Completou 106 anos de fundação um jornalzinho que deu o que falar na Cachoeira de 1916. O Malho era seu nome e o propósito traduzia muito bem a sua denominação: "Jornal de combate aos cretinos".
A primeira edição, que circulou em 5 de fevereiro de 1916, trazia no editorial a justificativa de seu nascimento: combater os maus e os cretinos e defender a culta sociedade cachoeirense e alguns de seus representantes de destaque, "sujeitos à crítica caolha de alguns "Zíngaros"* que hospedamos".
Primeira página de O Malho - Acervo de Imprensa do Arquivo Histórico |
O Malho era um jornal de pequeno formato, com quatro páginas, dirigido por Fioravanti Savi e secretariado por Thomaz Savi. Circulava aos sábados ao custo de 1.000 réis por mês a assinatura. Não há outros exemplares do jornalzinho para atestarem o tempo de sobrevivência, mas é possível verificar pelas páginas do O Commercio que seu aparecimento foi bastante ruidoso, provocando críticas severas a outros dois jornais que existiam na época, O Parlamentarista e o A Bigorna.
Página 2 de O Malho |
Página 3 de O Malho |
Página 4 de O Malho |
Do A Bigorna, que parecia ser o alvo preferido d'O Malho, não sobrou nenhum exemplar para verificação da linha editorial ou de seus editores e redatores, o mesmo acontecendo com O Parlamentarista, que começou a ser distribuído em 9 de janeiro de 1916. Com circulação bissemanal, às quartas e sábados, eram redatores d'O Parlamentarista Antonio L. Barreto e Guerreiro Victoria. O secretário era Marcino Castilho, o mesmo que teve o nome publicado pelo O Malho certamente como um dos "zíngaros" referidos no editorial.
Que desfechos tiveram estes jornais? Será que algum de seus exemplares ainda poderá ser descoberto, permitindo o entendimento das rusgas que os moviam? O certo é que a imprensa cachoeirense foi rica em títulos e corajosa em suas manifestações. A liberdade de imprensa, defendida desde o tempo de Pedro II, foi fundamental para permitir que diferentes ideias fossem debatidas, muitas delas combatidas com ataques violentos de uma folha para outra.
Passados 106 anos da fundação do O Malho, desaparecido o contexto em que circulou e a inexistência de exemplares desses periódicos que se combatiam ferozmente, torna-se difícil estabelecer o cenário social e político que os fez nascer e gerar uma imprensa de ataque franco e direto.
Resta a esperança de que salte de uma gaveta ou do fundo de uma velha moldura uma simples folha de um desses jornais. Uma agulha num palheiro que pode abrir uma janela para o entendimento.
*zíngaros: nômades.