Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Hospital de Caridade - 111 anos

A cidade está comemorando os 111 anos do Hospital de Caridade, patrimônio incontestável dos cachoeirenses, erguido à custa do esforço de muitos cidadãos que sonhavam com uma casa de saúde que atendesse aos doentes, fossem eles capazes ou não de pagar pelo tratamento lá recebido.

O jornal O Commercio, edição do dia 6 de outubro de 1915, na primeira página, traz uma publicação muito interessante dos primeiros tempos do Hospital, dando notícia sobre as instalações do prédio que à época tinha poucos anos de funcionamento e sobre o serviço de cirurgia, entregue a profissionais muito gabaritados para aquele tempo. Cachoeira, como acontecia em outros segmentos, atraía para si o que havia de ponta naquele começo de século XX.

A descrição feita pelo noticiarista, como assim era chamado, deu-se através de visita àquela casa de saúde.

A convite do Dr. Balthazar de Bem, visitamos domingo último o Sanatório desta cidade.
Depois das últimas reformas, o edifício oferece belo aspecto, com amplos quartos, fartamente providos de ar e luz, água encanada, luz elétrica, etc.
Na parte térrea existem oito quartos de primeira classe, sala de operações dotada de um completo material cirúrgico, autoclaves e estufas para esterilização, etc. Na parte superior do edifício ficam os quartos de segunda classe, em número de oito, e dois grandes salões para os doentes pobres, homens e mulheres, alojados separadamente. Cada um desses salões comporta 15 leitos.
Na ocasião da nossa visita ali estavam dois doentes, um de Rio Pardo e outro da Encruzilhada, recentemente submetidos a importantes e graves operações cirúrgicas feitas pelos Drs. Campelli e Giordano, sendo cloroformizador o Dr. Balthazar.
O Sanatório está destinado a prestar importantes serviços não só a Cachoeira, mas aos municípios vizinhos, principalmente no que se refere à clínica cirúrgica que para ser bem-sucedida precisa de uma instalação especial, como se encontra no estabelecimento que visitamos.    
O serviço de cirurgia está especialmente confiado aos Drs. Campelli e Giordano. O Dr. Campelli que foi na Europa assistente das clínicas cirúrgicas de Pavia e de ortopedia do professor Hoff de Berlim, é hoje talvez o médico de maior popularidade do Estado. Chegando ao Encantado há poucos anos, completamente desconhecido, o Dr. Campelli conseguiu uma rápida celebridade pelo brilho de suas felizes e ousadas operações. A sua fama encheu todo o Estado, e a sua clínica reuniu doentes das mais longínquas regiões do nosso território. Cirurgião habilíssimo, clínico de vasta erudição, o Dr. Campelli é ainda um cavalheiro que encanta pelos predicados de uma aprimorada educação.
O professor Dr. Henrique Giordano, cirurgião dos Hospitais Reunidos e dos Peregrinos de Nápoles, jovem ainda destacou-se como uma das figuras de mais competência e autoridade no meio científico onde trabalhava, adquirindo invejável renome por ter apresentado, em 1902, ao Congresso do Cairo, um operado de costura no coração perfeitamente restabelecido, e cuja fotografia publicamos.

Guglielmo Irattini, o operado, com 26 anos na época da cirurgia (1902)
- Coleção d'O Commercio - acervo do Arquivo Histórico -
Esse triunfo, operando sobre uma região considerada inatacável pela cirurgia, deu ao professor Giordano uma vasta nomeada na Europa. Os seus numerosos e importantes trabalhos honram as principais revistas médicas da Europa.
A seu respeito o Dr. Herreras Vegas, professor de clínica cirúrgica da Universidade de Buenos Aires, escreveu na Prensa Medica Argentina, de 10 de agosto de 1914: “O professor Giordano, um dos mais distinguidos cirurgiões da nova escola médica italiana diplomou-se em Nápoles em 1888. Não podendo fazer uma enumeração de todos os seus títulos e trabalhos, que se podem ver no seu curriculum vital, diremos apenas que conseguiu, por concurso, em 1899, o título de professor suplente de medicina operatória e, em 1900, o título de professor de traumatologia”.
Entre as suas principais publicações, todas de originalidade, estão: cirurgia do pericárdio e do coração (volume de 300 páginas), cujas principais conclusões foram aproveitadas por Le Dentu e Delbet, a mais importante obra de clínica cirúrgica existente no mundo; a cirurgia do fígado, etc.      
Em 1914, o professor Giordano foi recebido no mundo científico de Buenos Aires com honras excepcionais, sendo convidado pelos professores da Faculdade para fazer no Hospital de Clínicas conferências sobre feridos do coração e sobre a cirurgia das guerras modernas, conferências essas que foram taquigrafadas e publicadas na Prensa Medica Argentina. Também por convite fez uma comunicação sobre a cura cirúrgica dos tumores do fígado na Sociedade Médica Argentina, da qual foi nomeado sócio honorário, distinção esta que a mesma sociedade não tinha feito, entre os italianos, senão para os gloriosos nomes de Durante e Navaro.
Sob o amparo da celebrada competência dos Drs. Campelli e Giordano é que se vai iniciar a vida cirúrgica do Sanatório de Cachoeira.

4 comentários:

  1. Prima Mirian !
    Li o que postastes, como tudo o que fazes, brilhante, obrigado por compartilhares com todos essas preciosidades.
    Imagina ser anestesiado, Cloroformizado...é mole ?
    Grande abraço do primo e amigo,
    Hugo !

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  2. Primo Hugo, é um privilégio agradar com minhas postagens pessoa que transita com tanta tranquilidade nos assuntos da nossa história.
    Grande abraço.
    Mirian Ritzel

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  3. Miriam, parabéns a toda equipe do Arquivo pelo belo trabalho, que conta um pouco da história do HCB, resgatando assim o passado da nossa terra e da nossa gente.

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  4. Obrigada, Rui. Já visitaste o blog do Arquivo Histórico? www.arquivohistoricodecachoeiradosul.blogspot.com.br
    O da história de Cachoeira do Sul é pessoal, mas claro que me sirvo da riqueza histórica que encontro lá no Arquivo.

    Abração.
    Mirian Ritzel

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