A cidade está comemorando os 111 anos do Hospital de
Caridade, patrimônio incontestável dos cachoeirenses, erguido à custa do
esforço de muitos cidadãos que sonhavam com uma casa de saúde que atendesse aos
doentes, fossem eles capazes ou não de pagar pelo tratamento lá recebido.
O jornal O Commercio,
edição do dia 6 de outubro de 1915, na primeira página, traz uma publicação
muito interessante dos primeiros tempos do Hospital, dando notícia sobre as
instalações do prédio que à época tinha poucos anos de funcionamento e sobre o
serviço de cirurgia, entregue a profissionais muito gabaritados para aquele
tempo. Cachoeira, como acontecia em outros segmentos, atraía para si o que
havia de ponta naquele começo de século XX.
A descrição feita pelo noticiarista, como assim era chamado,
deu-se através de visita àquela casa de saúde.
A convite do Dr. Balthazar de Bem, visitamos domingo último
o Sanatório desta cidade.
Depois das últimas reformas, o edifício oferece belo
aspecto, com amplos quartos, fartamente providos de ar e luz, água encanada,
luz elétrica, etc.
Na parte térrea existem oito quartos de primeira classe,
sala de operações dotada de um completo material cirúrgico, autoclaves e
estufas para esterilização, etc. Na parte superior do edifício ficam os quartos
de segunda classe, em número de oito, e dois grandes salões para os doentes
pobres, homens e mulheres, alojados separadamente. Cada um desses salões
comporta 15 leitos.
Na ocasião da nossa visita ali estavam dois doentes, um de
Rio Pardo e outro da Encruzilhada, recentemente submetidos a importantes e
graves operações cirúrgicas feitas pelos Drs. Campelli e Giordano, sendo
cloroformizador o Dr. Balthazar.
O Sanatório está destinado a prestar importantes serviços
não só a Cachoeira, mas aos municípios vizinhos, principalmente no que se
refere à clínica cirúrgica que para ser bem-sucedida precisa de uma instalação
especial, como se encontra no estabelecimento que visitamos.
O serviço de cirurgia está especialmente confiado aos Drs.
Campelli e Giordano. O Dr. Campelli que foi na Europa assistente das clínicas
cirúrgicas de Pavia e de ortopedia do professor Hoff de Berlim, é hoje talvez o
médico de maior popularidade do Estado. Chegando ao Encantado há poucos anos,
completamente desconhecido, o Dr. Campelli conseguiu uma rápida celebridade
pelo brilho de suas felizes e ousadas operações. A sua fama encheu todo o
Estado, e a sua clínica reuniu doentes das mais longínquas regiões do nosso
território. Cirurgião habilíssimo, clínico de vasta erudição, o Dr. Campelli é
ainda um cavalheiro que encanta pelos predicados de uma aprimorada educação.
O professor Dr. Henrique Giordano, cirurgião dos Hospitais
Reunidos e dos Peregrinos de Nápoles, jovem ainda destacou-se como uma das
figuras de mais competência e autoridade no meio científico onde trabalhava,
adquirindo invejável renome por ter apresentado, em 1902, ao Congresso do
Cairo, um operado de costura no coração perfeitamente restabelecido, e cuja
fotografia publicamos.
Guglielmo Irattini,
o operado, com 26 anos na época da cirurgia (1902)
- Coleção d'O Commercio - acervo do Arquivo Histórico -
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Esse triunfo, operando sobre uma região considerada
inatacável pela cirurgia, deu ao professor Giordano uma vasta nomeada na
Europa. Os seus numerosos e importantes trabalhos honram as principais revistas
médicas da Europa.
A seu respeito o Dr. Herreras Vegas, professor de clínica
cirúrgica da Universidade de Buenos Aires, escreveu na Prensa Medica Argentina,
de 10 de agosto de 1914: “O professor Giordano, um dos mais distinguidos
cirurgiões da nova escola médica italiana diplomou-se em Nápoles em 1888. Não
podendo fazer uma enumeração de todos os seus títulos e trabalhos, que se podem
ver no seu curriculum vital, diremos apenas que conseguiu, por concurso, em
1899, o título de professor suplente de medicina operatória e, em 1900, o
título de professor de traumatologia”.
Entre as suas principais publicações, todas de
originalidade, estão: cirurgia do pericárdio e do coração (volume de 300
páginas), cujas principais conclusões foram aproveitadas por Le Dentu e Delbet,
a mais importante obra de clínica cirúrgica existente no mundo; a cirurgia do
fígado, etc.
Em 1914, o professor Giordano foi recebido no mundo
científico de Buenos Aires com honras excepcionais, sendo convidado pelos
professores da Faculdade para fazer no Hospital de Clínicas conferências sobre
feridos do coração e sobre a cirurgia das guerras modernas, conferências essas
que foram taquigrafadas e publicadas na Prensa Medica Argentina. Também por
convite fez uma comunicação sobre a cura cirúrgica dos tumores do fígado na
Sociedade Médica Argentina, da qual foi nomeado sócio honorário, distinção esta
que a mesma sociedade não tinha feito, entre os italianos, senão para os
gloriosos nomes de Durante e Navaro.
Sob o amparo da celebrada competência dos Drs. Campelli e
Giordano é que se vai iniciar a vida cirúrgica do Sanatório de Cachoeira.
Prima Mirian !
ResponderExcluirLi o que postastes, como tudo o que fazes, brilhante, obrigado por compartilhares com todos essas preciosidades.
Imagina ser anestesiado, Cloroformizado...é mole ?
Grande abraço do primo e amigo,
Hugo !
Primo Hugo, é um privilégio agradar com minhas postagens pessoa que transita com tanta tranquilidade nos assuntos da nossa história.
ResponderExcluirGrande abraço.
Mirian Ritzel
Miriam, parabéns a toda equipe do Arquivo pelo belo trabalho, que conta um pouco da história do HCB, resgatando assim o passado da nossa terra e da nossa gente.
ResponderExcluirObrigada, Rui. Já visitaste o blog do Arquivo Histórico? www.arquivohistoricodecachoeiradosul.blogspot.com.br
ResponderExcluirO da história de Cachoeira do Sul é pessoal, mas claro que me sirvo da riqueza histórica que encontro lá no Arquivo.
Abração.
Mirian Ritzel