Espaços urbanos

Espaços urbanos
Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Série Lojas do Passado: I. Neves & Companhia

O poderoso Cel. Isidoro Neves da Fontoura, nome forte na política cachoeirense do final do século XIX e início do século XX, também era homem de negócios muito respeitado. Além dos empreendimentos agrícolas e industriais, também teve atuação marcada no comércio.

Cel. Isidoro Neves da Fontoura

A I. Neves & Companhia era um grande armazém de secos e molhados, fazendas, louças e miudezas de sua propriedade. Oferecia roupa pronta, como as então famosas e legítimas camisas Jaeger, chapéus e sabonetes em barra e em caixas. Mantinha ainda um estoque de variadas marcas de máquinas de costura, tanto de pé quanto de mão.

Armazém de I. Neves & Cia.
- Rua Sete de Setembro - fototeca Museu Municipal
Jornal Rio Grande, janeiro de 1908
- acervo Arquivo Histórico
O armazém estava localizado em lugar nobre da Rua Sete de Setembro, esquina com a atual General Portinho, e ocupava um casarão antigo que depois foi destruído, dando lugar ao prédio hoje ocupado por uma farmácia.


À esquerda, 1.º plano, o local onde outrora estava o Armazém de I. Neves & Cia.
- foto Claiton Nazar - 
Agradecimento à historiadora Ione M. Sanmartin Carlos, que corrigiu a esquina anteriormente publicada.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Hospital de Caridade - mais histórias dos 111 anos de história

Como sabemos, o Hospital de Caridade nasceu da união comunitária. O advogado Ernesto Barros, utilizando-se das páginas do jornal O Commercio, fez um "Apelo aos corações generosos", dando início a uma subscrição popular que arrecadou recursos para a tão almejada e necessária obra.

Prédio do 1.º Hospital - acervo COMPAHC

Em 8 de agosto de 1906, quatro anos antes da concretização do sonho dos cachoeirenses, o Vice-Intendente e médico Dr. Cândido Alves Machado de Freitas, um dos grandes entusiastas da causa, enviou uma carta ao citado jornal dando conta do montante que até então havia sido levantado em prol do Hospital, 771$710 réis, e a longa relação dos primeiros contribuintes. Chama atenção o engajamento das pessoas, pois muitas delas ofereciam seus serviços ao invés de dinheiro, o que por si só demonstra a importância da causa. As doações em dinheiro são dos mais variados valores, o que confirma que a campanha atingiu as diferentes camadas sociais da cidade.

Segue a relação dos primeiros contribuintes que participaram com doação de materiais ou serviços:
- Epaminondas Barcellos - 10.000 tijolos
- Augusto Wilhelm - mão-de-obra para todo o vigamento
- Manoel Gomes Pereira, construtor, uma semana de serviço com todo seu pessoal na colocação da pedra fundamental e na construção do edifício
- Higyno Livi, construtor, vinte dias de serviços de pedreiro
- Antonio Marques Ribeiro - 200 pipas d'água
- José Sebastião Vieira da Cunha - 2.000 telhas
- Francisco Teixeira Guimarães - obriga-se pela pintura do edifício
- José Leopoldino Marques - 30 dias de serviço no assoalho ou forro
- Frederico Wilhelm - em serviços de carpinteiro e esquadrias
- Ignacio Loureiro - toda a pedra que for necessária para os alicerces
- Antonio Thomaz da Fontoura - 10 carradas de areia
- José Franco de Azevedo - 10 carradas de areia
- Miguel Thomaz da F. Sobrinho - 5 carradas de areia
- Manoel Marques da Silveira - 2.000 tijolos
- Alfredo Souto - 1.000 telhas
- Miguel Paiva - feitio da porta principal do edifício
- Laureano Araujo - caiação da parte de dentro do edifício
- O Commercio - 1.000 envelopes e 1.000 circulares
- Julio Peixoto - escritura da compra do terreno para o Hospital
- Carlos Barros - obriga-se pelo valor de uma rês bem gorda
- André Bello de Castro - a importância de um documento a receber
- Galvão Alvares de Abreu - colchões e cobertores precisos
- Claudiano Moura - colchas e lençóis necessários
         Em outra oportunidade, será publicada a relação dos primeiros contribuintes em dinheiro.

domingo, 14 de setembro de 2014

Buena-dicha*

Marcelo Gama, cuja trajetória curta de vida foi marcada pelas emoções postas em versos, inspira-nos nesta quase primavera, revivendo no poema publicado n’O Commercio, de 24 de março de 1915, um soneto que combina com os dias floridos que já se anunciam, revivendo uma prática que os tempos de hoje não têm mais...


Espécie de malmequer - Parque Witeck - foto Henrique Witeck


Buena Dicha

Mal surge o dia, para os montes sigo,
a consultar agrestes malmequeres,
que se os segredos sabem das mulheres,
podem dizer-me se és cruel comigo.

E ansioso por saber se tu me queres,
- mal-me-quer, bem-me-quer – baixinho digo,
mas os desfolho em vão, que não consigo
um só dos que se chamam bem-me-queres.

Malmequeres são todos. Entretanto,
quando os teus olhos fito, cariciosos,
torna-se em risos o que fora pranto,

em mar de rosas o que fora escolhos!
Dize-me tu quais são os mentirosos:
- Os malmequeres ou teus lindos olhos!

* Buena-dicha: (do espanhol buena dicha) boa sorte, fortuna, sina. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Caiadura* da Igreja Matriz

As imagens que registram aspectos urbanos do passado de Cachoeira, na sua maioria, não apresentam datação, de modo que o exercício do observador na tentativa de fixá-las em um tempo cronológico pode ser um grande desafio... Mas também um exercício maravilhoso!

Há uma série especial de imagens, mais precisamente de cartões-postais, que se tornaram itens apreciáveis seja pela estética do lugar retratado, seja pelo ângulo registrado ou pelo processo empregado na sua edição. E aí um nome se impõe em sua provável autoria: o de Benjamin Camozato, fotógrafo amador, dentista, cinegrafista, filatelista e outras tantas atividades que marcaram seu nome como um homem empreendedor. Mas, fatalmente, pela intensa e bem propagandeada edição de séries de cartões-postais creditam-se a ele muitas das imagens deste gênero até hoje conservadas na fototeca do Museu Municipal e em coleções particulares.

Dentre tantos belos aspectos da Cachoeira das duas primeiras décadas do século XX, período em que Camozato residiu por aqui, um que é especialmente belo no ângulo retratado e nas cores empregadas – e certamente obra do fotógrafo – pode ter tido enfim descoberta a verdadeira data em que foi feito por uma notícia publicada no jornal O Commercio, edição de 2 de maio de 1917:

Caiadura da Igreja Matriz. Já está concluída a caiadura externa da Igreja Matriz, inclusive a das respectivas torres, mandada efetuar pela Irmandade Conjunta do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição. Foi empreiteiro desse trabalho o construtor Sr. Francisco V. Martins, que em concorrência o arrematou por 1:250$000 (um conto e duzentos e cinqüenta mil réis). A Igreja atualmente oferece belo aspecto, pois as cores das tintas foram bem escolhidas.

Cartão-postal retratando a caidura de 1917?
Série atribuída a Benjamin C. Camozato - fototeca Museu Municipal
Foto que mostra pintura diferenciada da Igreja
Com o julgamento, o olhar do leitor!

* Caiação.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

7 de Setembro

Vivemos tempos em que comemorar datas cívicas ficou démodé.
Ano a ano diminuem os contingentes de entidades e escolas que desfilam o 7 de Setembro, para citar apenas uma das datas comemorativas que constam em nosso calendário cívico em que é notório o descaso.
Mas já houve tempos melhores. Ou pelo menos mais patrióticos.
Um bom exemplo é a iniciativa do Apostolado da Oração, tradicional movimento da Igreja Católica que existe há mais de um século em Cachoeira, de congregar todos os segmentos da sociedade cachoeirense em 1917 para participarem de uma missa solene em honra da Pátria no dia de sua independência.
Eis o anúncio publicado no jornal O Commercio em 28 de agosto de 1917:

Convite publicado no O Commercio
-
acervo do Arquivo Histórico - 
Convite – Missa solene pró-Pátria
O Apostolado da Oração, movido pelos sentimentos patrióticos, resolveu mandar cantar uma missa solene no dia 7 de setembro próximo, em comemoração à grande data da independência do nosso mui amado Brasil.
Convencido o mesmo Apostolado de corresponder aos ardentes desejos de todo o cidadão brasileiro cônscio de seus deveres cívicos e religiosos, tem a honra de convidar as autoridades federais, estaduais e municipais, a todas as sociedades civis, aos colégios e escolas, às veneráveis Irmandades e mais corporações religiosas, ao comércio, ao operariado, enfim aos briosos cachoeirenses em geral para comparecerem à missa cantada na Igreja Matriz, às 10 horas desse grande dia.
Que Deus nosso Senhor Supremo defenda, conserve feliz e abençoe sempre a nossa pátria bem amada.
Pelo Apostolado da Oração
A Secretária
Maria Izabel Souto
Cachoeira, 28 de agosto de 1917.


Com esta postagem, homenageio o Brasil e a minha saudosa mãe, Amélia Ledy Gomes Machado, que presidiu o Apostolado da Oração por mais de uma década.