Espaços urbanos

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Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Do Império para a República



As ideias republicanas em Cachoeira já andavam por algumas cabeças uns dez anos antes do ato do Marechal Deodoro no Rio de Janeiro. O primeiro jornal aqui editado, chamado O Cachoeirense, de 1879, já propugnava o republicanismo e, em 1882, foi fundado o Clube Republicano, presidido por João José Ferreira Leal e tendo como membros Cândido Pacheco de Castro, Isidoro Neves da Fontoura, Policarpo Álvares da Cruz, José Antônio da Cunha, Fontoura Xavier, João Alberto de Souza, Luiz Pacheco de Castro, Hipólito de Castro, Modesto Soares, Francisco Fontoura Nogueira da Gama e João Batista da Fontoura Xavier.

O dia 15 de dezembro de 1889 amanheceu em Cachoeira sem novidades. Ainda que no seu decurso o Imperador tenha sido deposto e uma nova forma de governo adotada na capital do Brasil... Os cachoeirenses, desconhecendo o ato, continuavam no Império sem suspeitar que o Brasil tornara-se republicano!

Proclamação da República - tela de Benedito Calixto

Só três dias depois a notícia chegou por meio de um telegrama remetido de Porto Alegre à Câmara pelo Visconde de Pelotas. Sob a presidência de Crescêncio da Silva Santos, a Câmara se reuniu, contando ainda com a presença de 70 pessoas, civis e militares. Comunicado o teor do telegrama, a Câmara aderiu ao novo regime de governo e o primeiro ato foi substituir, na sala das sessões, o retrato do Imperador Pedro II pelo do General José Gomes Portinho, “velho defensor da República”. O ato da Câmara foi comunicado por telegrama ao Visconde de Pelotas, louvando a "atitude calma e digna do Povo Brasileiro".

José Gomes Portinho - "velho defensor da República"
- Museu Municipal

Em 7 de janeiro de 1890, foi empossada pelo governo provisório uma junta governativa para reger os negócios do município. Compunham a junta os cidadãos João Ferreira Barbosa e Silva, Antônio Nelson da Cunha e Isidoro Neves da Fontoura, sob a presidência do primeiro, que era o mais velho dos três.

Assim foi a transição do Império para a República em Cachoeira: lenta para os tempos que correm, mas lépida para 1889!

sábado, 2 de novembro de 2019

Mortais, lembrai-vos que fomos o que sois e sereis o que somos


“Mortais, lembrai-vos que fomos o que sois e sereis o que somos”. Esta frase conduz à reflexão sobre a inexorabilidade da morte e faz adentrar pelos caminhos que conduzem aos sepulcros dos que repousam eternamente no cemitério mais antigo de Cachoeira do Sul.

Cemitério das Irmandades - Foto Ucha Mór

Era prática desde o Brasil Colônia o sepultamento dos fiéis dentro dos templos e em seu entorno. Em Cachoeira não era diferente. Desde a construção da capela na Aldeia que este era o procedimento. Com a inauguração da Igreja Matriz no local onde até hoje está, o vigário não perdeu o hábito. Os mortos eram enterrados nos fundos, na frente e dentro da igreja.

Igreja Matriz - Foto Museu Municipal

A necessidade de um cemitério para a Vila era entendimento de muitos, dentre eles, alguns membros das Irmandades da Igreja Matriz, especialmente a de Nossa Senhora da Conceição e do Santíssimo Sacramento. Um dos membros, de nome Bernardo Moreira Lírio, doou terreno nas proximidades da Aldeia para tal fim. Mas eram muitos os entraves e azedos alguns humores...

Até que em 1827 o cirurgião-mor Gaspar Francisco Gonçalves, impressionado pelo estado lastimável da Igreja Matriz em razão dos sepultamentos em seu recinto, chamou a atenção dos vereadores sobre os riscos que tal prática podia causar à saúde pública. Além do ar nauseabundo, as matérias emanadas das paredes ofereciam riscos.

O alerta foi feito, mas as ações ainda demorariam cinco anos. Somente em 1832 é que cessaram os enterros dentro da igreja.

No dia 16 de janeiro de 1833, uma ata de sessão de vereança, assinada pelos vereadores Manoel Álvares dos Santos Pessoa e José Pereira da Silva, registrou o recebimento do ofício nº 37, encaminhado pelo vigário da Freguesia, Padre Ignácio Francisco Xavier dos Santos, acusando ter recebido a chave do Cemitério da Aldeia, depois denominado Cemitério das Irmandades Conjuntas, como o é até nossos dias. 

Pórtico do Cemitério das Irmandades - COMPAHC

O Cemitério das Irmandades mudou muito de 1833 para cá e praticamente não guarda mais nenhum vestígio daqueles primeiros tempos, o que é de se lastimar. Mas ainda conserva em seu recinto uma riqueza imensa em arte tumular, eivada do simbolismo que nos remete à ideia de que a morte é só um caminho. Mas quem quer trilhá-lo?