Espaços urbanos

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Centro Histórico - foto Catiele Fortes

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Uma capela para a escrava santa

Cachoeira, ano de 1912. A imprensa começou a publicar uma série de anúncios sobre o desejo da comunidade de construir uma capela para Santa Josefa, no lugar que lhe era consagrado há muito tempo, onde figurava uma simples cruz de madeira ali colocada por seus devotos para marcar o túmulo da lendária figura.

A cruz ficava na encosta da colina que então dominava a cidade. Por compra da Intendência Municipal, no terreno logo seriam erguidas as primeiras casas do Bairro Rio Branco.

A cidade vista a partir do "futuro" Bairro Rio  Branco 
- Fototeca Museu Municipal

A editoria do jornal O Commercio, em uma de suas manifestações sobre a campanha de construção de uma capela para Santa Josefa, edição de 19 de junho de 1912, afirmou que franqueava suas colunas "ao empenho de algumas pessoas devotas", obedecendo também "à simpatia por essa  ideia, pois era "dever de patriotismo o conservar cada povo suas lendas e, mais tradicional do que aquela cruz, não possui Cachoeira outro monumento nem mais popular legenda". Acrescentou ainda: "E como sejamos pela tolerância absoluta em questão de cultos, pois que todos eles têm a mesma origem e o mesmo alvo - Deus e a moral - no cofre que nos foi confiado para o recolhimento de espórtulas e que aqui se acha à disposição de quantos queiram concorrer para o piedoso tentame, depositam: O Comércio - 20$000, P. Camargo, Ferreira - 2$000, O. C. - 1$000, Marcos Vieira - 2$000, Celso Evangelista da Cunha - 2-$000". 

Os esforços e as campanhas dos simpatizantes e devotos de Santa Josefa se estenderam por longos 16 anos. Enquanto isto, em 1915, em cumprimento de uma promessa feita à santa, Francisco Bifano mandou circundar a cruz existente no local do túmulo de Josefa com uma grade de ferro. 

A grade que rodeia o túmulo coberta de mensagens de graças alcançadas
- Fototeca Museu Municipal

Dois anos depois, o intendente Francisco Fontoura Nogueira da Gama, amparado pela Lei N.º 58, de 19 de março de 1917, fez doação de um terreno para a construção da capela. Mas as obras ainda demorariam, mesmo tendo o construtor Sebastião Moser tomado para si o encargo. 

Em 5 de maio de 1928, o proprietário e editor do jornal O Commercio, Henrique Möller Filho, requereu a devida licença para iniciar a construção da capela. Foi confiado ao Dr. Leopoldo Souza, engenheiro-chefe das Obras Públicas da Intendência Municipal, o serviço de marcação do lugar da edificação e as instruções necessárias para a execução da obra ao construtor Sebastião Moser.

Em agosto de 1928 a capela foi concluída a um custo total de 4:500$000 réis. 

Capela de Santa Josefa - MMEL

Os devotos de Santa Josefa, responsáveis pela construção da capela, certamente reprovariam as mudanças que a singela, mas elegante edificação tomou quando a ela acrescentaram uma desajeitada cobertura para guarnecer a porta. 
A Capela de Santa Josefa é triplamente patrimônio cultural do município: pela lendária figura que cultua, pela arquitetura que ostenta e pela inegável devoção que desperta.

A capela em 2019 - MR