A Charqueada e Estabelecimento Paredão foi uma das mais poderosas forças econômicas de Cachoeira e responsável por substanciais repasses de recursos ao município desde o final do século XIX até o primeiro quarto do século XX.
Charqueada do Paredão - Museu Municipal |
Sua instalação à margem esquerda do Jacuí, no ano de 1878, representou uma guinada na indústria saladeiril rio-grandense. As congêneres da Charqueada do Paredão concentravam-se nas regiões da campanha e no sul do estado, principalmente em Pelotas. O estabelecimento do negócio em Cachoeira, centro do estado, favoreceu sobremaneira os tropeiros de gado, reduzindo o envio de tropas para o sul! Em tempos de condução do gado a pé era grande negócio encurtar o trajeto. Para os criadores locais, comerciar com a Charqueada era mais vantajoso ainda, especialmente porque havia grandes campos de invernada nas redondezas do complexo industrial.
Em 1887, a charqueada passou para capital inglês, adotando o nome Brazilian Extract of Meat and Hide Factory. Com a mudança de administração, a indústria equipou-se, estendeu a gama de produtos e fez grandes investimentos no complexo à beira do rio.
Uma das grandes melhorias foi a reconstrução do pavilhão de conservas em 1909. Com projeto de engenheiros ingleses, o pavilhão foi erguido pelo construtor Antonelli Oreste na parte de alvenaria, ficando a marcenaria a cargo de Carlos Böer. A estrutura do telhado veio da Inglaterra e as madeiras empregadas foram cabriúva, louro e pinho de riga. Para favorecer a circulação e renovação do ar, o prédio foi construído com dezenas de janelas e aberturas laterais em toda a extensão da cumeeira.
Pavilhão da Charqueada (1909) - Ernani Marques |
2021. Um dos mais representativos registros da memória econômica de Cachoeira do Sul está sendo atacado e vilipendiado à luz do dia! As grandes e envidraçadas janelas pensadas pelos ingleses para introdução da luz e do ar necessário ao trabalho exibem o esqueleto do pavilhão. Sua cobertura, pouco a pouco, desaparece... Os dilapidadores do patrimônio histórico servem-se de tudo que encontram por lá e enchem carros e caminhonetes, sentindo-se senhores do que parece não ter dono...
Os bens do patrimônio histórico deviam ser entendidos como pertencentes a todos. Ainda que deles possamos descobrir autoria, construtores, propósitos, sua existência e permanência advêm de decisões que perpassaram gerações. Que medidas devem ser tomadas com quem se julga no direito de dilapidar o que não é somente seu, mas de todos?
Onde está o compromisso, enquanto sociedade, com a nossa própria história?