Espaços urbanos

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Centro Histórico - foto Catiele Fortes

sábado, 10 de janeiro de 2015

A Praça do Patriarca

Há muito tempo a nossa praça central, a José Bonifácio, tem suscitado dúvidas a respeito da identidade de seu patrono! O ápice da confusão se deu agora, quando os taxistas da praça colocaram uma placa de identificação de Praça José Bonifácio Gomes!!!

Voltemos um pouco no tempo. A Praça José Bonifácio já teve várias denominações. A primeira delas, da época da sua delimitação (1830), foi Praça do Pelourinho, em alusão ao símbolo da autonomia municipal e local de castigos e execuções penais. Não há comprovação documental da localização do pelourinho, mas se a praça recebeu este nome é porque certamente lá que ele foi erguido.

E há uma questão a ser considerada para a instalação do pelourinho naquele local: por um costume português as cidades costumavam ter duas praças, uma religiosa e outra civil. A praça religiosa em Cachoeira era a da Igreja, hoje Praça Balthazar de Bem, e a civil, a do Pelourinho, hoje José Bonifácio. A distinção pressupunha que a religiosa abrigasse as manifestações de fé, restando à civil acomodar os instrumentos e instituições voltadas para a vida política e administrativa.

Depois de Praça do Pelourinho, aquele logradouro recebeu a denominação de Praça Ponche Verde, em alusão à pacificação da Revolução Farroupilha, celebrada em Ponche Verde (localidade no interior do atual município de Dom Pedrito) no dia 1.º de março de 1845. A data de adoção do nome Ponche Verde foi 17 de abril de 1858, por decisão da Câmara Municipal em sessão ordinária.

Mas as denominações oficiais muitas vezes são relegadas a um segundo plano pelo povo. E isto aconteceu com a José Bonifácio. Por ter sido o local em que foi construído o Mercado Público (1882), passou a ser popularmente chamado de Praça do Mercado, embora oficialmente fosse Praça Ponche Verde. Quando a cobertura vegetal de seu entorno era feita por paineiras (1908), passou a ser invocada como a Praça das Paineiras. Mas já nesse tempo ela se chamava oficialmente de Praça José Bonifácio, também sem comprovação da data de adoção do nome.

Praça do Mercado - fototeca Museu Municipal
Praça das Paineiras - fototeca Museu Municipal

Mas que José Bonifácio é este? Bem, cronologicamente falando, já o nome de José Bonifácio Gomes fica excluído do páreo, uma vez que este cachoeirense, um verdadeiro gaúcho de alma e vivência, não tinha nascido ainda quando a praça já se chamava José Bonifácio.


Então, para não esquecer: a Praça José Bonifácio homenageia José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, personagem histórica de grande relevância no tempo do Brasil Colônia, hoje pouco lembrada. Este homem foi de grande importância no período que antecedeu e sucedeu a Independência do Brasil, pois era conselheiro de D. Pedro I e foi para quem o monarca entregou a tutoria de seu filho, o menino Pedro II, quando teve que retornar a Portugal e lá assumir os compromissos com a sua pátria.

José Bonifácio de Andrada e Silva - patrono da Praça José Bonifácio

O cachoeirense José Bonifácio Gomes, homem das lides campeiras, é o patrono de um dos mais tradicionais centros de tradição gaúcha, o CTG José Bonifácio Gomes. Com muita relevância e justiça. Da mesma forma, com relevância e justiça, a praça civil de Cachoeira tem como patrono o Patriarca da Independência.

A cada José Bonifácio o seu devido lugar! A Praça é do Patriarca!

6 comentários:

  1. Muito boa a postagem como sempre, e essa relevante informação sobre serem duas praças, uma civil e outra de cunho religioso, nunca tinha lido nada a respeito, ler teu blog é cultura, obrigado.

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    1. Hugo, é muito bom saber que minhas postagens não passam despercebidas. Grande abraço!

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  2. Respostas
    1. Roberto, muito bom saber que lês o meu blog. Obrigada pelo incentivo!

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  3. Interessante ver um pouco da histórica Cachoeira do Sul, cidade a qual quero conhecer e posteriormente postar suas maravilhas arquitetônicas no meu blog...: http://raizesdaarquitetura.blogspot.com.br/

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  4. Legal, Carcamano. Vais apreciar muito as nossas riquezas arquitetônicas. Obrigada pela leitura!

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