Seria de crer que nesta época de ambições
brutais, de mercantilismo insaciável e do egoísmo feroz, de trapaças políticas
e vergonhosos manejos comerciais, a mulher tivesse perdido muito do seu antigo
e ofuscante prestígio.
Pura ilusão. A mulher com o fascínio do
mistério da sua perpetuamente enigmática feminilidade, com a sugestão e a magia
da sua beleza, ainda reina soberana sobre o pensamento e as ambições dos
homens, ainda é instigadora de heroísmos e de baixezas, de gestos que têm a
magnificência dos ritmos imortais e de atos que amesquinham a natureza humana
até a mais baixa animalidade, porque a mulher é sombra e luz, noite e
madrugada, estrela acesa nas alturas da Idealidade e chama a crepitar em
infernos torturantes de desejo.
Boa ou má, anjo bom ou anjo mau, ilusão ou
engano, miragem encantadora ou amarga realidade, a mulher ainda conserva em
todo o esplendor inextinguível o seu prestígio dominador.
As
palavras acima, apesar da contemporaneidade, foram escritas por Angelo Guido em
1929 e servem como apresentação de um álbum reunindo as beldades rio-grandenses
que participaram do Concurso Miss Rio
Grande do Sul daquele ano.
O
concurso movimentou as principais cidades do Estado, e Cachoeira, sendo uma
delas, também enviou sua representante, a senhorita Branca Neves de Oliveira,
que juntamente com as demais concorrentes foram apresentadas em um espetáculo
realizado no Teatro São Pedro em 13 de março de 1929, evento que antecedeu a
escolha de Miss Brasil. Na apresentação, o destaque foi para a eleita dos
gaúchos, Billa Ortiz, Miss Uruguaiana.
Antes de participar da grande escolha em Porto Alegre, a representante de Cachoeira teve que passar por concurso local, tendo como concorrentes as beldades Maria Porto, a segunda colocada, e Alzira Torres, em terceiro lugar.
A escolha foi por votação popular, angariando Branca Neves de Oliveira 6.684
votos; Maria Porto 4.407 e Alzira Torres 1895.
Página do álbum que mostra a primeira e segunda colocadas do Miss Cachoeira 1929 - acervo Arquivo Histórico |
O
álbum que registrou o grande concurso estadual, organizado pelo Diário de Notícias, de Porto Alegre, é
fartamente ilustrado. Traz fotos artísticas das concorrentes das diversas cidades,
assim como textos alusivos a algumas delas, louvando seus predicados. A miss
cachoeirense ilustra duas belas páginas, revelando que os votos que recebeu
contemplaram seus predicados de beleza. Há também muitos anúncios de
patrocinadores e a relação do júri que promoveu a escolha de Miss Rio Grande do
Sul, composto por: Angelo Guido, João Pinto da Silva, Andrade Queiroz,
professor Libindo Ferrás, Dr. Mario Totta e Fernando Corona.
Branca Neves de Oliveira - Miss Cachoeira 1929 |
A candidata de Cachoeira não ficou dentre as sete primeiras colocadas, mas representou com muito brilho a beleza e graça da mulher cachoeirense, como revela a foto acima.
Este
belo e raro álbum chegou aos nossos dias pelo gesto preservacionista de alguém
que escolheu para ele melhor destino que a lata do lixo. Gestos como estes
permitem que páginas da nossa história sejam revividas e traços da nossa
cultura não sejam perdidos.
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