Château d'Eau - 25/3/2017 - ato de entrega do restauro - foto Renato F. Thomsen |
Foto Renato F. Thomsen |
A DIMENSÃO SIMBÓLICA. Muitos de nós sabíamos da dimensão simbólica do
Château d’Eau, das mensagens subliminares que ele continha enquanto monumento
em interação com o seu entorno, com a história e o povo de Cachoeira do Sul.
Mas estávamos cegos e surdos... As camadas do tempo e da falta de cuidado
encobriram a sua capacidade de dialogar conosco. Ou nós, obtusos, perdemos a
sintonia com ele... Seu estado fez com que adquiríssemos um certo
constrangimento de apresentá-lo aos visitantes, cartão-postal que sempre foi, e
as fotos que registravam nossos melhores momentos passaram a buscar ângulos
favoráveis.
A DIMENSÃO HISTÓRICA. 91 anos de história perpassam
gerações. As primeiras, testemunhas da construção e inauguração do Château
d’Eau em 1925, experimentaram a beleza do monumento em sua condição de
recém-construído, vivenciaram a
movimentação dos operários, dos engenheiros, dos técnicos que realizaram o
milagre da distribuição de água para um maior número de casas, ampliando a área
atingida. Devem ter sentido a emoção de ver a colocação do deus Netuno, com seu
tridente, dominar os céus e as ninfas que em torno dele se assentaram. Obras do
mestre Giuseppe Gaudenzi executadas por João Vicente Friedrichs. Sua chegada,
provavelmente na Estação Ferroviária, em grandes caixas de madeira protegidas
de palha, não passaram despercebidas. Tais figuras mitológicas passaram a
habitar o cotidiano, remetendo à antiguidade e aos mistérios de deuses e sábios
do passado. Hoje nos surpreendemos o quanto de tempo, conhecimento e visão de
futuro Walter Jobim, o engenheiro responsável pela parte arquitetônica da obra,
e Antônio de Siqueira, pelos cálculos e estabilidade, empregaram para planejar
este fascinante monumento. E somos levados a pensar que a funcionalidade do
passado podia ser expressa em simbologia e beleza e que para isto era preciso
domínio de técnicas sofisticadas em um mundo ainda com pouca tecnologia. Mas
com o distanciamento temporal, assim como a estrutura física, também a
relevância histórica precisa ser restaurada e repassada às gerações que não
testemunharam o seu surgimento.
A DIMENSÃO DA RECUPERAÇÃO. A contemplação do Château d’Eau agora,
em semelhante aspecto de quando foi inaugurado há quase 92 anos, nos leva a
crer que assim como enquanto pessoas temos a capacidade de recuperar nossa
auto-estima, também os monumentos, especialmente aqueles que traduzem o nosso
meio, a nossa cultura e a nossa cidadania, ao serem restaurados em sua
estrutura conferem à cidade a condição de reencontrar-se com sua história e
tomar partido dela para acreditar em desenvolvimento, em superação e em um
futuro de novas conquistas. O mestre Antônio Sarasá, protagonista do restauro
do Château d’Eau, promoveu em cada um de nós, de acordo com a capacidade de entendimento individual, uma
espécie de comunhão entre a materialidade do monumento e sua simbologia.
E, por nossa conta, fomos além: não conseguimos mais dissociar a harmonia e a
grandiosidade dos elementos que compõem o nosso centro histórico. Paço, Château
d’Eau e Catedral são a expressão máxima do quanto a civilidade, o empreendedorismo
e a visão prospectiva marcaram os movimentos dos nossos antepassados, ditando o
presente e o futuro.
A DIMENSÃO DO AGRADECIMENTO. 25 de março de 2017. Dia de celebração
e de agradecimento. À CORSAN – Companhia Riograndense de Saneamento,
patrocinadora do restauro e ao Estúdio Sarasá, executor das obras, destacando
Antônio Sarasá e sua equipe de operários, cuja interação com a comunidade foi
especial; ao Executivo Municipal em sua
gestão anterior e atual; aos colegas conselheiros do Conselho Municipal do
Patrimônio Histórico-Cultural – COMPAHC, aos cidadãos voluntários pela
preservação do patrimônio histórico e muito especialmente, in memoriam, a Nelda Scheidt e seu excepcional olhar sobre o
Château d’Eau. Nelda, onde estiveres, ele voltou a realçar tudo aquilo que o
teu olhar nos fez enxergar. E como agradecimento combina com pedido: Senhor
Presidente da CORSAN, o Château d’Eau em sua funcionalidade trabalhava em
conjunto com outra maravilha arquitetônica de nosso patrimônio: o reservatório
enterrado da Praça Borges de Medeiros. Olhe por ele, ouça seu pedido de socorro
e atenda-o.
A DIMENSÃO DA RESPONSABILIDADE. O COMPAHC, criado em 1981,
sentia-se responsável e era cobrado como tal pela recuperação dos bens do nosso
patrimônio histórico e tomou para si o compromisso de buscar meios de trazer o
Château d’Eau de volta à condição de nosso principal cartão-postal, atendendo a
cobranças da própria comunidade. Muitas reuniões de discussões, de estudos, de
levantamento de patologias e análises de problemas estruturais foram
realizadas. Alguns conselheiros, especialmente os que possuíam conhecimento
técnico, ofereceram seus préstimos para que chegássemos ao dia de hoje. E agora
que recebemos de volta o nosso ícone, joia preciosa do tesouro urbano, caberá a
cada um de nós zelar pela sua integridade e entendê-lo como documento
afirmativo de uma verdade: povo que guarda seu passado não perderá jamais a sua
identidade.
Em nome do corpo de conselheiros do
COMPAHC, meu muito obrigada! A vivência deste momento já o tornou inesquecível!
Cachoeira do Sul, 25 de março de
2017.
Mirian R. M. Ritzel,
Vice-presidente do COMPAHC.
Foto Renato F. Thomsen |
No mesmo ato, o Château d'Eau foi declarado patrimônio histórico-cultural do Rio Grande do Sul, sendo tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado - IPHAE, quando o Secretário de Estado da Cultura, Vitor Hugo, acompanhado pela presidente do IPHAE, Míriam Sartori Rodrigues, assinaram com o prefeito e outras testemunhas a portaria de tombamento.
Secretário de Estado da Cultura, Vitor Hugo, prestes a assinar o tombamento do Château d'Eau - foto Renato F. Thomsen |
Para assistir ao pronunciamento, clique no link abaixo. Agradecimento a Renato F. Thomsen:
Recomendado: Château d'Eau: símbolos que vivem, de Flávia Sutelo - Estúdio Sarasá:
Parabéns por suas palavras no ato de entrega do Château d' Eau restaurado Mirian, elas traduziram com muita propriedade todo o esplendor de um momento único para Cachoeira do Sul.
ResponderExcluirMuito obrigada, Rui!
ExcluirBelíssimas palavras! Bravo Mirian !
ResponderExcluirMoro a dois passos do paraíso, parabéns nossa guerreira do patrimônio histórico,nosso Château d'Eau tombado pelo IFHAE,não quero mais nada dessa vida...missão cumprida.
ResponderExcluirPor morares tão perto do paraíso, és também um guardião dele, Zé Esber! Obrigada!
ExcluirSuzana, obrigada!
ResponderExcluirComo é de costume, sem deixar arestas! Momento ímpar! Parabéns, Mirian!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir