Em Cachoeira do Sul, ao longo da história, muitas mulheres marcaram sua existência
por ultrapassar os preceitos estabelecidos. Tentar listá-las seria correr o risco de
omitir nomes significativos, tal o número de valorosas criaturas nos mais
diferentes segmentos da vida da comunidade.
Helena Brendler Lauer. Este nome poderia estampar a Série Lojas do
Passado, pelo seu ateliê de moda, ou encabeçar a lista de mulheres
empreendedoras. Rememorá-la será forma de homenagear as mulheres em seu mês
e trazer ao conhecimento sua trajetória de luta e superação.
As edições d’O Commercio dos
primeiros anos de 1900 trazem propaganda de suas atividades comerciais, o que
denota a percepção de Helena Lauer de que divulgá-las era
fundamental para o sucesso dos negócios. Outro aspecto também fez dela uma mulher de avanços: a utilização de seu nome na atividade comercial, o que não era comum à época. Naqueles tempos, quando muito, a sociedade autorizava o uso do termo “viúva” nas razões sociais pelo falecimento do empreendedor. Casas existentes em Cachoeira, como Viúva
Claussen (Charqueada do Paredão), Viúva José Müller e Viúva Oliveira ocultavam
os nomes das responsáveis legais pelo negócio, pondo-as à sombra de um homem
morto!
O Commercio, 4/12/1907, p. 4 |
Mas quem foi Helena B. Lauer? Uma modista, especializada em confecção
de chapéus para senhoras e toucas para crianças, comercializando também itens
utilizados para enfeitar estes acessórios de moda então obrigatórios. Florista, fazia
também buquês para noivas, cestas de flores, cornucópias e coroas naturais e artificiais.
Seu empreendimento sobreviveu até a década de 1940, pelas notas na
imprensa, tendo trocado diversas vezes de endereço. Em 1904, estava na Rua
Saldanha Marinho, 62, quando além de chapéus e miudezas, também comercializava artigos de moda. Dois anos depois mudou o atelier para o prédio do
antigo Hotel Central, na Rua Sete de Setembro. Em 1929, apareceu com “gabinete
de manicure e corte de cabelo para senhoras anexo ao ateliê”, demonstrando que
havia ampliado a oferta de serviços. Em 1941,
era proprietária da Casa de Modas.
O Commercio, 2/2/1916, p. 3 |
A vida de Helena Lauer foi marcada pela sua capacidade empreendedora, mas também por percalços familiares que muito devem tê-la angustiado. Em 30 de julho de 1916 ficou viúva de Guilherme Lauer que se suicidou com um tiro, na Praça José Bonifácio. Com problemas financeiros, Guilherme pôs fim à existência nas proximidades do Mercado Público.
Helena, então já estabelecida com seu ateliê, certamente vinha provendo a
família com o fruto de seu trabalho. Tal situação, no começo do século XX, era
motivo para o desgosto masculino, pois aos homens era destinado o papel de
provedores da família. Falhar neste aspecto era motivo de constrangimento.
A necessidade de sobrevivência em um mundo masculino fez de Helena Lauer
uma mulher de tino comercial. Não fossem estas características e a propaganda
que mandou publicar no Grande Álbum de Cachoeira, de Benjamin Camozato,
publicação de 1922, teria desaparecido da memória coletiva, diluída na vida
comum das mulheres de seu tempo.
Helena Lauer em seu ateliê - Grande Álbum de Cachoeira, de Benjamin Camozato (1922) |