Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

domingo, 12 de novembro de 2017

Um Comitê Sírio-Libanês em Cachoeira

A partir do início do século XX, pela existência do jornal O Commercio, é possível verificar a presença crescente de estrangeiros oriundos do chamado Oriente Médio, genérica e equivocadamente tratados aqui por “turcos”*.

Dentre esses imigrantes, muitos deles dedicados ao ofício de mascates, ou seja, vendedores ambulantes de todo tipo de mercadorias, há o registro de muitas famílias que se estabeleceram principalmente na Rua 15 de Novembro e imediações.

Uma notícia do O Commercio de 28 de janeiro de 1920 refere a eleição da nova diretoria do Comitê Sírio-Libanês, dando mostras que a comunidade já então grande, começava a se organizar em associação. Diz a notícia:

No dia 25 de janeiro, às 4 horas da tarde, esta sociedade local efetuou, no salão da Associação Comercial, uma sessão ordinária a fim de eleger a nova diretoria que deverá reger os seus destinos durante o corrente ano. A nova diretoria ficou assim constituída: presidente honorário Dr. Balthazar de Bem, reeleito; presidente Haguel Botomé, reeleito; vice-presidente Badi Ache, reeleito; 1.º secretário Nagib Mahfuz, reeleito; 2.º secretário Antonio Marin, 1.º tesoureiro João Moyses, reeleito; 2.º tesoureiro Calil Elias, reeleito. Conselho deliberativo: Elias de Mettri Fares Mogarbel e Antonio Aude; comissão: Elias Raful, Leonel Elias e Antonio Siade; porta-estandarte Bechara Amin; tradutor Felicio Forzen (juramentado). Conhecido o resultado, a nova diretoria foi saudada com uma entusiástica salva de palmas.

Haguel Botomé e sua família - Grande Álbum de Cachoeira
- de Benjamin Camozato (1922)

Restabelecido o silêncio, usou da palavra o Sr. Presidente, produzindo ponderado discurso, que durou 20 minutos e do qual damos um pálido resumo.

Começou o orador agradecendo aos seus compatriotas pela elevada prova de confiança que lhe davam, reelegendo-o para o cargo de presidente pois, em razão de seus muitos afazeres, desejava ser um sócio infatigável, mas não presidente. (...) Fez um rápido histórico da associação até esta data. Disse mais que alguns dos sócios pediram, na última sessão, fosse mudado o nome de Comitê Patriótico para o de Beneficência, que em nada influía o nome, pois por ventura não tinham contribuído todos os membros, tanto social como particularmente, tanto quanto lhes era possível para minorar os sofrimentos dos desprotegidos da sorte, tanto de sócios, como de outros desventurados, que o não são? Acrescentou que deviam os sócios, na próxima sessão, atender à discussão do requerimento enviado pelo sócio Bechara Amin a fim de nomear um médico, uma farmácia e um advogado para a sociedade. 

Terminou o orador pedindo a todos darem um viva à gloriosa, culta e grande nação brasileira, viva que foi entusiasticamente correspondido.
Cachoeira, 28 de janeiro de 1920.
F.

A diretoria do comitê era composta por nomes que fizeram história no comércio, caso do presidente Haguel Botomé, libanês que era o proprietário da Casa da Bandeira Branca, na Rua 15 de Novembro; Badi (ou Bady) Ache, dono da casa comercial A Montevideana, na Rua 7 de Setembro, logo depois vendida para Haguel Botomé; e Calil Elias, sírio, dono da loja O Barco, de fazendas, miudezas, secos, molhados e gêneros coloniais, no Alto dos Loretos, e depois instalada na Rua Saldanha Marinho lá por 1918.

Anúncio da Casa da Bandeira Branca
n'O Commercio, 1/2/1928

No ano anterior, O Commercio, além de constatar que o comitê reunia todos os elementos de valor da colônia, havia se incorporado à vida social da cidade, comungando das festas cívicas, sendo por isso amparado com simpatia pelo povo cachoeirense.

Os sírio-libaneses, assim como outros imigrantes vindos antes e depois, enriqueceram ainda mais o rico mosaico étnico que caracteriza a história de Cachoeira do Sul.

*Turcos: eram assim denominados todos os imigrantes que portavam documentos emitidos pelo Império Turco-Otomano ao chegarem no Brasil.

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