Havia
na antiga Avenida das Paineiras, lá pelo começo do século XX, um bar chamado Ponto Chic, estabelecimento
montado por Manoel Costa Júnior, proprietário do Cinema Coliseu Cachoeirense, num pequeno chalé onde eram
comercializados sanduíches, doces, chocolates, bombons, conservas, bebidas e
frios. Os frequentadores do Ponto Chic abasteciam-se de guloseimas ou faziam
seus lanches antes ou depois de assistirem às exibições cinematográficas do
cinema ao lado. Nos fundos do Ponto Chic,
no mesmo chalé, ficava o Restaurante
Colyseu, onde eram servidos almoços e jantares, constando o
cardápio de a la minuta, saladas,
café, leite, doces, chocolates e chás.
Cinema Coliseu Cachoeirense e o Ponto Chic - Grande Álbum de Cachoeira - 1922 - Benjamin Camozato |
Sérgio
de Gouvêa, jornalista que viveu a infância e parte da mocidade em Cachoeira,
assim descreveu o Ponto Chic em
artigo publicado no Correio do Povo,
edição de 10 de dezembro de 1983:
“Atilado
empreendedor, Manoel Costa Júnior decidiu-se a aumentar suas rendas de
empresário afortunado e em 1912 construiu, no terreno existente à esquerda do
Coliseu e também de madeira, o Ponto Chic.
Na parte da frente funcionava o bar que atendia aos clientes acomodados não
muito confortavelmente em mesinhas de ferro distribuídas em toda área calçada
que ia até o cinema. Os fregueses dividiam suas preferências entre as cervejas
locais – a Homrich e a Trommer - enquanto os jovens, a quem era vedado o uso do
álcool, contentavam-se com a “Cirila” e as gasosas. (...) A segunda divisória
do Ponto Chic era bem maior, bem mais ampla, pois se tratava do restaurante.
Uma casa de pasto que desfrutava a vantagem de não ter concorrentes.”
Bar Ponto Chic - Grande Álbum de Cachoeira - 1922 - Benjamin Camozato |
O jornal O
Commercio, edição de 3 de maio de 1916, em coluna assinada por Pangloss,
assim refere-se àquele logradouro e seu Ponto
Chic:
“... a cidade de Cachoeira, apesar da conflagração e das
crises dela decorrentes, está sobremodo encantadora. Que o digam os frequentadores
da Avenida das Paineiras, dessa multidão que às tardes e às noites a enchem,
dando-lhe um aspecto de animação e bem-estar que talvez se não encontre em
nenhuma das outras cidades da campanha rio-grandense. Contemplando-se esse
quadro que reflete, certamente, o progresso e a concórdia reinantes neste
município, não se pode deixar de recordar com louvores a parte que toca ao Sr.
Manoel Costa Júnior, no que concerne ao embelezamento e animação da nossa praça
de recreio, pois é incontestável que o centro de atração, a mais bela parte da
avenida é o ponto que o incansável Costa denominou de – Chic. Aí tem ele o seu
excelente Coliseu, o seu restaurante, o seu bar. Assim é que enquanto uns
combatem os calores estivais refrigerando-se com coisas geladas, outros dão
vela ao paladar no seu bem atendido restaurante, ingerindo acepipes que
restauram ao mesmo tempo as forças do corpo e da alma, pois tudo isso é feito
ao som de um piano habilmente dedilhado pelo maestro Curt Dreyer. Quanto tudo
isto não baste aí, tem o desfilar do sexo gentil pela avenida fartamente
iluminada, às vezes a cores, enquanto as músicas ressoam e as campainhas do
Coliseu tilintam, convidando às fitas por entre pregões de reclames que ainda
mais realçam o movimento.”
Movimento defronte ao Cinema Coliseu Cachoeirense - acervo Osvaldo Cabral de Castro |
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