Espaços urbanos

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Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

domingo, 10 de dezembro de 2017

160 anos da imigração alemã - uma justa lembrança!

Há exatos cento e sessenta anos chegavam a Cachoeira os primeiros imigrantes alemães. A sensação da chegada deve ter sido de estupefação, não apenas pela maneira quase trágica de seu desembarque às margens do rio Jacuí, mas também pela paisagem e perspectivas que se descortinavam.

Logo depois da Independência do Brasil, o Imperador Pedro I, incentivado pela imperatriz D. Leopoldina e ciente da necessidade que o país tinha de elemento humano para auxiliar no povoamento de tão extenso território, promoveu a vinda de súditos alemães, oferecendo-lhes terras e meios para delas tirarem o seu sustento. Em contrapartida, essas áreas acelerariam o seu processo de desenvolvimento social e econômico.

D. Leopoldina e D. Pedro I - www.rodrigotrespach.com

Em Cachoeira, as tratativas para a chegada de alemães tiveram início com a determinação do presidente da Província do Rio Grande de São Pedro, Manuel Antônio Galvão, de que a Câmara Municipal informasse qual o local mais apropriado para instalar os colonos. Em julho de 1847, a comissão formada para decidir a questão, composta por Hilário Pereira Fortes, João Teixeira de Carvalho e Silva e Bento Antônio de Moraes, comunicou às autoridades que na margem esquerda do rio Jacuí, no lugar denominado Cerro Agudo, havia matos devolutos, com terras próprias à agricultura e para estabelecimento de uma colônia. A resposta foi encaminhada à Província... Mas dez longos anos se passaram.

Cerro Agudo - Imagem: ACISA

Retomadas as negociações, em julho de 1857 a Câmara de Cachoeira foi autorizada a contratar um agrimensor, Frederico Guilherme Wedelstaedt, para medir as terras e escolher o local para construção do barracão para alojamento inicial dos colonos. A futura colônia receberia o nome de Colônia Santo Ângelo, em homenagem ao Presidente da Província, Ângelo Muniz de Ferraz.

Finalmente, em 1º de novembro de 1857, o primeiro grupo de imigrantes, oriundos da região da Pomerânia, chegou ao local determinado. Embarcados no porto de Hamburgo, ao saberem estar perto do local de desembarque, tinham a expectativa de avistar o “porto da Colônia”. Logo perceberam que não existia porto algum... Decepcionados, quiseram desistir e voltar. Mas o cansaço da viagem e a ilusão da “terra prometida” fizeram-nos descer do vapor D. Pedro e dar uma espiada no lugar. Viram apenas mata fechada e não puderam divisar o horizonte. Desolados, voltaram para o vapor e, surpresa maior, verificaram que o barco zarpara, deixando descarregadas suas bagagens.

Cais do porto de Hamburgo no século XIX - http://www.sundfeld.meiovirtual.net

Aqueles desavisados primeiros alemães eram das famílias de Franz Pötter, August Pötter, Julius Neujahr, Daniel Fiess, Wilhelm Holz e Peter Finger. Um segundo grupo de colonos chegou em 25 de novembro de 1857, permanecendo alguns dias na Vila de Cachoeira à espera de conduções para chegarem à colônia. Era constituído de treze famílias: Roggenbach, Bartz, Streeck, Fenner, Leusin, Wilke, Roos, Laasch, Ritter, Seubert, Becker, Graffunder e o solteiro Herrmann Raatz. O terceiro e último grupo a chegar, conduzido pelo Barão von Kalden, era composto por alemães que tinham lutado pelo Império Brasileiro – os “Brummer”- na guerra contra o ditador argentino Rosas. Eram eles: August Brendler, Heinrich Haidmann, Wilhelm Köhn, Heinrich Eckert, Karl Koblens, Karl Homrich, Heinrich Ehlers, Wilhelm Buckow, Luiz Berger e Luiz Zimmermann.

Barão von Kalden - Editora Werlang

Pedro Rockenbach, menino alemão que vivenciou a mudança para o Brasil, deixou relatadas as situações acima descritas. Ao segundo grupo de colonos ele atribuiu mais sorte, porque quando chegou o barracão já estava erguido, embora ainda sem divisórias e aberturas. O terceiro grupo, composto por homens que estavam acostumados às aventuras na América, foi mais previdente: veio a cavalo para verificar a situação antes de se estabelecer.

Cento e sessenta anos depois, a antiga Colônia Santo Ângelo desmembrou-se em vários municípios, todos jovens ainda, mas com uma rica cultura alicerçada no trabalho e nas tradições de homens e mulheres que trouxeram da Europa um modo de vida que imprimiu diferenças significativas a este pedaço do Brasil. Quanto a Cachoeira, cujas terras abrigaram a Colônia Santo Ângelo, muito proveito obteve da imigração e deve aos sobrenomes alemães muitos de seus principais impulsos.

A todos os descendentes destes bravos: Ein Prosit!

10 comentários:

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  2. Sou colega de Cordula Eckert, filha de Kurt Benno Eckert. Pastor por muitos anos da comunidade evangélica luterana de Cachoeira.

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    1. Sim, conheci o pastor Eckert. Era uma referência para os luteranos e publicou alguns livros sobre a história da comunidade alemã. Abraço.

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  3. Por favor, há mais alguma informação sobre Herrmann Raatz? Onde posso conseguir informações adicionais, Mirian? Herrmann Raatz é bisavô da minha mãe. Ela perdeu o pai aos 2 anos e tem muita curiosidade em saber sobre suas origens.
    Se você puder me ajudar, eu ficaria muito grata.
    Parabéns pelo blog.

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  4. Olá! Estou fazendo.a árvore genealógica da minha família. Meu bisavô materno era de Cachoeira do Sul. O nome dele era Carlos Schultz e a esposa Otilia Yann. Residiram até a década de 30 nessa cidade. Tem algum museu das famílias alemãs ou registro público que eu possa consultar? Desde já agradeço a atenção.

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