AOS MOÇOS DE CACHOEIRA!
Com este chamamento o Pe. Luiz Scortegagna, Floriano Neves da Fontoura, Manoel Fialho de Vargas, Octacilio Ribas, Jary C. de Abreu, Souto Menor, Manoel Carvalho de Abreu e Miguel Fachin conclamaram a mocidade a se unir para a fundação da União de Moços Católicos em Cachoeira e participar de uma reunião no Conservatório de Música com esta finalidade. Funcionava o Conservatório de Música na Rua Sete de Setembro, sede do Clube Renascença.
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Pe. Luiz Scortegagna - Museu Municipal |
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Clube Renascença - Rua Sete de Setembro - Benjamin Camozato
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A reunião preparatória para a fundação ocorreu no dia 14 de setembro de 1924, com o objetivo de congregar moços para orientá-los nos princípios cristãos e sociais, treinar suas faculdades intelectuais e incentivar o civismo, afinal o lema da entidade, cuja existência se firmava em outros estados do Brasil, era "Deus e Pátria". Apesar do domingo chuvoso, um grande número de jovens atendeu ao convite, ouvindo palestra sobre os propósitos da União de Moços Católicos proferida pelo Pe. Geraldo Pires, que discorreu sobre ações desenvolvidas pelas congêneres recentemente fundadas em São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Rio de Janeiro.
A fundação oficial da União de Moços Católicos de Cachoeira, a primeira do interior do estado do Rio Grande do Sul, se deu em 12 de outubro de 1924 e foi assim noticiada pelo jornal O Commercio, edição do dia 15:
A BRILHANTE FUNDAÇÃO DA UNIÃO DE MOÇOS CATÓLICOS
Domingo passado, dia da descoberta
da América, foi solenemente fundada a União de Moços Católicos desta
localidade. O Clube Renascença, gentilmente cedido pelo seu presidente, estava
repleto de cavalheiros, gentis senhoritas e moços de nossa sociedade. Cachoeira
primou na fidalguia de sua representação. Às 8 horas, abria o revmo. Padre Luiz
Scortegagna, na qualidade de presidente honorário, a sessão solene, dando a
palavra ao revmo. Padre Geraldo Pires de Souza, missionário redentorista.
Sob salvas de palmas, levantou-se,
então, o Padre Pires e discorreu sobre os fins da União, dizendo que vinha, em
nome do Conselho Superior de Belo Horizonte, aceitar o compromisso da diretoria
a ser empossada. Comparou sua revma. os moços às energias perdidas das nossas
cachoeiras, das nossas minas, das nossas florestas e da nossa terra. Disse que
era preciso reunir a mocidade a exemplo do que se faz em outros países da
Europa e da América. Porém a força da mocidade só serviria para reformar o
Brasil, caso estivesse encaminhada pela prudência e graça da Igreja Católica. O lema "Deus e Pátria", expôs sua revma.; pretende realizar no Brasil essa
reunião de energias latentes nos arroubos juvenis. Terminou convidando os
presentes membros da diretoria a prestarem o compromisso.
Em nome de todos, o Sr. Jary
Carvalho de Abreu pronunciou o seguinte juramento, levantando-se toda a
plateia: “Juro ser católico apostólico romano e não pertencer a nenhuma seita
proibida pela Igreja Católica. Prometo trabalhar pela grandeza e
desenvolvimento da União de Moços Católicos, prestando obediência a seus
estatutos”. Os demais membros da diretoria repetiram as palavras de juramento e
promessa.
(...)
A diretoria empossada ficou assim
constituída: presidente, Jary C. de Abreu; vice-presidente, Octacilio Ribas;
tesoureiro, Nicolau Salzano; 1.º secretário, Manoel C. de Abreu; 2.º
secretário, Achylles Figueiredo; orador oficial, Dr. Joaquim Borges de
Medeiros; bibliotecário, João Weinmann; sindicante, Manoel Fialho de Vargas.
Exercendo seu cargo, o Sr.
Presidente convidou os sócios presentes ao juramento de praxe, lendo-o, em nome
e com aprovação dos demais, o Sr. Manoel Fialho. Declarados aceitos pelo
presidente, os senhores sócios (40 era o seu número) receberam o emblema da
União, que lhes foi colocado à lapela por gentis senhoritas e exmas. senhoras e
cavalheiros.
(...)
A inauguração contou com a participação de outros grupos católicos e teve horas de arte muito apreciadas e elogiadas pela matéria do jornal.
Em 12 de maio de 1925, a União de Moços Católicos adquiriu o prédio do Clube Renascença, que vinha ocupando desde a sua fundação, e em 3 de outubro de 1980, já sem o funcionamento regular, doou-o para a Mitra Diocesana de Santa Maria. Hoje a fachada do antigo prédio erguido por José Custódio Coelho Leal em 1850 emoldura o Residencial União de Moços, marcando com seu nome uma história que segue ainda como referência para indicação e localização do belo e histórico endereço da Rua Sete de Setembro.
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Antiga sede da União de Moços Católicos - Renato Thomsen |
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Estátuas do frontão - Renato Thomsen |
O principal propósito da União de Moços Católicos, que era formar uma intelectualidade calcada nos ensinamentos do catolicismo para galgar postos de liderança, se traduz numa personalidade: Liberato Salzano Vieira da Cunha. Moço católico com passagem marcante dentro da entidade, Liberato desempenhou funções de relevo primeiro em Cachoeira, sua terra natal, onde foi o prefeito mais jovem da história, e no Rio Grande do Sul, quando a morte o colheu no exercício do cargo de Secretário de Educação. Não fosse o desaparecimento precoce, Liberato Salzano Vieira da Cunha teria facilmente chegado a governador do estado.
Outros moços alcançaram destaque na sociedade local alicerçados pelo convívio na União de Moços. Mas foi Liberato, sem dúvida, um exemplo profícuo e completo dos ideais unionistas para a posteridade.
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Liberato Salzano Vieira da Cunha - Museu Municipal |