O porto-alegrense de origem cachoeirense Eduardo Vieira da Cunha localizou entre os guardados de seu avô,
Achylles Figueiredo, uma raríssima foto que registra uma movimentação de tropas
na Rua Sete de Setembro. A partir das evidências da imagem teve início um
exercício de tentativa de desvendamento do momento histórico que suscitou o
registro.
Foto a ser desvendada - acervo particular Eduardo Vieira da Cunha |
Eduardo
observou que não há nenhum veículo automotivo na foto; os soldados que aparecem
são, em parte, conduzidos por carroções. Há uma grande concentração de pessoas
que parecem acompanhar o cortejo militar pela rua principal. A conformação
urbana e os trajes remetem ao final da década de 1920, início de
1930.
A
via é a Rua Sete de Setembro. No canto esquerdo da foto, em primeiro plano, o
perfil de um prédio imponente que tudo indica seja o do Banco da Província,
obra inaugurada em setembro de 1927 e que hoje abriga a Câmara de Vereadores,
na esquina com a Rua Andrade Neves. No lado oposto ao do Banco da Província,
vê-se a placa do Café Paulista.
O
Café Paulista, de Manoel Costa Júnior, foi inaugurado em 14 de junho de 1920,
no prédio onde funcionava a Mensageria Chic. A pintura interna foi feita por
Alcides Ávila e o nome do estabelecimento foi escolhido por concurso público. O
Café Paulista abrigava três bilhares e servia bebidas e café, além de doces e
cigarros. Para a distração dos seus frequentadores, possuía um grupo musical
dirigido pelo pianista Álvaro Gusmão. Em 1924, Manoel Costa Júnior admitiu Luiz
Teixeira como sócio e em março do ano seguinte o Café Paulista foi vendido para
Angelo Costa, passando à denominação de Café e Bilhar Paulista.
Adiante
do Café Paulista vê-se uma placa indicativa de confeitaria, porém o nome do
estabelecimento está ilegível. Seria a Confeitaria Avenida, comprada por Felipe
Moser a Carlos Wolf em agosto de 1916? Ou a Confeitaria de Olívio H. Costa, adquirida
em 1921 de Luiz Ruschel?
Infelizmente
a resolução da foto não permite a leitura das placas subsequentes. A primeira depois
da confeitaria parece dizer Casa de Meias. A única loja do gênero até a
presente data levantada na Rua Sete de Setembro, pertencente a Paulo Boaz e
localizada no número 219, teria se mudado para a Rua Conde de Porto Alegre,
esquina 1.º de Março, em abril de 1927.
Com
relação ao aspecto da Rua Sete, nota-se que parece já estar calçada com
paralelepípedos, obra mandada executar pelo vice-intendente (em exercício do
cargo de intendente) Dr. João Neves da Fontoura em 1926/1927. Também é possível
verificar a existência de postes “Nova Lux”, inovação também introduzida
durante a administração do Dr. João Neves. Esses postes, importados dos Estados
Unidos, foram inaugurados na Rua Sete em 14 de julho de 1927.
E
para finalizar: que evento militar foi este? Um desfile de tropas militares da
guarnição local em data cívica? Estavam os militares se dirigindo à Intendência
Municipal, local de comemorações festivas e cívicas? Procediam da estação
ferroviária? Tais perguntas, ainda sem resposta, poderão ser brevemente
respondidas... Ou ainda povoarão nosso imaginário por mais um tanto de tempo?
Sou pesquisador escrevendo sobre a memória dos imigrantes sírios e libaneses no RS e percebi que há uma razoável concentração desses imigrantes em Cachoeira do Sul desde o início do século XX, mas especialmente a partir da década de 1930. Vi também que há pelo menos três ruas na cidade com nome desses árabes e quiçá algum já foi Prefeito da cidade (a exemplo de muitos municípios gaúchos como Porto Alegre, Bagé, Passo Fundo, Rio Grande, Pelotas e Santa Maria, entre outros). Existe algo que você sabe e pode me passar? Um livro de memória, um crime, algum 'turco' que se tornou famoso, alguma curiosidade? Agradeço desde já pela cooperação.
ResponderExcluirJulio
Meus avós maternos vieram da Síria, e chegaram na cidade em meados de 1913. Podemos conversar para passar mais detalhes. Contatos podem ser feitos pelos fones (51) 37223211 ou 999971991.
ExcluirBelo trabalho Mírian! Parabéns!
ResponderExcluirÉ essa arquitetura ainda existe, por exemplo, a porta principal do JORNAL DO POVO.
ResponderExcluirQue beleza de trabalho!
ResponderExcluirA grande movimentação não poderia ser por conta da Revolução de 1930? É apenas um palpite, mas poderia ser verificado com registros da mobilização ocorrida na cidade. Estariam se dirigindo à estação do trem?
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