Espaços urbanos

Espaços urbanos
Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O dia que Cachoeira parou para festejar a vitória de Getúlio Vargas


Transcorridos 65 anos da morte de Getúlio Vargas, ainda despertam grande interesse a personalidade e os feitos deste homem que dominou o cenário político brasileiro da segunda metade da década de 1930 até 24 de agosto de 1954, quando cometeu suicídio.

Em Cachoeira, no ano de 1951, como de resto em todo o país, a posse de Getúlio na presidência da República foi de aclamação popular. Eleito em 3 de outubro de 1950 com 48% do total de votos, o líder gaúcho consolidou uma ascensão dita pelas vias democráticas, cuja costura vinha fazendo habilmente com as composições partidárias. Por ocasião da sua posse como presidente, em 31 de janeiro de 1951, os cachoeirenses, liderados por Gustavo Peixoto Vieira da Cunha, organizaram a Festa da Vitória que, segundo o Jornal do Povo, “decorreu com brilhantismo”.

No Rio, então capital federal, as cerimônias da posse de Getúlio nos palácios Tiradentes e do Catete foram de vívido entusiasmo. As agências de notícias informaram a imprensa de todo o país que nunca antes na história política brasileira o povo havia enchido tanto as ruas da cidade, fazendo feriado espontaneamente. Todo o trajeto feito pelo presidente naquele dia foi acompanhado por uma multidão que se postava nas ruas.

Em Cachoeira não foi diferente. Segundo o Jornal do Povo do dia 4 de fevereiro de 1951, em sua primeira página, “Com uma alvorada de clarins pela banda da Guarnição Militar local, tiveram início, quarta-feira última, as solenidades da Festa da Vitória (...). Às 8 horas, na Igreja Matriz, foi celebrada, pelo reverendo Monsenhor Armando Teixeira, solene missa em Ação de Graças que contou com a presença de grande massa popular e altas autoridades locais, entre as quais o Cel. Aurélio Lira, comandante da Guarnição, o Dr. Eduardo Ruiz Caravantes, juiz de direito e diretor do Fórum, o Dr. Homero Schneider, delegado de polícia, o Sr. Emílio Freitag, pretor suplente em exercício, o Dr. Romeu Simões Pires, 2º promotor público, o Sr. Gustavo Peixoto, presidente do diretório do PTB e muitos outros. Durante todo o dia os trabalhistas deram demonstrações do intenso júbilo que os invadia, com o espocar contínuo de foguetes, não só à frente da sede do partido como vários pontos da cidade. À noite realizou-se o desfile de carros alegóricos, que contou com a participação de representações de todos os comitês e subdiretórios do interior e da zona suburbana da cidade, bem como de várias firmas e de estabelecimentos orizícolas do município. Vários carros alegóricos davam ao corso trabalhista um aspecto de atração popular, observando-se ainda os dísticos que faziam parte da ornamentação de cada um dos veículos da passeata da vitória. (...) A todo o instante a massa popular vivava entusiástica e freneticamente o seu líder, presidente Getúlio Vargas, e os demais trabalhistas que naquele dia, sob os aplausos do povo, assumiam postos chaves, tanto na esfera estadual como na federal. Na ornamentação de seus veículos destacaram-se o Comitê Assunção Viana, do Amorim; o Comitê do Alto dos Loretos e o Comitê Floriano Neves da Fontoura, da Vila Soares.”

A comemoração também era pela indicação de dois cachoeirenses para comporem o ministério do governo Getúlio Vargas: Nero Moura para o Ministério da Aeronáutica e João Neves da Fontoura para o Ministério das Relações Exteriores.

Graças a instituições de memória e ao salutar hábito de muitas pessoas de guardarem jornais, fotografias, objetos e documentos, momentos históricos como este podem ser revelados e compreendidos muito tempo depois de terem ocorrido.

A foto de um dos caminhões decorados que participou da passeata da vitória em Cachoeira chegou até nós graças ao zelo de Telmo Bauer Barbosa. Segundo ele, o veículo foi decorado por Inês Dickin e dirigido pelo seu pai, Cândido Eloy Barbosa.

Caminhão decorado para a Festa da Vitória - Acervo Telmo Bauer Barbosa

Guardar vestígios do passado é como fornecer peças capazes de completarem um grande quebra-cabeças. A notícia do Jornal do Povo, bastante clara em sua descrição, pela fotografia cedida por Telmo Bauer Barbosa ganha outra dimensão, porque materializa e ilustra um fato até então registrado apenas pelas palavras de um redator.

Jornal do Povo - 4/2/1951 - Coleção de Imprensa do Arquivo Histórico

Agradecimento especial a Telmo Bauer Barbosa pela cessão da fotografia. 

Veja cenas da posse de Getúlio Vargas  https://www.youtube.com/watch?v=Zwuztecdp70

sábado, 17 de agosto de 2019

Patrimônio cachoeirense em pauta


Há 25 anos o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural – COMPAHC conquistou o maior prêmio nacional na área da preservação da memória: o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. A premiação ocorreu no Rio de Janeiro, para onde se dirigiu a presidente do COMPAHC à época, Ione Maria Sanmartin Carlos.

Troféu Prêmio Rodrigo M. F. de Andrade - Acervo COMPAHC

Diploma do Prêmio Rodrigo M. F. de Andrade - Acervo COMPAHC

Ione no Rio de Janeiro recebendo a premiação em nome do COMPAHC
- Acervo COMPAHC

Rodrigo Melo Franco de Andrade foi uma das lideranças culturais do Brasil a partir do movimento modernista, tornando-se um dos responsáveis pela legislação que rege o patrimônio cultural desde a década de 1930. Rodrigo esteve à frente das ações relacionadas ao patrimônio histórico-cultural por 30 anos, devendo o Brasil a ele a proteção de bens em que se incluem alguns de interesse mundial. O dia de seu nascimento, 17 de agosto (1898), foi escolhido para a comemoração do patrimônio histórico nacional.

Rodrigo Melo Franco de Andrade - Wikipédia

Criado em 1981, o COMPAHC tinha em sua bagagem, no ano de 1994, o primeiro inventário de bens culturais feito no interior do Rio Grande do Sul (1989), vários tombamentos de bens patrimoniais de relevante valor histórico-cultural (1985 e 1986) e atividades de fomento à ideia da preservação. Com este conjunto de ações se credenciou ao prêmio e o conquistou.

Relembrar este feito é oportuno neste dia 17 de agosto de 2019, quando em comemoração ao Dia Nacional do Patrimônio o governo do Estado do Rio Grande do Sul resolveu também instituir a data como Dia Estadual do Patrimônio Histórico. Para marcar a importância deste dia, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado – IPHAE promoveu o tombamento dos prédios que foram construídos para agências do extinto Banco Pelotense, dentre eles o de Cachoeira, atualmente ocupado pelo BANRISUL.

Banco Pelotense (1922) - Fototeca Museu Municipal

Verdadeira joia da paisagem urbana, o prédio do antigo Banco Pelotense foi inaugurado em 1922. O projeto do edifício era do arquiteto Manoel Itaqui, tendo sido construído por Santiago Borba.

A sua arquitetura, alterosa, tem como destaque a cúpula e um conjunto escultórico composto por três figuras representativas das atividades comerciais e industriais. Além da riqueza arquitetônica, é importante destacar a sua localização, tendo ele inaugurado a quadra que depois seria conhecida como “dos bancos”.

Conjunto escultórico do frontão do BANRISUL - Foto Renato F. Thomsen

Cachoeira do Sul, rumo aos seus duzentos anos de instalação como município, tem motivos de sobra para se orgulhar do patrimônio que tem conservado. Muito se perdeu, é verdade, mas o que já cativou o coração dos cachoeirenses ganha, dia a dia, o respeito e a estima de quem tem apreço pelas marcas da história. São 15 bens tombados pelo município, através do premiado COMPAHC, e quatro pelo Estado, através do IPHAE. Mas há muito ainda a ser descoberto pelos cachoeirenses. Mais de 80 edificações, consideradas em sua importância histórica ou arquitetônica, aguardam a oportunidade de também se tornarem de fato bens que habitam a estima da cidade que teve capacidade de erguê-los ao longo de sua rica e diferenciada trajetória histórica.