Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

domingo, 16 de julho de 2017

Um gênio chamado José Albino Pohlmann

Um nome – para o qual até então não havia rosto – é recorrente quando o assunto é inventividade, genialidade e protagonismo: o de José Albino Pohlmann. E agora, graças a esta postagem e ao auxílio de Tânia Maria Möller Pohlmann, finalmente surgiu um rosto para ele!


Provável imagem de José Albino Pohlmann
- Acervo familiar Tânia M. Möller Pohlmann

Chegado a Cachoeira aos três anos de idade, oriundo de Santa Clara, interior do atual município de Taquara, onde nasceu em 18 de junho de 1868, José Albino, ou somente Albino, como ficou mais conhecido, veio com os pais e irmãos. Era filho de João Frederico Pohlmann e de Emilia Ritter Pohlmann. O pai, que foi dono do primeiro engenho de descascar arroz, localizado na Rua Sete de Setembro, onde também funcionava uma oficina mecânica, foi seu instrutor. Os conhecimentos que adquiriu e que lhe propiciaram o pioneirismo em engenhocas e técnicas foram frutos do grande interesse e curiosidade que tinha. Um autodidata, em 1922 foi diplomado como engenheiro mecânico eletricista pela Congregação de Escolas Livres de Engenharia do Rio de Janeiro, depois de ter defendido tese. Que tese teria sido esta?  Certamente tratava sobre suas bem sucedidas experiências com motores ou energia elétrica.

Em 1892, “com apenas parcas ferramentas, suas mãos e um cérebro privilegiado”, como discorreu O Commercio em sua necrologia, Albino construiu integralmente a primeira máquina a vapor no município – e talvez no Sul do Brasil! Esta máquina, um pequeno motor, foi envolto por “um casco metálico e singrou garbosamente as águas do Jacuí.” Este pioneiro motor, uma raridade, foi doado anos atrás ao Museu Municipal. Depois da experiência exitosa com o barquinho movido a motor, a que ele deu o nome de “Caçador”, Albino projetou outros maiores, com capacidade para transportar entre 15 e 20 pessoas, destinados a realizar passeios aos pontos próximos à cidade, como o Capão Grande, Capané, Charqueada e Irapuá. Foram de sua fabricação o vapor “Recreio” e as lanchas “Primavera”, “Audaz” e “Salácia”.

Em 1898, quando a eletricidade no Brasil era uma experiência quase desconhecida, Albino Pohlmann já havia construído em Cachoeira um dínamo. Em 1901, com um dínamo um pouco maior, iluminou o adro da Matriz para uma festa do Divino Espírito Santo, da qual era festeiro João Jorge Krieger. Depois desta primeira experiência, todas as festas religiosas e cívicas, se realizadas à noite, contavam com a habilidade e presteza de Albino.

Igreja Matriz - Fototeca Museu Municipal

Em 1900, unicamente por sua engenhosidade e interesse, fabricou seu primeiro motor com explosão interna. Naquele mesmo ano montou as máquinas do jornal O Commercio. Por ocasião da notícia de sua morte, dada em edição daquele jornal de 23 de julho de 1947, a redação assim referiu:

Albino Pohlmann também montou as máquinas deste jornal, das quais muitas peças foram por ele fabricadas. Estas linhas foram impressas na máquina que montou há 48 anos e que ainda existe como consequência da sua dedicação. Sempre tratou-a como se fosse a menina de seus olhos.

Tipografia d'O Commercio, Rua Sete de Setembro - Coleção Claiton Nazar

Em 1901, um dos seus dínamos iluminou o Teatro Municipal para que ali passasse o primeiro filme.     E depois disso, organizou uma empresa cinematográfica em Rio Grande e abriu em Cachoeira, em sociedade com o irmão Renoardo, o Cinema Familiar, na Praça das Paineiras (José Bonifácio). Renoardo, que era fotógrafo, utilizava aparelhos fotográficos construídos por Albino.

Cinema Familiar - Fototeca Museu Municipal

Contam-se em muitas as invenções e novidades apresentadas por Albino Pohlmann. No ano de 1898, acompanhado por Jorge Franke, Hugo e Walter Gerdau (os fabricantes dos famosos móveis Gerdau), fez a introdução da bicicleta em Cachoeira, o que ensejou, por eles, a fundação do Clube de Ciclistas.  O primeiro automóvel chegado em Cachoeira, de Eurípedes Mostardeiro, foi “guiado” por ele e pelo irmão Waldemar.

Primeiro automóvel, de Eurípides Mostardeiro
- no verso da foto consta o nome de Waldemar Pohlmann, irmão de Albino
- Acervo Família Vieira da Cunha

Mas sua entrada na história se deu através das lavouras de arroz, para as quais empregou 32 anos de sua vida. O início foi em 1888, quando auxiliou o pai na montagem do primeiro engenho de arroz da cidade. Naquela ocasião, teria inventado um separador de arroz largamente empregado depois em outros estabelecimentos do gênero. Nunca tirou patente deste invento e, pelo contrário, ensinava os interessados a fabricá-lo. 
Em 1906, levou a mecanização a várias lavouras, garantindo o pioneirismo de Cachoeira na irrigação.

Por ocasião das obras de distribuição de água da segunda hidráulica, José Albino Pohlmann foi guindado à chefia dos serviços de águas e esgotos da Intendência, nela atuando até 1937.

Sua morte, em 19 de julho de 1947, ensejou uma bela reconstituição dos feitos e a localização de seu rosto...

16 comentários:

  1. Que história e que ser humano fantástico!

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  2. Um inventor de mão cheia,gostei.

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  3. NOssa, esse senhor entrou para a história! Tanto pioneirismo que começou em Cachoeira merece ser conhecido. Parabéns pelo trabalho, MIriam!

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  4. Gostei dos empreendimentos dele, da história que divulgas e fiquei encantada com a foto do Cinema Familiar. Quem dera hoje se criasse um recanto de árvores e bancos assim na cidade.

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    1. Mara, bom te ver por aqui e saber que aprecias as histórias que no blog registro! Abraço!

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  5. Estou pensando em fazer um trabalho de conclusão de curso sobre os inventos do Albino Pohlmann, você sabe se tem registros desse inventos?

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  6. Era meu tio-avô.
    Parabéns, Mirian.
    Eu não sabia disso tudo.
    Fiquei orgulhoso e muito agradecido.

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  7. Minha avó ( in memorian), se chamava Elmira Dias Polhmann * meu se chamava Francisco pohlmann e fiquei muito feliz por saber da história de Albino pohlmann pois meu pai era muito inteligente e inventor na cidade de Alegrete, minha vó imigrou p Artigas no Uruguai onde foi enterrada

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  8. Sou bisneta de Adelina Maria Pohlmann Karst, irmã de José Albino.
    Muito feliz por ter conhecido tantos detalhes interessantes da história dele por meio dessa publicação.
    Obrigada, Miriam Ritzel. :)

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    1. Fico feliz, Luciana, que esta postagem tenha te tocado. Obrigada!

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  9. Uma história cheia de capítulos impresionantes.
    Parabéns!

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  10. Qué história tan interesante...al ver la foto me acordé que la había visto en el álbum de mi abuela...y sí allí está y es la família de mi abuelo materno...Henrique Pohlmann que era hermano de Albino Pohlmann...Llevo el nombre de su madre o sea mi bisabuela Emilia...La família pasó para Uruguay..

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