Nos
primeiros anos do século XX, as opções de lazer e entretenimento da população
eram restritas. Às iniciativas locais somavam-se atrações vindas de fora que
abrangiam os cinematógrafos, trupes teatrais, ventríloquos, fantoches,
touradas... E algumas delas foram responsáveis por momentos únicos,
inesquecíveis...
O
balão Granada
Na tarde de
domingo, 13 de março de 1910, o capitão Guilherme de Magalhães Costa, segundo o
jornal O Commercio, de 16 de março,
“fez sua projetada ascensão aerostática”.
Representação de uma "ascensão aerostática" - cartão-postal da Coleção Ernesto Müller |
Segundo
relata o jornal, pelas quatro horas da tarde começou regular afluência de povo
ao local escolhido que era o terreno situado à Rua Moron, nos fundos da casa
comercial de Pedro Stringuini. Antes das cinco, tiveram início os preparativos
de enchimento do balão, tocando durante o ato uma banda musical. Pouco a
pouco foi se esticando e entesando o escuro pano do colossal Granada, que tinha 24,5 metros de
altura e 52,5 de circunferência, capacitado a suspender um peso de 900 quilos.
Rua Moron à esquerda - fototeca Museu Municipal |
O tempo
estava calmo e, portanto, muito propício para ascensão. Pelas cinco e meia,
quando o balão já era contido em terra só à força, ouviu-se a voz de – Larga! O
Granada fez um arranco lindo,
conduzindo o intrépido aeronauta que subiu com a fisionomia calma e com a
serenidade de quem conhece o seu ofício, sendo nessa ocasião alvo de
estrepitosa aclamação que partiu da assistência.
O capitão
Magalhães ia seguro pelos quadris a uma corda e estava a alguns três ou quatro
metros de distância do seu barco que, depois de subir a uma altura, seguiu
serenamente para o nascente, transpondo o arroio Amorim e indo cair nas proximidades
da Charqueada do Paredão, donde o arrojado aeronauta foi trazido, de carro, por
Francisco Timotheo da Cunha, João Bruno Lorenz e Oscar Pötter.
Imediações da Charqueada do Paredão - Cartão-postal da fototeca do Museu Municipal |
O Granada chegou a subir à altura de 426
metros, gastando 16 minutos no percurso. Tendo caído num ponto elevado, muitas
pessoas puderam presenciar, da cidade, a sua descida. Foi um
verdadeiro sucesso que alcançou o capitão Magalhães, sendo apenas de lamentar
que tão exíguo fosse o produto das entradas.
Ao pedido
de muitos cavalheiros, que prometeram empenhar-se para que o distinto aeronauta
conseguisse uma razoável compensação material das suas despesas, foi prevista
uma segunda ascensão na tarde de domingo, dia 20 de março de 1910, sendo que
nessa ocasião o Granada levaria a
sua barquinha para conduzir Oscar Pötter e Marianna Peres, consorte do aeronauta
Magalhães.
No domingo
marcado, um forte vento que soprou à tarde não permitiu encher o balão Granada e fazer a projetada ascensão. Na tarde de
segunda, estando o tempo propício, muitos foguetes convidaram para o local,
onde uma banda musical fazia ouvir seus acordes. Pelas seis horas da tarde, na
presença de uma assistência numerosa, ao grito de – Larga!, o Granada deu um arranco formidável e
conduzindo a intrépida senhora Marianna Peres, que atreveu-se a sulcar os ares
sem mais acompanhamento. Aos aplausos e aclamações que irromperam, uníssonos, a
corajosa senhora agradecia com acenos de lenço.
O balão
seguiu a direção do noroeste, tendo subido a uma altura de 470 metros. Depois
de viajar cerca de 20 minutos, desceu na invernada do Sr. José Luiz de
Carvalho, numa colina ao lado do capão de Nossa Senhora.