Quem não está acostumado a
observar os detalhes que se espalham pelas ruas da cidade, em esquinas, muros,
fachadas, frontões, frestas entre casas, certamente nunca olhou para as pedras
das calçadas e das ruas. Sequer se deu conta que os passeios públicos das
principais ruas têm um padrão. Não sonha que este padrão, por se repetir por
décadas, recebeu do fabricante o nome de padrão Cachoeira, e ainda que lembre
as ondas de Copacabana, certamente reproduz as ondas das antigas cachoeiras do
Jacuí – ou os movimentos dos fandangos...
Padrão Cachoeira nos passeios públicos - foto COMPAHC |
Os mesmos desavisados que
nunca perceberam os detalhes do tempo se surpreenderam com uma belíssima foto
do Mico Vargas, tomada feita do alto sobre a “subida dos bancos” da Rua Sete de
Setembro. De efeito surpreendente, a
foto revelou a simetria e a cuidadosa disposição das pedras no local que, por
muitas décadas, foi entrada principal para o centro da cidade, a partir da
Estação Ferroviária. Como um tapete de boas-vindas aos visitantes da Princesa
do Jacuí.
Sete desenhada - Foto Mico Vargas |
Quem realizou tal trabalho?
Quando João Neves da Fontoura
assumiu a administração do município por impedimento do intendente Francisco
Fontoura Nogueira da Gama, deu continuidade às obras de urbanização da cidade.
Distribuição de água e rede de esgoto, construção de reservatórios,
embelezamento de praças e calçamento de ruas eram as principais frentes de
trabalho da Intendência. São desta época as inaugurações do Château d’Eau e do
R2, na Praça Borges de Medeiros, e também os artísticos calçamentos da Rua Sete
de Setembro e da Praça Dr. Balthazar de Bem.
Calçamento decorado defronte à Catedral - Foto César Roos |
Estrela defronte ao Paço Municipal - Foto Rui Gonzaga Ortiz |
Cachoeira se tornou um
canteiro a céu aberto, atraindo profissionais para participarem de licitações e
concorrências públicas com vistas a atacar tantas obras. E foi para aproveitar
uma destas oportunidades que José Torrano, por volta de 1924-1926, veio de
Porto Alegre com dois companheiros, um deles Manoel Medeiros Júnior, para
calçar ruas da cidade. Calçaram a Sete,
no trecho fotografado por Mico Vargas, a Rua 15 de Novembro, em trecho
fronteiro ao Paço Municipal, e a Moron, defronte à Catedral. Deixaram suas
marcas empregando pedras de diferentes cores que, em colocação harmônica,
formaram losangos na Sete e Moron e estrelas na 15.
A obra de calçamento na Praça Dr. Balthazar de Bem, artística e minuciosa, foi finalizada com festa no local, conforme noticiou O Commercio de 7 de dezembro de 1927:
À tardinha do sábado último foi fechado o calçamento feito a paralelepípedos da Praça Dr. Balthazar de Bem. Por este motivo, o Sr. Manoel Medeiros Júnior, empreiteiro do calçamento, ofereceu aos seus operários e auxiliares churrasco regado a chopp, festa que se realizou depois das 4 horas da tarde, na referida praça, correndo muito animada (...)".
Estrela no calçamento da Rua 15 de Novembro, trecho fronteiro ao Paço - Foto de Mirian Ritzel |
A obra de calçamento na Praça Dr. Balthazar de Bem, artística e minuciosa, foi finalizada com festa no local, conforme noticiou O Commercio de 7 de dezembro de 1927:
À tardinha do sábado último foi fechado o calçamento feito a paralelepípedos da Praça Dr. Balthazar de Bem. Por este motivo, o Sr. Manoel Medeiros Júnior, empreiteiro do calçamento, ofereceu aos seus operários e auxiliares churrasco regado a chopp, festa que se realizou depois das 4 horas da tarde, na referida praça, correndo muito animada (...)".
Andar pelas ruas da cidade pode ser um agradável exercício tanto para o corpo quanto para a mente. E gratas surpresas aguardam os olhares cuidadosos que se dispõem a observar os detalhes do tempo.
Esta postagem é dedicada a Mico Vargas, cujas lentes registraram o lindo calçamento da "subida dos bancos", revelando-o a muitos, relembrando-o para poucos que dele já haviam se dado conta.