha Carlos, Patrício de Albuquerque, Pedro Bopp e Jacy Bidone saíram com a resposta de que o comandante estava à disposição para colaborar nos estudos do assunto. 

Largo da Estação Ferroviária - MMEL

A história mostra que as demandas de 1935 não se concretizaram a pleno. Os problemas com o transporte ferroviário persistiram, ainda que por este meio muita riqueza tenha sido levada e trazida, culminando com a sua paulatina substituição pelo transporte rodoviário. Quanto à linha Cachoeira - Pelotas, também ficou apenas no campo das ideias. Se tivesse se concretizado certamente o panorama teria sido outro e, quem sabe, até sustentasse por mais tempo as linhas de trens que atravessavam e uniam o país.  

Outras causas ganharam grupos diversos, algumas vencedoras, como o estabelecimento da UERGS, da UFSM e a união de cidadãos em torno da preservação de bens culturais, como a Ponte de Pedra e o Paço Municipal, para citar movimentos mais recentes. 

UERGS Cachoeira do Sul - foto Renato Thomsen

UFSM - Campus Cachoeira do Sul - foto Renato Thomsen

E agora, pelo transcurso da 25.ª FENARROZ, maior evento que o município organiza e que só acontece porque há união de cidadãos a seu favor, somos convidados, como comunidade, a unir esforços para torná-la grande e reconhecida novamente. Se quisermos o seu fortalecimento e retomada de protagonismo na área orizícola, se buscamos o desenvolvimento e o fortalecimento de nossa economia, cultura e sociedade teremos que pensar como conjunto, pois só assim realizaremos o que almejamos. Inspiremo-nos no exemplo do Dr. Caspani, sempre otimista e disposto a abraçar causas que visavam o bem comum.


domingo, 18 de maio de 2025

Católicos X Metodistas

Nestes tempos de escolha do novo Papa, momento de grande visibilidade para a Igreja Católica, vamos rememorar um embate que se verificou em Cachoeira, iniciado pelo Padre Luiz Scortegagna, pároco da Igreja Matriz, que provocou reação do Reverendo Eduardo Menna Barreto Jayme, pastor da Igreja Metodista.

Pe. Luiz Scortegagna - 1923
- Acervo Família Abreu

O caso se deu em maio de 1918, exatamente no ano em que os metodistas estavam arregimentando forças para erguer seu templo em Cachoeira. Na edição do dia 22 de maio, O Commercio publicou, na Seção Livre, um comunicado do Padre Luiz Scortegagna que referia ter o Pastor E. Menna Barreto Jayme dirigido a muitos católicos cachoeirenses cartas circulares "pedindo óbolos para construção, nesta cidade, de um templo metodista." No mesmo comunicado, o Pe. Scortegagna prevenia aos fiéis que os metodistas faziam "parte de uma das trezentas e tantas seitas norte-americanas, diferentes umas das outras e todas inimigas da nossa santa religião católica, sempre imutável na substância, a quem o nosso querido Brasil deve o glorioso passado." E conclui o escrito acrescentando: "Disse Nosso Senhor Jesus Cristo (Mat. cap. 12, versículo 30): Quem não é comigo, é contra mim."

O Reverendo Eduardo Menna Barreto Jayme não deixou por menos e mandou publicar, no mesmo jornal, edição de 29 de maio, sua reação às palavras do Pe. Scortegagna, também na Seção Livre. Na sua mensagem, dirigiu-se ao "amável" Pe. Luiz Scortegagna e ao boletim que mandou distribuir na cidade  sobre fazerem os metodistas "parte de uma das trezentas e tantas seitas norte-americanas", dizendo que era muito natural que as pessoas contribuíssem para a construção de uma igreja, independente do credo. E disse mais ao padre: que "milhões de dólares" estavam "enviando os norte-americanos para socorrer, generosamente, os católicos romanos da Bélgica e da Itália, com evangélica tolerância dos metodistas". Segue na sua defesa afirmando que o denominacionalismo* protestante não provava que os metodistas não eram bem intencionados e sinceros e que os povos protestantes se caracterizavam pela "liberdade de consciência" e que, naquela hora "de suprema dor na Europa", se irmanavam com os povos católicos. 

A suprema dor referida pelo Pastor Eduardo M. B. Jayme representava o horror que a Europa estava vivendo com a Primeira Guerra Mundial. E para demonstrar mais seu incômodo com as palavras publicadas pelo padre católico, afirmou não ser a Igreja Metodista uma seita norte-americana e que a própria Igreja Católica tinha ordens que "nem em tudo estiveram acordes", como os dominicanos e franciscanos que se dividiram quase cinco séculos na discussão do dogma de Nossa Senhora. Para arrematar, invocando também as escrituras, disse: "Ide, pregai o Evangelho a toda criatura", dizendo ter o padre quebrado o mandamento "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo", do capítulo 20 do Êxodo. E, no fecho do seu escrito, deixou bem claro o porquê das publicações: "Sua Revma., o amável vigário desta paróquia, está despeitadíssimo!"  
                                                                                                                    
A julgar pelo cessar de notícias nas próximas edições do jornal O Commercio, parece que nenhum dos dois condutores locais da Igreja Católica e da Igreja Metodista quis jogar mais lenha na fogueira. O fato é que, lançada a pedra fundamental do templo metodista, em 6 de abril de 1919, foi o mesmo solenemente inaugurado em 31 de agosto daquele ano, com comparecimento numeroso. 

Igreja Metodista original - Rua Moron - MMEL


Na notícia que circulou no O Commercio de 3 de setembro de 1919, a informação de que "foi construído com toda a solidez, de modo a constituir uma obra durável, tendo a nossa população contribuído com uma soma considerável para o custeio das despesas de edificação" pode sugerir que de fato os metodistas conquistaram muitos apoiadores ao seu intento. Por aqueles tempos, a comunidade metodista de Cachoeira era considerável, o que explica a rapidez com que a obra foi concluída. 

Comunidade metodista reunida à frente da igreja - MMEL

Em tempos de ecumenismo, muito provavelmente a atitude dos dois condutores das comunidades católica e metodista não teria lugar nos dias de hoje.

*Denominacionalismo: reconhecimento da  legitimidade de diferentes grupos cristãos, com as suas próprias crenças, práticas e tradições, como parte da mesma fé, segundo a Wikipédia.
 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

João Domingos

A história que trago hoje é de família. 

Há 90 anos, num 25 de abril de 1935, João Domingos Machado deixava este mundo. Era jovem, cheio de vida e sonhos, especialmente porque tinha uma pequena e amorosa família, composta da mulher e do filho pequenino. A morte tirou-lhe todas as oportunidades, inclusive a de poder contar a própria história.

João Domingos Machado


Para homenageá-lo, reproduzo abaixo esta crônica de memória, originalmente publicada na Coletânea Escritores da Aurora, da Academia Cachoeirense de Letras. 

João Domingos

Mirian R. M. Ritzel

João Domingos faz parte daquelas pessoas que eu gostaria de ter conhecido. Pouco sei dele e este pouco vinha das memórias de outros, cujos destinos o tempo concretizou há eras. Portanto, sua imagem provém de fotografias em preto-e-branco, posadas para ambulantes que percorriam os rincões do Rio Grande com uma velha máquina em tripé e um pano pintado que usavam de fundo. Quando a foto era “batida”, uma explosão se anunciava pelo estouro e a fumaça. Mas que perfeição de registros! O moço era bem apanhado nos traços, cabelo farto, olhar marcante. Os ternos sugerem que o tecido de que eram confeccionados fosse o linho, denunciado pelo amarrotado. As mãos parecem grandes para o restante do corpo. Talvez efeito do muito que trabalharam.

João Domingos era arrimo de irmãos que ficaram na orfandade ainda crianças. Cedo teve que buscar trabalho para levar o pão de cada dia àqueles infelizes desassistidos: Ana Francisca, Antônio e José. Não era fácil a vida de órfãos no começo do século XX, pois o país não tinha ainda adotado a legislação que disciplinou o trabalho e deu garantias aos trabalhadores e seus dependentes. O que sei de sua história é que bem jovem trabalhava numa empresa de arroz da zona distrital do município de Cachoeira, granjeando algum sucesso, pois atingiu o posto de capataz.

Também não sei como nem quando, João Domingos se interessou numa mocinha bonita, de estatura pequena, tez morena clara, cabelos lisos e escorridos, bem apropriados para o corte “à la garçonne”. Seu nome era Dorildes. Como quase todas as mulheres de seu tempo, Dorildes era analfabeta, mas sabia costurar. Será que o lindo vestido com que aparece nas fotos, assim como os das suas irmãs, eram feitio dela? O modelo, igual para todas, era moda nos anos 1920, bem ao estilo das chamadas “melindrosas”. De corte reto, o vestido ganhava graça na faixa que amarrava a saia nos quadris. Também um frufru terminando em laço no decote ajudava a alongar a silhueta. Nas pernas, reluzentes meias de seda e, para arrematar, sapatos de tira e fivela sobre o dorso dos pés.

Dorildes e João Domingos
João Domingos, Dorildes e a irmã Aurora da Luz

Creio que ambos se apaixonaram. Nunca ninguém me contou isto, mas as esparsas histórias que ouvi sobre eles sinalizam que havia amor na união que se concretizou depois. A data do casamento, como foi, onde aconteceu ficaram perdidos em memórias que não chegaram até mim. O fato é que em 22 de maio de 1932 Dorildes deu à luz o filho Waldicyr. Menino moreno, forte. Muitas vezes a jovem mãe ficou sozinha com o filho, pois cedo João Domingos tomava rumo da empresa, onde as tarefas nas lavouras de arroz o aguardavam. Será que ele agenciava trabalhadores, fazia os devidos registros e os orientava? Ou tinha tarefas mais práticas, como consertar equipamentos, abrir taipas, semear ou colher o grão? Muitas vezes me angustio com tantas perguntas e quase nenhuma resposta.

O fato é que ela contou para sua nora que João Domingos nunca voltava para casa sem um mimo. Nem que fosse um buquê destas singelas flores que nascem no meio do capim dos caminhos. De mãos abanando ele não chegava.

Numa noite de muito temporal, frio e ventania, como é comum no descompassado tempo do Rio Grande, Dorildes perdeu o pai. João Domingos assumiu o compromisso de providenciar tudo o que fosse necessário para as exéquias do sogro. Andou de um lado para o outro, tomou toda a chuva, tiritou de frio, mas cumpriu suas obrigações, dando sepultura digna ao pai de sua Dorildes.

A juventude não é garantia de nada, especialmente da saúde. Os problemas respiratórios logo vieram para João Domingos. Primeiro foi a tosse, o peito roncando, as secreções que logo se tomaram de sangue. Vieram para Cachoeira buscar tratamento médico. O diagnóstico veio logo: pleurisia. Difícil enfermidade para tempos em que os recursos da medicina eram escassos, os remédios fracos. O quadro se agravou e uma cirurgia foi feita pelos doutores José Félix Garcia e David Fontoura de Barcellos. Provavelmente uma drenagem de líquido dos pulmões. Surtiu algum efeito, apesar das dores e das febres. Com o auxílio da esperança.

João Domingos morreu. Nem a juventude, nem o amor de sua Dorildes,  nem o desvelo dos médicos resolveram a situação. Mais uma vez a espada da orfandade sobre o seu destino, ou melhor, sobre o destino do seu único filho. Chegaram a levar o menino para ver o pai no esquife, gravando na memória do pequenino a única imagem que carregou de João Domingos pelo resto de seus dias...

Esta é uma história cheia de lacunas. Mais do que isto, esta é uma história que mostra o quão difícil é reconstituir algo de que não se tem ninguém que possa juntar os fios da meada ou fornecer pistas para completar o quadro de uma vida, de várias vidas, da história de uma família.

João Domingos era o meu avô. E eu não posso, por mais que queira, completar a sua história.

2/9/2024