Uma
casa que abrigasse espaço para as reuniões dos vereadores, que acomodasse suas
alfaias* e ainda pudesse dispor de aposentos para a justiça e para a cadeia era
uma das maiores demandas das autoridades desde a instalação da Vila Nova de São
João da Cachoeira em 5 de agosto de 1820. Os pobres cofres municipais tinham
que desembolsar aluguéis diferenciados para a casa das sessões e para a cadeia,
situação que perdurou por mais de quatro décadas, sacrificando outros investimentos necessários.
Depois
de vários anos de tentativas, de acertos e desacertos entre a municipalidade e
a província, em 30 de outubro de 1860 a Câmara Municipal decidiu publicar
edital para recebimento de propostas de empreiteiros que tivessem interesse em
contratar a obra de construção da Casa de Câmara, Júri e Cadeia, projetada pelo
Major de Engenharia José Maria Pereira de Campos.
Uma das mais antigas imagens do Paço Municipal - ao lado o primeiro teatro - fototeca Museu Municipal |
A
única proposta recebida, mesmo que ferindo o regimento da Câmara, foi submetida
ao governo da Província e aceita: a do vereador Ferminiano Pereira Soares, ao
custo de quarenta e cinco contos, oitocentos e sessenta e três mil e oitocentos
e sessenta réis. Vencida a burocracia da época, desapropriação dos terrenos e
indenização dos proprietários, entre março e abril de 1861 tiveram início as
obras.
Data da conclusão da obra no frontão - foto Renate S. Aguiar |
A
construção da Casa de Câmara, Júri e Cadeia levou quatro anos e consumiu
certamente a saúde do empreiteiro Ferminiano. Sua morte, em meados de 1865,
talvez tenha sido apressada pelos percalços do empreendimento, pelos
investimentos feitos às suas expensas e pela espera de quitação do valor contratado,
já que durante todo o tempo da construção ele recebeu apenas dezenove contos de
réis do montante. A diferença foi recebida por sua viúva, D. Carlota Pereira de
Lima, sendo integralizada somente em julho de 1868!
Estas
são apenas algumas poucas páginas de uma história rica, cujo levantamento só
foi possível graças à existência da documentação preservada pelo Arquivo
Histórico do Município.
As
paredes do velho prédio abrigaram por muito tempo os três poderes e a cadeia, acompanharam
as mudanças das estruturas administrativas e das formas de governo e deram
corpo às diferentes denominações que o sobrado teve: Casa de Câmara, Júri e
Cadeia, Intendência e Prefeitura Municipal. Hoje, revigorado pela restauração,
o prédio tem sido chamado Paço Municipal, forma que parece dar ao magnífico
sobrado as dimensões histórica e simbólica que ele nunca deixará de ter.
O Paço Municipal em processo de pintura - fotos Renato F. Thomsen www.pontedepedra.blogspot.com.br |
*alfaia: qualquer móvel ou utensílio utilizado em uma casa; adorno; paramento.
mais uma vez Mirian parabéns pela pesquisa da nossa história. Achei no Arquivo Público do RGS, uma planta baixa do prédio da Casa de Camara e Cadeia, que não corresponde à do prédio que está em restauro.
ResponderExcluira pergunta que vem é como se encaixa na história esta planta baixa. O projeto teria sido modificado antes ou depois da licitação?
Adoro este blog! Grata Mirian!
ResponderExcluirEsta planta do Arquivo Público, de nosso conhecimento, não foi a executada. Em 1835, Johann Martin Buff, o mesmo que confeccionaria a primeira planta da cidade da Cachoeira (1850), projetou uma casa de Câmara, Júri e Cadeia para Cachoeira. Seria esta? Não consta assinatura...
ResponderExcluirDescobri este blog pesquisando sobre emancipação de Cachoeira, em minhas pesquisas sobre a história de Rio Pardo. Teria conhecimento da área de Cachoeira quando da emancipação?
ResponderExcluirParabéns a todos que de uma forma inteligente retratam nossa história! Estou aprendendo muito com seu Blog! Milton Martins - Cachoeira do Sul - RS.
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