A morte do Dr. Balthazar Patrício de
Bem, ocorrida em 10 de novembro de 1924, causou enorme comoção em
Cachoeira, decretando para aquele ano um dos momentos mais pungentes
da história local. Em parte pela importância do médico, político,
empresário e cidadão reverenciado, em parte pela situação que
desencadeou o acontecimento, o fato é que a década de 1920 mais uma
vez experimentava um de seus tantos movimentos
político-revolucionários, desenhando-se tragicamente em nosso meio.
Dr. Balthazar de Bem - morto aos 47 anos |
O jornal O Commercio, em sua
edição de 12 de novembro de 1924, traduz bem a comoção que tomou
conta da cidade, razão pela qual transcrevemos alguns trechos significativos constantes da primeira página, tomada quase que na íntegra pela trágica notícia:
O Commercio, edição de 12/11/1924, p. 1 - acervo Arquivo Histórico |
Uma dolorosa tragédia encheu de luto
e dor a sociedade cachoeirense: o inesperado desaparecimento do
cenário da vida do estimado e querido clínico Dr. Balthazar
Patrício de Bem, membro da comissão executiva do Partido
Republicano local e deputado estadual.
Anteontem, pouco antes de uma hora da
tarde, uma grande aglomeração de povo pelas esquinas e em várias
vias públicas passava de boca em boca a triste nova: - Morreu o Dr.
Balthazar! Mataram o Dr. Balthazar!
Saindo pela madrugada, em companhia de
amigos e ardorosos defensores da causa da legalidade, ameaçada pela
sublevação do 3.º Batalhão de Engenharia, aqui aquartelado,
ocorrida nas primeiras horas da madrugada de domingo, pelas 6 horas
transpunha o Dr. Balthazar o Passo de São Lourenço, com a força
que pretendia impedir o alastramento da sublevação do 3.º.
Uma légua além da Sanga Funda, no
3.º distrito, alcançaram a força revoltosa que ia bem aparelhada e
municiada, travando-se combate, que foi renhido e encarniçado, com
ferimentos e perdas de vida de ambos os lados.
Corajoso e apaixonado defensor das
suas ideias políticas, o Dr. Balthazar entrou na linha de fogo, em
que quase todos os atiradores estavam em posição deitada, a qual,
seguidamente, ele abandonava para pôr-se de pé, apesar dos
insistentes pedidos do seu afilhado João Noronha de Bem, que o
acompanhava e muito lhe pedia que não expusesse o seu corpo, tanto
mais que, devido ao calor, tirara o casaco, de modo que a camisa
branca mais se destacava ao longe, servindo facilmente de alvo.
Pouco depois das 10h30, quando ia
acesa a luta, o Dr. Balthazar queixou-se que estava ferido.
Imediatamente foi colocado em um auto, conduzido pelo seu afilhado
João Noronha de Bem e acompanhado pelo Dr. Glycerio Alves, que
também na linha de fogo, no entusiasmo da defesa da causa, estava
combatendo o inimigo de frente a frente.
O ferimento fora, infelizmente,
mortal. Um balaço no vazio do ventre, lado direito, seguido de
grande hemorragia, ia roubando-lhe a vida, rapidamente, em caminho
para esta cidade.
Vendo fugir-lhe a vida, uma infinita
angústia apoderou-se de sua alma boa e generosa: lembrou-se, com
imenso pesar, de não ver, na hora extrema, a sua esposa querida e os
filhos idolatrados. Os seus últimos pensamentos e as suas últimas
palavras ainda foram para a sua Marina querida, sendo este nome uma
das últimas palavras que lhe saiu da boca, quando sentiu que se
aproximava a morte.
Perto do baixio denominado Sarandi, um
pouco além do Passo de São Lourenço, no 8.º distrito municipal,
cerraram-se para sempre os olhos daquele que foi um grande e
humanitário representante da nobre ciência médica, um cidadão que
amava com extremos a sua terra natal, um cavalheiro de apreciáveis
qualidades morais e um exemplar chefe de família. (...)
A notícia da morte do Dr. Balthazar
estende-se por toda a primeira página daquela edição de O
Commercio e ainda pelas edições seguintes, com publicação da
repercussão no meio social, das exéquias e dos primeiros passos legais de solução
de seus negócios que envolviam as propriedades rurais e a Charqueada
Paredão, dentre outros.
Dr. Balthazar de Bem, natural de Caçapava, onde nasceu em 16 de março de 1877, deixou a esposa Marina Mattos de Bem e os filhos Etelvina, João Carlos e Nora.
Dr. Balthazar de Bem, natural de Caçapava, onde nasceu em 16 de março de 1877, deixou a esposa Marina Mattos de Bem e os filhos Etelvina, João Carlos e Nora.
O blog História de Cachoeira do Sul
seguirá publicando notas sobre o infausto acontecimento, inclusive da morte do jornalista Fábio Alves Leitão, também vitimado na mesma ocasião, relembrando
página ímpar da nossa história.
Queremos mais,mais e mais, a cada dia estas melhor !
ResponderExcluirAmanhã terá mais!
ResponderExcluirComo neta de Fábio Leitão acompanho essa história, registrando o 90 aniversário da morte de meu avô na batalha do Barro Vermelho.
ResponderExcluirSim, Elenara. Vou falar da morte dele também. Aliás, já falei. Busca no campo pesquisa para conferires.
ExcluirObrigada pela leitura.
Data do óbito do filho João Carlos Balthazar de bem
ResponderExcluirBoa tarde preciso da data do óbito do Sr João Carlos Balthazar de Bem se vocês tiverem está informação meu whatsapp 01551997193522 ou meu email é marcelosilveiradasilvacece@gmail.com
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