Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

A Cachoeira do ano do primeiro centenário da Independência do Brasil (1922)

7 de setembro de 1922. Cachoeira, um dos mais ricos municípios do estado, desenvolveu um extenso programa de comemorações do primeiro centenário da Independência do Brasil, envolvendo todos os seus segmentos e classes sociais. 

Embalado pelo sucesso da lavoura orizícola, o município de Cachoeira entrou na década de 1920 com uma arrecadação mais robusta e personalidades políticas fortes. 

Os dados econômicos daquele ano diziam que a força da sua economia estava nos setores pastoril e agrícola. A sua área era de 601.789,5 hectares, discriminados em 463.702,9 de campos e 60.323,8 hectares de matos. A agricultura, que se desenvolvia tremendamente, era mais intensa nos 4.º, 5.º, 6.º e 7.º distritos, ou seja, Parada Borges, Restinga Seca, Jacuí e São Miguel (4.º distrito), D. Francisca, Vale Vêneto, Trombudo, Faxinal do Soturno, São João do Polêsine e Formoso (5.º distrito), Agudo, Pinhal, Novo São Paulo e Cerro Chato (6.º distrito) e Parada Pertille, Três Vendas, Taboão, Pertille, Biscaim, Bosque, Cancelão, Picada dos Machados, Timbaúva, Cortado e Cerro Branco (7.º distrito), onde estavam as colônias e as zonas de serra e de matos. 

Naquele tempo o município dispunha de 24 núcleos coloniais, com produção variada de cereais, especialmente milho, feijão, cevada, trigo, fumo, aveia e batata inglesa. Mas a principal cultura era do arroz, produzido em grandes extensões de várzeas e banhados, o que fazia de Cachoeira o maior produtor do estado. 

Existiam 104 empresas produtoras de arroz que atingiram, no ano de 1921, a safra de 600.000 sacos. Dentre estas empresas, destacavam-se como maiores: Barros & Cia., Roberto Danzmann, Reinoldo Preussler & Cia., Christóvão Zinn & Cia., Fortes & Radünz, Ricardo Schaurich & Cia., Bonifácio Gomes & Cia., A. Castagnino & Vieira da Cunha e João Leitão & Cia. Existiam 25 engenhos de descascar arroz, sendo os principais de Ernesto Pertille & Filhos, Stracke & Cia., Felippe Matte e Roesch & Cia., estes instalados na cidade.

Algumas granjas de criação (1922)
- O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa

A pecuária era destacada e bastante adiantada no cruzamento de raças. Existiam, no município, 300 mil bovinos, 40 mil ovinos, 50.000 equinos e 50.000 suínos, para destacar os maiores rebanhos. As raças mais criadas eram Hereford, Devon e Polled-Angus. Dentre os criadores de animais finos, destaque para Dr. Balthazar de Bem, Eurípedes Mostardeiro, Sebastião Pereira, Dr. Borges de Medeiros, Julio Medeiros e Irmãos Souza.

O comércio era grande e forte em todo o município, com 395 casas de negócios. A indústria contava com 98 fábricas, produzindo aguardente, cerveja e outras bebidas, móveis, chapéus, calçados, conservas e cigarros, dentre outros.

Comerciantes e industrialistas de Cachoeira (1922)
- O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa


Alguns empreendimentos comerciais e industriais (1922)
- O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa 

A administração pública era exercida pelo intendente Annibal Lopes Loureiro, secundado pelo Conselho Municipal e um grupo de dinâmicos servidores.

Servidores da Intendência (1922)
- O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa 

A sede da cidade, com 600 hectares, estava dividida em nove ruas longitudinais e 21 transversais. Dividida em sede alta e sede baixa pelo complexo da Estação Ferroviária, no alto da Rua Sete de Setembro, existiam zonas bem definidas, como o Alto da Estação, o Bairro Rio Branco, o centro e o extremo sul, onde se destacava o prédio da Intendência, do Colégio Elementar e da Igreja Matriz.

Igreja Matriz (1922)
- O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa 

A principal rua era a Sete de Setembro, onde se concentrava o comércio, cafés, centros de diversões, cartórios e consultórios. A Praça José Bonifácio, que era uma das quatro existentes, concentrava em seu território o Mercado Público, o Cinema Coliseu Cachoeirense e quiosques-bar.

Estação Ferroviária e Mercado Público (1922)
- O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa

A cidade era iluminada a luz elétrica, com agradável aspecto à noite, especialmente na rua principal e na Praça José Bonifácio. Além de muitas e variadas casas comerciais, existiam sete hotéis, sete barbearias, quatro alfaiatarias, oito depósitos de móveis, três bares, cinco farmácias, três livrarias, dois bazares, três funilarias, cinco depósitos de madeiras, duas ourivesarias, três chapelarias, uma casa de louças, quatro botequins, três tipografias, três lojas de calçados, uma casa de eletricidade, oito ferrarias, um moinho, cinco engenhos de arroz, quatro engraxatarias, cinco marcenarias, quatro serrarias, duas fundições e sucursais dos bancos Nacional do Comércio, Província, Brasil e Pelotense, possuindo o último um belíssimo palacete.

O serviço de água era fornecido, em parte, pela hidráulica municipal e tinha projetado o serviço de esgoto.

Dois quartéis estavam em construção, sendo o aquartelamento do exército fator de esperado progresso para a cidade.

A população da época, em torno de 53.649 habitantes (1921) tinha à disposição 18 escolas estaduais, 17 federais e 44 municipais, sendo subvencionadas pelo estado. Havia também 35 escolas particulares.

Cachoeira, como se vê pelos dados registrados na obra O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa, editado em Porto Alegre no ano de 1922,  era uma cidade em franco desenvolvimento e que, segundo as palavras do autor: "será, dentro de poucos anos, uma das mais belas e prósperas cidades do estado."

Obra referência

E foi esta Cachoeira que, em 1922, comemorou com muita dignidade, respeito e devoção o primeiro centenário da Independência do Brasil.

Ver programa das comemorações em:

http://arquivohistoricodecachoeiradosul.blogspot.com/2022/09/como-cachoeira-comemorou-o-centenario.html