O jornal O Commercio, mesmo extinto há quase 50 anos, tem sido uma fonte
importante para reconstituição do cotidiano de Cachoeira desde 1900, quando foi
fundado, até 1966, ano em que encerrou sua circulação.
O Commercio - edição de 17/10/1900 - acervo Arquivo Histórico |
Apelidado carinhosamente de O Comercinho, o jornal foi responsável
pelo registro dos acontecimentos mais variados da vida da comunidade e até
mesmo de fora dela, tendo abrigado em sua redação a pena de personalidades
ilustres da vida cultural e política de Cachoeira, não poucas vezes promovendo
embates políticos célebres, especialmente com seu concorrente, jornal Rio Grande.
A Typographia d’O Comércio foi instalada em Cachoeira no ano de 1897.
Seu fundador, Henrique Möller Filho, veio de São Leopoldo, onde já exercia a
atividade de tipógrafo. Aqui montou uma pequena oficina tipográfica em prédio
situado na Rua 15 de Novembro, capaz de imprimir cartões de visita,
participações, notas e cartões comerciais, folhas volantes, circulares,
recibos, estatutos, programas, papéis de todo tipo, envelopes timbrados
comerciais e particulares, além de comercializar objetos escolares,
cartões-postais, romances, livros de poesia e até sementes de hortaliças,
flores e árvores!
Em 1º de janeiro de 1900
circulou a primeira edição do jornal O
Commercio e o estabelecimento já estava na Rua Sete de Setembro. Em 31 de
julho de 1912, nova mudança, na mesma rua, desta vez em quadra fronteira à
Praça do Mercado, a José Bonifácio.
O prédio ocupado pela
tipografia e jornal foi especialmente construído para este fim, e contava com
uma seção de livraria e miudezas. Era portentoso, com uma arquitetura refinada
e decorativa. Uma lástima que tenha sido demolido, pois representaria hoje um
raro exemplar na nossa paisagem urbana. José Branco Álvares foi o construtor,
orientando os pedreiros desde os alicerces até “a incrustação das peças que
davam agradável aspecto à fachada”, como constou da edição do O Commercio de 31 de julho de 1912. Os
serviços de carpintaria foram executados por Francisco Homrich.
Esboço da fachada da Tipografia d'O Commercio - Rua Sete de Setembro - acervo Arquivo Histórico |
O jornal seguiu sua trajetória,
em sede própria, buscando abastecer seus leitores com as notícias da urbs*,
funcionando também como uma espécie de diário oficial da administração
municipal. Muitos relatórios de intendentes foram publicados, ocupando edições
sucessivas e constituindo-se em fonte histórica da vida
político-administrativa.
Escritório da Tipografia, vendo-se Henrique Möller Filho sentado à mesa - fototeca Museu Municipal |
Divulgador das mais variadas
manifestações, incluindo aspectos econômicos, sociais, políticos, culturais e religiosos,
o jornal O Commercio é fonte quase
inesgotável de possibilidades para pesquisa e análises da vida cachoeirense
durante o longo período em que circulou. Sua coleção, quase completa (faltam
alguns volumes que se perderam com o tempo) mantém-se graças à doação que os
descendentes da família de Henrique Möller Filho fizeram à comunidade, primeiro
à Câmara de Vereadores e desta para o Museu Municipal. Atualmente a coleção
integra o acervo do Arquivo Histórico do Município, assim como os demais
jornais que circularam e circulam na cidade, servindo aos interesses de
estudiosos, pesquisadores e comunidade em geral. Ainda que bem guardada,
necessita urgentemente de digitalização para evitar o manuseio dos originais,
alguns deles já em tal estado de degradação que não podem mais ser consultados.
E a comunidade é convidada a participar desta ação porque O Commercio não é apenas um jornal, é a coleção de muitas e muitas
histórias.
*urbs: cidade.
Também sou um admirador do jornal "O Commércio", onde encontrei inúmeras histórias interessantes. As necrologias são um capítulo à parte, tanto pelo modo como eram escritas quanto pelas informações que traziam. Em uma delas, a que transcrevo abaixo, menciona um dos trabalhadores que ajudaram na preparação do terreno onde foi edificado o prédio do jornal:
ResponderExcluir"Necrologia
Nas imediações do matadouro da firma Attilio Mainieri & Cia. Ltd., onde residia, veiu a fallecer, a uma hora da madrugada de sabbado penultimo [29.09.1928], o sr. Pedro Ferreira (mais conhecido pela alcunha de ‘Pedro Burro’, em razão da sua corpulencia, da sua força e do seu extraordinario animo para o trabalho), de 53 annos de idade, viúvo de Isaura Ferreira.
O extinto, que era indiático e falleceu em consequencia de insufficiencia cardio-renal, deixou três filhos do seu matrimônio: Etelvina Ferreira, de maior idade; Dionysio e Olinda Ferreira, menores.
Foi elle quem, em 1911, fez, apenas com o auxílio de um carroceiro, o desaterro do terreno em que está edificado o vasto prédio em que funcciona a typographia d'esta folha, terreno que, na extremidade oeste, tinha uma altura superior a 3 metros ao nível da rua 7 de Setembro.
Homem muito laborioso, era sempre procurado para trabalhos que requeressem força e resistência.
Paz á sua alma."
(O Commércio - 10.10.1928 - página 2)
Hilberto, que contribuição excepcional trazes ao blog!!! Esta interação me anima e estimula a seguir buscando nesta fonte quase inesgotável que é O Commercio notícias que, como esta que trazes, desenham uma Cachoeira incrível, cheia de inesperadas revelações como esta necrologia. Salve Pedro Burro! Pena que o trabalho em que despendeu tanto de sua força tenha sido perdido. Obrigada! Sei que guardas pérolas deste jornal que é um verdadeiro patrimônio cultural.
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ExcluirEstamos em outubro de 2019, e gostaria de saber, já digitalizaram a coleção do jornal?
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