Espaços urbanos

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Ponte do Fandango com leito submerso - 5/5/2024 - foto Ângelo Netto

domingo, 25 de agosto de 2024

A revolução de 1923 e três personalidades ligadas a Cachoeira

Cachoeira é daqueles lugares que nasceram para figurar no mapa como terra ligada aos principais acontecimentos históricos. E ainda que a sua economia e outros aspectos da vida comunitária tenham mudado muito no último século, mesmo assim a sua relevância se sustenta no protagonismo de seus filhos ou dos homens e mulheres que aqui viveram e fizeram história.

A revolução de 1923 é uma mostra disto. Três figuras de relevo daquele acontecimento que convulsionou o estado de janeiro a dezembro daquele ano, tiveram laços fortes com Cachoeira.

O primeiro deles, Antônio Augusto Borges de Medeiros, cuja eleição para mais um mandato estadual foi o estopim do movimento revolucionário, congregando os opositores políticos em torno do nome de Joaquim Francisco de Assis Brasil, tinha vínculos familiares com Cachoeira. Sua mãe, Miguelina, era cachoeirense e irmã mais velha do Coronel Horácio Borges. Talvez por isto, o menino tenha sido batizado na Igreja Matriz de Cachoeira, em 21 de fevereiro de 1866, quase três anos depois de seu nascimento, ocorrido em Caçapava no dia 19 de novembro de 1863.

Borges de Medeiros, especialmente com seu apadrinhado João Neves da Fontoura, que o defendeu em sessão da assembleia dos representantes nos primeiros dias de janeiro de 1923, foi impulsionador de grandes obras em Cachoeira, concedendo apoio político e aporte financeiro do estado para sua realização.

Borges de Medeiros - MMEL

O segundo vulto de destaque na revolução de 1923 foi Honório Lemes da Silva, o Leão do Caverá, único dos três nascido em Cachoeira. Honório Lemes era um ano mais jovem que Borges de Medeiros e nascido no Barro Vermelho em 23 de dezembro de 1864. Mudou-se cedo para Rosário do Sul e seu ofício de tropeiro tornou-o hábil nos caminhos da intrincada Serra do Caverá, onde se entranhava com seus seguidores desde a revolução de 1893. Sua astúcia e conhecimento da geografia da região foram fundamentais para os intentos das guerrilhas de que participou.

Honório Lemes da Silva - www.claudemirpereira.com.br

O terceiro personagem ligado a Cachoeira na revolução de 1923 foi o dentista, fotógrafo e cinegrafista Benjamin Celestino Camozato, nascido em Porto Alegre em 19 de maio de 1885, ou seja, mais de vinte anos mais moço que Borges e Honório. Residente em Cachoeira desde a metade da década de 1910, o inquieto e criativo Dr. Benjamin Camozato ganhou fama e conhecimento na cidade em que nasceram os seus três filhos, Walmor, Wanda e Weimar, e muitos de seus empreendimentos foram desenvolvidos. 

Benjamin entrou para a história da revolução de 1923 por ter produzido o único filme existente sobre a contenda, um curta-metragem. Durante quase todo aquele ano ele percorreu o Rio Grande do Sul fazendo registros dos partidários de Borges de Medeiros, ou chimangos, e dos defensores de Assis Brasil, ou maragatos. A imprensa de Cachoeira registrou toda a movimentação de Camozato, inclusive as exibições da "fita" em vários lugares do Brasil e do estado. 

Benjamin Camozato - acervo familiar

Estes três homens teceram laços profundos com Cachoeira, ainda que Honório Lemes tenha sido dentre eles o único cachoeirense e, ao contrário dos demais, o que menos tempo tenha vivido por aqui. Borges de Medeiros mantinha uma rotina de idas e vindas entre Porto Alegre e Cachoeira, onde se internava na Estância do Irapuazinho, de sua propriedade no interior do município, para onde se retirou depois que findou sua trajetória política. Camozato tomou o rumo de Porto Alegre, lá abrindo seu consultório de odontologia, mantendo permanente vínculo com Cachoeira.

Três homens, três trajetórias, a revolução de 1923 como interseção com Cachoeira.

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