“Quando o exército de Gomes Freire deixa o povo de Santo Ângelo com destino a Rio Pardo, outro exército de famílias missioneiras (mais ou menos 700 famílias) acompanhou a retirada dos portugueses. Em 1757, voltando da campanha das Missões, determina Gomes Freire que as famílias de índios fossem arranchadas junto ao rio Botucaraí, nas proximidades de Rio Pardo.
Além das famílias que acompanharam os portugueses, muitas outras, de diversos povos, chegavam diariamente ao acampamento.
Gomes Freire de Andrade |
Além das famílias que acompanharam os portugueses, muitas outras, de diversos povos, chegavam diariamente ao acampamento.
Casal de índios |
Quando Cevallos, governador de Buenos Aires, após numerosas tentativas de levar de volta para o lado espanhol os índios missioneiros sem sucesso, resolveu enviar dois padres jesuítas a Rio Pardo para aconselhar os índios a voltarem para suas terras, estes, tomando conhecimento da chegada dos padres, fogem em massa para as matas do Botucaraí. E é a esses índios fugitivos, que com grande dificuldade voltam ao Rio Pardo, que se dá a denominação de “botucaraís”, que alguns historiadores insistem em designar como tribo selvagem inexistente.
O governador Cevallos insiste com Gomes Freire que ajudasse nas negociações, mas este termina declarando que, sem ordem de seu rei, já que os índios haviam se refugiado sob a bandeira portuguesa, não poderia obrigá-los a voltar a seus povos. E assim terminou a contenda, com a incorporação definitiva dessa população indígena ao domínio português. Partes dessas famílias ficaram arranchadas nas imediações de Rio Pardo, formando a Aldeia de São Nicolau de Rio Pardo, em lembrança de um dos povos de Missões que forneceu maior número de casais para a sua fundação. Mais tarde, com outro contingente não menor de índios, foi criada outra aldeia da mesma invocação, junto ao Passo do Fandango, à margem esquerda do rio Jacuí, nas imediações da atual cidade de Cachoeira do Sul.
Das 700 famílias missioneiras que vieram com Gomes Freire, representa umas 2.000 almas, dando-se a média de quatro unidades por família. Em 1780, com o mapa do Tenente Córdova, que faz o primeiro censo da população rio-grandense, dá um número total de 17.923 almas. Não se tem o coeficiente indígena que entrou nesse total, mas sabe-se quais as freguesias em que eles predominavam: a Aldeia dos Anjos (Gravataí), com a população trazida das Missões, contando 2.355 almas, a maior depois de Rio Pardo; a de Cachoeira, então unicamente uma aldeia de índios – São Nicolau – e várias estâncias, com 662 almas; a de Rio Pardo, com 25% de índios na sua origem. No quadro, temos Cachoeira com 42 brancos, 383 índios, 237 pretos. Total: 662 almas.
Quanto à mescla da mestiçagem, apesar da entrada do preto no Rio Grande do Sul, foi muito maior o cruzamento do branco com o índio. Esse caldeamento vem da fase inicial do povoamento. Quase todos os primeiros povoadores do continente eram casados ou já descendentes de índias da terra, carijós, como os Pinto Bandeira, os Magalhães, os Guterres, os Brito Peixoto, etc. Os açorianos, porém, não se caldearam nem com o índio, nem com o preto.”
(Extraído de História das Missões Orientais do Uruguai, segunda parte, vol. IV, Aurélio Porto).
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