“Importante
é que estejamos imbuídos da convicção de que o tempo que estamos vivendo é e
deve ser social. Que o tempo é de desmistificação.” A presente frase, cheia de
significado contemporâneo foi escrita há 21 anos pela museóloga Lya Wilhelm.
Demonstra, no conteúdo e na forma, o quão prospectivo era o pensamento desta
cachoeirense que poderia ter ganhado o mundo, tal a qualidade de sua formação,
mas que preferiu investir na sua cidade o grande capital intelectual que
possuía.
Lya Wilhelm e Mirian Ritzel nos 30 anos do Museu Municipal - 2008 |
No momento
em que Cachoeira do Sul comemora os 35 anos de seu Museu Municipal, é imperioso
que o nome de Lya Wilhelm seja reverenciado, pois coube a ela não apenas a sua organização
e funcionamento; coube-lhe muito mais: a definição da linha museológica e
museográfica, conceitos ainda novos para o Brasil do final da década de 1970,
quiçá para uma cidade do interior do Rio Grande do Sul.
Dentro da
concepção de Lya, formada em Filosofia pela Ufrgs, com especialização em
Pedagogia Social, na Alemanha, e em Tecnologia Educacional pela PUCRS, “o museu
deveria ser um laboratório que promovesse pesquisas, estudos práticos e
teóricos de interesse da população cachoeirense, um conservatório para guardar,
conservar e valorizar os bens culturais, uma escola capaz de formar homens
críticos, que apreendam melhor os problemas de seu meio e da sua cultura, um
catalisador de iniciativas e ações comunitárias e um campo de descentralização
e emergência dos grupos minoritários”. Incrível clarividência!
E Lya
Wilhelm ainda vai além: “a disseminação da consciência museológica deve
afastar, cada vez mais, da ideia sacral de que o museu é uma vitrine de objetos
representativos para uma elite do ter, do saber e do poder, onde não se
encontra a vida cotidiana e os problemas reais das populações concernentes; que
a história é a contada pelos vencedores.”
Seu
pensamento avançado em termos museais, naturalmente o era também nas questões
de preservação dos bens culturais. Foi ela pioneira na educação patrimonial,
tornando-se ativista da preservação, fundadora e primeira presidente do
Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural – Compahc. Quando a nossa
velha Estação Ferroviária teve noticiada a demolição, alçou sua voz, juntamente
com Eluiza de Bem Vidal, na tentativa isolada de salvar aquele bem. Dez anos
depois, liderou os processos de tombamento, cabendo à professora Eluiza a
descrição dos primeiros bens tombados.
Muito pode
ser dito a respeito de Lya Wilhelm: sua capacidade de gestão de bens e pessoas,
sua firmeza de opinião, seu conhecimento especializado, sua dedicação às causas
da cultura de sua terra. Mas hoje cabe ressaltar uma evidência: os seus passos
arrojados e avançados dotaram Cachoeira do Sul de um museu que se tornou grande
para a cidade, apesar de já pequeno em espaço. Sua grandeza foi forjada no
pensamento de uma mulher que, à frente de seu tempo, voltava os olhos para o
passado, pois entendia que “se a história familiar é fundamental na
estruturação da personalidade de um homem, se a ausência de história familiar é
trágica para a personalidade de um indivíduo, a história de uma comunidade, de
um povo devem ser fundamentais na formação de uma geração. Não saber quem somos,
não saber de onde viemos, não termos identidade cultural nos torna presa fácil
de interesses alienígenas ou da total alienação.”
Saudades,
D. Lya!
Mirian
Ritzel, 15/12/2013 – 35.º aniversário do Museu Municipal.
Mirian : Conseguiste sintetizar a importância de D. Lya e de seu legado mais concreto: o Museu Municipal, que completa 35 anos.
ResponderExcluirObrigada! A eternidade está nas boas obras que o homem produz.
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