A partir
do início do século XX, pela existência do jornal O Commercio, é possível verificar a presença crescente de
estrangeiros oriundos do chamado Oriente Médio, genérica e equivocadamente
tratados aqui por “turcos”*.
Dentre
esses imigrantes, muitos deles dedicados ao ofício de mascates, ou seja, vendedores ambulantes de todo tipo de mercadorias, há o registro de muitas famílias que se
estabeleceram principalmente na Rua 15 de Novembro e imediações.
Uma
notícia do O Commercio de 28 de
janeiro de 1920 refere a eleição da nova diretoria do Comitê Sírio-Libanês, dando
mostras que a comunidade já então grande, começava a se organizar em
associação. Diz a notícia:
No dia 25 de janeiro, às 4 horas da tarde, esta
sociedade local efetuou, no salão da Associação Comercial, uma sessão ordinária
a fim de eleger a nova diretoria que deverá reger os seus destinos durante o
corrente ano. A nova diretoria ficou assim constituída:
presidente honorário Dr. Balthazar de Bem, reeleito; presidente Haguel Botomé,
reeleito; vice-presidente Badi Ache, reeleito; 1.º secretário Nagib Mahfuz,
reeleito; 2.º secretário Antonio Marin, 1.º tesoureiro João Moyses, reeleito;
2.º tesoureiro Calil Elias, reeleito. Conselho deliberativo: Elias de Mettri
Fares Mogarbel e Antonio Aude; comissão: Elias Raful, Leonel Elias e Antonio
Siade; porta-estandarte Bechara Amin; tradutor Felicio Forzen (juramentado). Conhecido
o resultado, a nova diretoria foi saudada com uma entusiástica salva de palmas.
Haguel Botomé e sua família - Grande Álbum de Cachoeira - de Benjamin Camozato (1922) |
Restabelecido o silêncio, usou da palavra o Sr. Presidente,
produzindo ponderado discurso, que durou 20 minutos e do qual damos um pálido
resumo.
Começou o orador agradecendo aos seus
compatriotas pela elevada prova de confiança que lhe davam, reelegendo-o para o
cargo de presidente pois, em razão de seus muitos afazeres, desejava ser um
sócio infatigável, mas não presidente. (...) Fez um rápido histórico da
associação até esta data. Disse mais que alguns dos sócios pediram, na última
sessão, fosse mudado o nome de Comitê Patriótico para o de Beneficência, que em
nada influía o nome, pois por ventura não tinham contribuído todos os membros,
tanto social como particularmente, tanto quanto lhes era possível para minorar
os sofrimentos dos desprotegidos da sorte, tanto de sócios, como de outros desventurados,
que o não são? Acrescentou que deviam os sócios, na próxima sessão, atender à
discussão do requerimento enviado pelo sócio Bechara Amin a fim de nomear um
médico, uma farmácia e um advogado para a sociedade.
Terminou o orador pedindo
a todos darem um viva à gloriosa, culta e grande nação brasileira, viva que foi
entusiasticamente correspondido.
Cachoeira, 28 de janeiro de 1920.
F.
A
diretoria do comitê era composta por nomes que fizeram história no comércio,
caso do presidente Haguel Botomé, libanês que era o proprietário
da Casa da Bandeira Branca, na Rua 15 de Novembro;
Badi (ou Bady) Ache, dono da casa comercial A Montevideana, na Rua 7 de
Setembro, logo depois vendida para Haguel Botomé; e Calil Elias, sírio, dono
da loja O Barco, de fazendas, miudezas, secos, molhados e gêneros coloniais, no
Alto dos Loretos, e depois instalada na Rua Saldanha Marinho lá por 1918.
Anúncio da Casa da Bandeira Branca n'O Commercio, 1/2/1928 |
No ano anterior, O Commercio, além de constatar que o comitê reunia todos os elementos de valor da colônia, havia se incorporado à vida social da cidade, comungando das festas cívicas, sendo por isso amparado com simpatia pelo povo cachoeirense.
Os sírio-libaneses,
assim como outros imigrantes vindos antes e depois, enriqueceram ainda
mais o rico mosaico étnico que caracteriza a história de Cachoeira do Sul.
*Turcos: eram
assim denominados todos os imigrantes que portavam documentos emitidos pelo
Império Turco-Otomano ao chegarem no Brasil.
Antonio Aude, casou-se com D. Mercedes Rangel da Silva, se tem registros da chegada destas famílias?
ResponderExcluirNão temos, Jonatha.
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