Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Insana decisão

            A Prof.ª Renate Schmidt Aguiar (Jornal do Povo, 4 e 5 de fevereiro de 2012) pôs o dedo em uma ferida que corrói aqueles que vivenciaram uma página triste da nossa história e que registra, em meados da década de 1970, a destruição da velha Estação Ferroviária, aquela que dividia a cidade em alta e baixa, conceito que até hoje vigora entre nós: “Encurralada pela ausência de debates isentos e muita adrenalina destrutiva, num dia de junho triste, a turba sem coração e emoção começou a enxergar o fruto de sua pressão e equívoco: os velhos muros começaram a ser derrubados e, em seguida, os trilhos retirados. Foram semanas inexplicáveis, pois quando a coisa aconteceu já veio armada e ávida por ruínas.”
No entanto, é necessário fazer justiça a duas mulheres corajosas de Cachoeira do Sul que procuraram o Prefeito para fazer a defesa da velha Estação. Ambas sonhavam instalar nela um museu, instituição que ainda não havia entre nós. O nome dessas mulheres: Lya Wilhelm e Eluiza de Bem Vidal. A primeira seria a diretora e organizadora do Museu Municipal no final daquela década. A segunda, a primeira diretora e hoje patrona do Atelier Livre Municipal. As duas vozes não encontraram eco e a velha Estação ruiu, levando com ela uma parte importantíssima da nossa história.
Começo da demolição - foto cedida por Claiton Nazar

Prosseguindo em seu libelo, a Prof.ª Renate lança um desafio a que nos associamos: “Ferreira poderia ser a autoestima cachoeirense. Ressuscitar trilhos e dotá-los de um circuito turístico é doidice? No Museu Municipal jaz quieto o trem azul, desmanchando-se diante dos humores do tempo.”
Todos podem colaborar com este desafio – a cidade como um todo ganhará com isto. As gavetas que guardam álbuns de fotografias de inúmeras famílias devem conter registros das nossas estações e paradas de trens. Reconstituir sua história é uma forma de preservar a memória e, quem sabe um dia, estes registros possam integrar um memorial no “trem azul” do Parque Municipal da Cultura que, de certa forma, nos redimirá de uma insana decisão.
Mirian Ritzel

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