Espaços urbanos

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Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Esquina da sétima arte

No ano de 1910, os irmãos Pohlmann, conhecidos por sua engenhosidade e inventividade, abriram o CINEMA FAMILIAR, inaugurando o endereço na Praça José Bonifácio que por décadas poderia ser apropriadamente chamado de esquina da sétima arte.
O Cinema Familiar era coberto com pano, possuía 360 lugares e seis camarotes. Suas dimensões abrangiam 29,70 metros por 16,20 metros. E, guardadas as dificuldades da época, possuía luz elétrica, sendo mais do que um cinema, pois os proprietários aumentaram o espaço disponível para que companhias líricas e dramáticas pudessem também ali realizar exibições.
 Naqueles tempos, grandes companhias circulavam pelo sul em razão da facilidade de acesso que a linha férrea proporcionava. Artistas oriundos dos países do Prata e mesmo de outros grandes centros desembarcavam por aqui. As ferrovias, como se vê, eram muito mais do que simples meios de mobilidade, prestando o excepcional serviço de levar e trazer cultura aos mais distantes recantos.
O empreendimento dos irmãos Pohlmann, já então com o ingresso de outro sócio, Felippe Moser, não durou muito. Em 2 de outubro de 1912 foi vendido para a Empresa Figueiró, numa transação de 17:000$000 de réis. De Familiar trocou o nome para CINEMA COLISEU CACHOEIRENSE.

Esquina da sétima arte
- Grande Álbum de Cachoeira, de Benjamin Camozato (1922)

Naturalmente os novos proprietários introduziram outras melhorias, como trabalhos de pintura realizados pelo artista Carlos Nery Pereira, que teve o cuidado de colorir o forro com fundo claro, favorecendo a iluminação. Os camarotes foram fartamente iluminados e um ventilador elétrico foi afixado no centro da plateia.
Em novembro de 1912 ocorreu a inauguração e em abril do ano seguinte houve a aquisição de um piano elétrico, na verdade um piano comum que continha dentro da sua caixa um mecanismo elétrico que movia automaticamente as teclas, tocando “as mais interessantes músicas de reputados autores”, como registrou o jornal Rio Grande de 20 de abril de 1913. Na inauguração do piano, a plateia pôde ouvir “Viúva Alegre”, “Casta Suzana”, “Barão de Ciganos” e outros “que deliciaram os espectadores”!
Em 1913, Manoel Costa Júnior aparecia na imprensa como representante da Empresa Figueiró, proprietária do cinema, tendo sido ele responsável por grandes melhorias naquela casa de espetáculo, anexando a ela um bar, o Ponto Chic, e um restaurante denominado Colyseu.

Cinema Coliseu Cachoeirense, à esquerda. No fundo, o Banco da Província
em construção - 1927 - fototeca Museu Municipal

Em 1915, o cinema passou a utilizar um aparelho elétrico para exibição dos filmes. Também naquele ano, Manoel Costa Júnior resolveu organizar programas a preços populares em mais de uma sessão diária, pois por aquela época o cinema estava se firmando como excelente opção de lazer e entretenimento, tornando a Praça José Bonifácio definitivamente o ponto de encontro dos cachoeirenses de então.

Movimentação defronte ao Cinema Coliseu Cachoeirense
- fototeca Museu Municipal

Em julho de 1921, Manoel Costa Júnior vendeu o Cinema Coliseu Cachoeirense para Henrique Comassetto. Começava aí outro período que desembocaria, anos mais tarde, na inauguração do Cine Teatro Coliseu, deixando a esquina da Praça José Bonifácio de ser tradicional ponto da sétima arte.

Com estas postagens sobre a rica história do cinema em Cachoeira, o blog homenageia Ruben Otto Prass, memória viva e ativa da sétima arte, cujo nome será dado a mais nova sala de exibição da cidade.


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