Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

20 de setembro de 1921 - água encanada em Cachoeira

O simples gesto de abrir uma torneira, tão corriqueiro em nossos dias, foi um enorme avanço para a comunidade cachoeirense que viu a sua primeira hidráulica ser inaugurada no dia 20 de setembro de 1921. Naquele dia, às 15 horas, reunidas as autoridades, convidados e o povo em geral, oficialmente a água começou a correr pelos canos, tanques e filtros nas instalações da Hidráulica, na Praça Itororó. 

Inauguração da Hidráulica - 20/9/1921 - Benjamin Camozato

As instalações da Hidráulica se constituíam dos aparatos necessários para o processo de captação, tratamento e distribuição de água, sem no entanto descuidarem-se os seus idealizadores do embelezamento do local. Chamava a atenção o chafariz, por onde cascateava lindamente a água, e os muros guarnecidos com as antigas grades que circundavam a Praça Almirante Tamandaré, atual Dr. Balthazar de Bem.

Convidados e autoridades presentes à inauguração - Museu Municipal

A captação da água no Jacuí era feita por meio de uma casa de máquinas de pequenas dimensões, uma espécie de poço que permitia com bastante limitação espacial o acesso do pessoal, colocação dos encanamentos e das correias transmissoras. Esse poço tinha a profundidade de 12,40 metros e sobre ele se assentava o motor elétrico de 14 HP, com capacidade para bombear 30 mil litros de água com 42 revoluções por minuto. Trabalharam na montagem desse equipamento o mecânico Ernesto Grübner e o engenheiro Ricardo Klinger.

A água era recalcada numa extensão de 200 metros, vencendo a altura de 40 metros e atingindo o elegante chafariz que a municipalidade adquiriu nas oficinas de J. Vicente Friedrichs, mesma empresa que forneceria mais tarde as ninfas e o Netuno ao Château d'Eau. O chafariz cumpria papel no processo de filtração da água que depois caía em três tanques antes de ser recolhida ao reservatório de 16,50 metros de altura e com capacidade para armazenar 100 metros cúbicos. Segundo os documentos da época, a torre, de linhas delicadas e elegante ornamentação, foi a primeira dessa grandeza construída no estado.

Tanques da Hidráulica, vendo-se ao fundo o Jacuí - Museu Municipal

Ao tempo da inauguração, segundo noticiou a imprensa, as instalações da Hidráulica ofereciam um belo panorama que se descortinava pela observação das várzeas e coxilhas por onde o Jacuí rolava suas águas em "curso orlado de luxuriantes matas".

As obras custaram 170 contos de réis e favoreceram moradores das ruas D. Luiza (atual Tuiuti), Sete de Setembro, Ferminiano (atual Gabriel Leon), 15 de Novembro, Sete de Abril (atual Dr. Milan Kras) e Moron.

Naquele memorável dia, destaque para o intendente Dr. Aníbal Lopes Loureiro que comemorava seu primeiro ano de mandato e inaugurou também melhorias no Mercado Público e seu gabinete junto ao prédio da Intendência Municipal.

Aníbal Loureiro no gabinete inaugurado também em 20/9/1921
- Benjamin Camozato (1922)

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Ataque assassino na Igreja Matriz

Em 8 de setembro de 1860, segundo dia de instalação da mesa eleitoral que procederia a eleições na Cidade da Cachoeira, integrada pelos cidadãos José Gomes Portinho, Antônio Vicente da Fontoura, Hilário Pereira Fortes, José Pereira da Silva Goulart e Tristão da Cunha e Souza, estavam sendo chamados e qualificados os eleitores para depositarem seus votos na urna. Presidia a mesa eleitoral o juiz de paz Tristão da Cunha e Souza. Os demais integrantes eram representantes dos dois partidos que disputavam o pleito: Santa Luzia, do Comendador Antônio Vicente da Fontoura e Brigadeiro José Gomes Portinho, e o Saquarema, representado pelo médico José Pereira da Silva Goulart e pelo Coronel Hilário Pereira Fortes.

Antônio Vicente da Fontoura, sentado à mesa, identificava e registrava os votantes em uma lista. Esta era a prática utilizada, uma vez que não havia ainda os documentos individuais de identificação dos eleitores. 


Comendador Antônio Vicente da Fontoura
- Museu Municipal

Cabia à mesa eleitoral o reconhecimento do eleitor e a consequente autorização para que procedesse à votação. Algumas vezes, por divergências ou desconhecimento da figura que se apresentava, havia impedimentos de voto. E nesse dia 8, justamente quando houve dúvida a respeito da identidade de um dos eleitores, com alguma discussão e posterior concessão do direito de voto, é que três tiros foram ouvidos, tendo como alvo José Gomes Portinho que, ileso, subiu à mesa para exigir a ordem. Os tiros, provavelmente, foram dados para distrair os presentes e dar oportunidade para que um homem, passando por baixo da mesa, ferisse o Comendador Fontoura com objeto cortante. Apunhalado, o Comendador ainda recebeu bengaladas na cabeça. Tais agressões acabaram por provocar-lhe a morte em 20 de outubro de 1860, certamente com atroz sofrimento.

O crime contra Antônio Vicente da Fontoura desencadeou um processo judicial com grande repercussão.

Em 20 de setembro, um mês antes do falecimento do Comendador, foram à sua casa entrevistá-lo sobre o atentado o Chefe de Polícia da Província, Dr. Eduardo Pindahiba de Mattos, acompanhado do escrivão João Henrique Froes e das testemunhas Dr. Pedro Baylet e João José de Leão. Encontraram o Comendador na cama, sendo ele inquirido pelo Dr. Eduardo. Obtiveram dele as seguintes informações: que ao ser ferido levantou-se de onde estava sentado e avistou o "preto conhecido por Manoel Pequeno", acreditando ter partido dele os ferimentos, apesar de não ter reparado que portasse faca em suas mãos. Quanto às cacetadas na cabeça, não sabia informar de quem tinham partido, pois se achava "todo banhado em sangue". Perguntado se julgava ter o atentado sido premeditado, respondeu que era o que parecia, atribuindo-o "a inimizades políticas". No entanto, sem acusar, o Comendador contou ter ouvido do Coronel Hilário, do Dr. Goulart e de Felisberto Ourique, do partido contrário ao seu, que venceriam "a eleição a todo custo", além de ter sido alertado na véspera que não fosse à Igreja porque morreria. Ao final da conversa, foi apresentada ao Chefe de Polícia a roupa que o Comendador usava no dia do crime, constatando a autoridade a grande quantidade de sangue e os sinais da facada no tecido.

Manoel Pequeno foi condenado às galés perpétuas. Os mandantes seguiram suas vidas. As divergências da política, acirradas durante a Revolução Farroupilha, encerrada 15 anos antes, conseguiram produzir uma importante vítima.

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Para saber mais: obra A Morte do Comendador  - Eleições, Crimes Políticos e Honra (Antonio Vicente da Fontoura, Cachoeira, RS, 1860), de Paulo Roberto Staudt Moreira, José Iran Ribeiro e Miquéias Henrique Mugge. Editora Unisinos e Oikos Ltda., São Leopoldo, 2016.