Espaços urbanos

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Centro Histórico - foto Catiele Fortes

domingo, 13 de março de 2022

Série: Registros fotográficos incríveis - IV - Engenhos de arroz - Grande Engenho Central

A Série: Registros fotográficos incríveis chega à sua quarta edição, desta vez enfocando antigos engenhos de arroz, em grande parte responsáveis pelo incremento na economia de Cachoeira, especialmente a partir do começo do século XX. Como há imagens de vários e diferentes engenhos de arroz, esta série será subdivida, começando pelo Grande Engenho Central, cujas ruínas reapareceram em razão da seca experimentada nos primeiros meses de 2022.

Como das outras edições, a série conta com o auxílio imprescindível do memorialista Claiton Nazar, dono de uma invejável coleção de fotografias da Cachoeira antiga e conhecedor não só da arte de fotografar, como também da cultura orizícola, engenheiro agrônomo que é de formação.

Do primeiro engenho de arroz da história de Cachoeira não há registro fotográfico conhecido, embora dentre os membros da família que o fundou, montou e operou, os Pohlmann, constem dois homens fantásticos, o fotógrafo Renoardo e seu irmão José Albino, habilidosíssimo mecânico. Talvez Renoardo tenha feito algum registro do velho engenho do pai, João Frederico Pohlmann, fundado em 1887, na Rua Sete de Setembro. Quem sabe até com uma máquina fotográfica fabricada pelo irmão? 

Uma importante fonte para buscar imagens dos primeiros engenhos de arroz é a publicação O Estado do Rio Grande do Sul, editado por Monte Domecq, em Barcelona, no ano de 1916. A obra traz informações históricas, econômicas e sociais dos principais municípios gaúchos. Pois é nela que aparece, em primeiro lugar no gênero de engenhos de arroz em Cachoeira, o Grande Engenho Central, de Aydos, Neves & Cia., localizado à margem esquerda do Jacuí, junto à rampa do porto. 

Grande Engenho Central - Monte Domecq (1916), p. 498

O Grande Engenho Central foi organizado em 1907, tendo como sócios João Aydos, Frederico Dexheimer, Eurípedes Mostardeiro, todos comerciantes em Porto Alegre, e o Coronel Isidoro Neves da Fontoura, importante liderança econômica e política de Cachoeira. A firma, sob a razão social de Aydos, Neves & Cia., iniciou com um capital de 300 contos de réis e para a instalação do engenho adquiriu uma área no local conhecido como Porto Fidêncio, à margem esquerda do rio Jacuí e ao lado do porto da Rua Moron.

Em maio de 1919, o engenho foi arrematado por Araújo, Leal & Cia., em 1921 foi vendido para Ernesto Pertille & Filho, em 1925, para Matte, Gaspary & Cia. e, em 1937, para a Brasil Arroz Ltda, de Porto Alegre. Na enchente de 1941, o Engenho Central, como então era chamado, estava sob a administração do Instituto Rio-Grandense do Arroz - IRGA.

Pelo registro da publicação referida, ano 1916, em que já aparece a exuberante chaminé de alvenaria, é possível descobrir registros fotográficos anteriores, em que ela ainda não havia sido erguida, embora haja outra que aparenta ser de metal e estar fixada mais ao centro do conjunto construtivo:

Grande Engenho Central - acervo Ernesto Müller

No registro da coleção de Ernesto Müller, percebe-se o leito seco do Jacuí, onde uma criança parece se sentar tranquilamente. Na próxima fotografia, com a inscrição 27, vê-se o Jacuí em plena capacidade para navegação tendo em vista três vapores que se postam à frente do engenho, com destaque para o de nome Santa Cruz.

Coleção Claiton Nazar

O cartão-postal que segue traz um aramado em torno da chaminé e parece ser anterior à foto acima em razão da vegetação um pouco menor.

Cartão-postal do porto e Engenho Central - Fototeca Museu Municipal


O registro seguinte enfoca o prédio de três andares em que se dava o beneficiamento do arroz:

Grande pavilhão de beneficiamento - Fototeca Museu Municipal


Nos próximos registros fotográficos, vê-se a grande chaminé de alvenaria, construída mais próximo da margem do rio:


Engenho Central administrado por Ernesto Pertille & Filho
- Coleção Claiton Nazar

Fototeca Museu Municipal

                             
Durante a grande enchente de 1941, o Engenho Central, cuja administração já tinha passado por várias mãos, ficou com suas instalações parcialmente submersas, como flagrado nos dois próximos registros:

Enchente de 1941 - Fototeca Museu Municipal

Engenho Central IRGA - Coleção Emília X. Gaspary


E por fim, uma das últimas imagens do complexo ainda com a chaminé íntegra:


Complexo do IRGA no local do antigo Engenho Central (1991)
- Foto Claiton Nazar

A grande seca que assolou o município de Cachoeira do Sul no verão de 2022 fez com que o recuo das águas do Jacuí fizesse surgir uma faixa de areia na margem esquerda fronteira às antigas instalações do engenho. Foi possível então acessar as ruínas das suas antigas instalações, verificando o quão grandioso foi este empreendimento que provou a força da lavoura orizícola cachoeirense no século XX. Os próximos registros fotográficos mostram o que restou do velho engenho em janeiro de 2022:

Foto Mirian Ritzel


Foto Méia Albuquerque



Foto Méia Albuquerque

O blog aceita contribuições fotográficas para robustecer os registros da série. Muito obrigada!

5 comentários:

  1. Que interessante! Mais um pedaço da nossa história!. Parabéns pelo registro!

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  2. Adoro! Mato um pouco da saudade, dessa minha querida Cachoeira do Sul,do Arquivo Histórico e minha colegas!bj

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  3. Sra. Ritzel sou neto do Cel. Ciro Carvalho de Abreu nome de um colégio em sua cidade meu nome é ( Rogerio Abreu ) filho de Rogerio Prunes de Abreu também nascido em Cachoeira . A sra. teria alguma historia interessante sôbre o meu avô?
    Desde já agradeço e acompanharei o seu blog que é muito interessante!
    Rogerio Abreu

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    1. Rogério, tenho algumas informações sobre o teu avô. Qualquer dia faço uma postagem relativa a ele. Abraço.

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