A história de Cachoeira do Sul é muito rica. Esta
afirmação não causa mais espanto em ninguém, especialmente naquelas pessoas que
têm interesse em conhecer o lugar onde vivem ou nasceram, buscando nele as
referências que foram forjadas no passado, perpassaram os tempos e estão ainda
presentes nos dias de hoje.
Em um ambiente rico de história, o que não faltam são
peculiaridades, fatos únicos e do conhecimento de poucos. Vamos a um deles.
Ernesto Müller e família |
Cachoeira do Sul, apesar de não ser uma capital, foi sede
de dois consulados: o primeiro, mais antigo, portava bandeira da Áustria e era
representado pelo Vice-Cônsul Ernesto Müller, um dos grandes nomes dentre os
cidadãos da Cachoeira do final do século XIX, início do século XX. A sede do
Vice-Consulado ficava na Rua Júlio de Castilhos, em casa até hoje existente, e
era facilmente identificada por duas águias que guarneciam o portão de acesso,
servindo de referência para os colonos e outras pessoas de ascendência germânica
que vinham em busca de orientações do Sr. Ernesto Müller.
Residência de Ernesto Müller - fototeca Museu Municipal |
Mais recentemente em nossa história, na década de 1950,
outra representação diplomática foi instalada na cidade, desta vez da República
do Uruguai, e tendo à frente, como cônsul, uma mulher: Sara Claveaux de Jardim.
Patente de Cônsul de Distrito em nome de Sara Claveaux de Jardim - 1965 - acervo Arquivo Histórico |
D. Sara, do alto de seus 93 anos, lembra bem dos tempos em
que foi nomeada Cônsul Honorária em Cachoeira do Sul, cidade para a qual
transferiu residência depois que se casou com o cachoeirense Geanone Jardim.
Sara Claveaux Jardim - arquivo particular |
Quando da instalação do Consulado do Uruguai, alguns
uruguaios moravam em Cachoeira. O ano era 1950 e a representação diplomática, a
exemplo do que também havia feito Ernesto Müller, foi disposta na casa em que
D. Sara residia. Assim, o Consulado do Uruguai teve duas sedes, sempre na mesma
Rua Presidente Vargas, primeiro na esquina com a Rua Marechal Floriano, em um
casarão antigo identificado por um belo vitral na fachada, ainda existente, e
depois na casa onde ela reside até hoje, construída ao lado da primeira sede.
1.ª sede do Consulado do Uruguai - Rua Mal. Floriano com Presidente Vargas - acervo COMPAHC |
Enquanto na casa de Ernesto Müller as águias serviam como
sinalizadoras do endereço diplomático, na casa de D. Sara havia uma placa com o escudo do Uruguai que
indicava ser ela Cônsul*. E assim foi até 1976, quando renunciou ao
cargo.
Importante ressaltar que o serviço diplomático uruguaio em
Cachoeira nunca foi exercido no sobrado de David Soares de Barcelos,
na Volta da Charqueada, local que por um tempo pertenceu à família do marido de
Sara Jardim e onde ela nunca residiu.
Em 1982, a uruguaia Sara tornou-se cidadã brasileira e em
2015 completará 70 anos de Brasil. Para Cachoeira, onde viveu a maior parte de
sua vida, trouxe um pouco do Uruguai, temperando com seu sotaque uma página
singular da nossa história.
*Cônsul ou consulesa? Atualmente é preferencial o uso da
palavra cônsul para identificar o representante diplomático, seja ele feminino
ou masculino. Assim: o cônsul, a cônsul.