Há
exatos cento e sessenta anos chegavam a Cachoeira os primeiros imigrantes alemães.
A sensação da chegada deve ter sido de estupefação, não apenas pela maneira
quase trágica de seu desembarque às margens do rio Jacuí, mas também pela
paisagem e perspectivas que se descortinavam.
Logo
depois da Independência do Brasil, o Imperador Pedro I, incentivado pela
imperatriz D. Leopoldina e ciente da necessidade que o país tinha de elemento
humano para auxiliar no povoamento de tão extenso território, promoveu a vinda
de súditos alemães, oferecendo-lhes terras e meios para delas tirarem o seu
sustento. Em contrapartida, essas áreas acelerariam o seu processo de
desenvolvimento social e econômico.
D. Leopoldina e D. Pedro I - www.rodrigotrespach.com |
Em
Cachoeira, as tratativas para a chegada de alemães tiveram início com a
determinação do presidente da Província do Rio Grande de São Pedro, Manuel
Antônio Galvão, de que a Câmara Municipal informasse qual o local mais
apropriado para instalar os colonos. Em julho de 1847, a comissão formada
para decidir a questão, composta por Hilário Pereira Fortes, João Teixeira de
Carvalho e Silva e Bento Antônio de Moraes, comunicou às autoridades que na
margem esquerda do rio Jacuí, no lugar denominado Cerro Agudo, havia matos devolutos,
com terras próprias à agricultura e para estabelecimento de uma colônia. A
resposta foi encaminhada à Província... Mas dez longos anos se passaram.
Cerro Agudo - Imagem: ACISA |
Retomadas
as negociações, em julho de 1857 a Câmara de Cachoeira foi autorizada a
contratar um agrimensor, Frederico Guilherme Wedelstaedt, para medir as terras
e escolher o local para construção do barracão para alojamento inicial dos
colonos. A futura colônia receberia o nome de Colônia Santo Ângelo, em
homenagem ao Presidente da Província, Ângelo Muniz de Ferraz.
Finalmente,
em 1º de novembro de 1857, o primeiro grupo de imigrantes, oriundos da região
da Pomerânia, chegou ao local determinado. Embarcados no porto de Hamburgo, ao
saberem estar perto do local de desembarque, tinham a expectativa de avistar o
“porto da Colônia”. Logo perceberam que não existia porto algum... Decepcionados,
quiseram desistir e voltar. Mas o cansaço da viagem e a ilusão da “terra
prometida” fizeram-nos descer do vapor D. Pedro e dar uma espiada no lugar.
Viram apenas mata fechada e não puderam divisar o horizonte. Desolados,
voltaram para o vapor e, surpresa maior, verificaram que o barco zarpara,
deixando descarregadas suas bagagens.
Cais do porto de Hamburgo no século XIX - http://www.sundfeld.meiovirtual.net |
Aqueles
desavisados primeiros alemães eram das famílias de Franz Pötter, August Pötter,
Julius Neujahr, Daniel Fiess, Wilhelm Holz e Peter Finger. Um segundo grupo de
colonos chegou em 25 de novembro de 1857, permanecendo alguns dias na Vila de
Cachoeira à espera de conduções para chegarem à colônia. Era constituído de
treze famílias: Roggenbach, Bartz, Streeck, Fenner, Leusin, Wilke, Roos,
Laasch, Ritter, Seubert, Becker, Graffunder e o solteiro Herrmann Raatz. O
terceiro e último grupo a chegar, conduzido pelo Barão von Kalden, era composto
por alemães que tinham lutado pelo Império Brasileiro – os “Brummer”- na guerra
contra o ditador argentino Rosas. Eram eles: August Brendler, Heinrich
Haidmann, Wilhelm Köhn, Heinrich Eckert, Karl Koblens, Karl Homrich, Heinrich
Ehlers, Wilhelm Buckow, Luiz Berger e Luiz Zimmermann.
Barão von Kalden - Editora Werlang |
Pedro
Rockenbach, menino alemão que vivenciou a mudança para o Brasil, deixou
relatadas as situações acima descritas. Ao segundo grupo de colonos ele atribuiu mais sorte,
porque quando chegou o barracão já estava erguido, embora ainda sem divisórias
e aberturas. O terceiro grupo, composto por homens que estavam acostumados às
aventuras na América, foi mais previdente: veio a cavalo para verificar a situação
antes de se estabelecer.
Cento
e sessenta anos depois, a antiga Colônia Santo Ângelo desmembrou-se em vários
municípios, todos jovens ainda, mas com uma rica cultura alicerçada no trabalho
e nas tradições de homens e mulheres que trouxeram da Europa um modo de vida que
imprimiu diferenças significativas a este pedaço do Brasil. Quanto a Cachoeira,
cujas terras abrigaram a Colônia Santo Ângelo, muito proveito obteve da imigração
e deve aos sobrenomes alemães muitos de seus principais impulsos.
A
todos os descendentes destes bravos: Ein Prosit!
Ein prosit!
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Excluirbela historia de bravos.
ResponderExcluirSou colega de Cordula Eckert, filha de Kurt Benno Eckert. Pastor por muitos anos da comunidade evangélica luterana de Cachoeira.
ResponderExcluirSim, conheci o pastor Eckert. Era uma referência para os luteranos e publicou alguns livros sobre a história da comunidade alemã. Abraço.
ExcluirVim pelo grupo de genealogia no FB
ResponderExcluirObrigada!
ResponderExcluirPor favor, há mais alguma informação sobre Herrmann Raatz? Onde posso conseguir informações adicionais, Mirian? Herrmann Raatz é bisavô da minha mãe. Ela perdeu o pai aos 2 anos e tem muita curiosidade em saber sobre suas origens.
ResponderExcluirSe você puder me ajudar, eu ficaria muito grata.
Parabéns pelo blog.
Olá! Estou fazendo.a árvore genealógica da minha família. Meu bisavô materno era de Cachoeira do Sul. O nome dele era Carlos Schultz e a esposa Otilia Yann. Residiram até a década de 30 nessa cidade. Tem algum museu das famílias alemãs ou registro público que eu possa consultar? Desde já agradeço a atenção.
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