A cidade passa por uma discussão a respeito dos prédios
inventariados do patrimônio histórico. Como em toda discussão, entram em
choque os que defendem e os que atacam a preservação. E a desinformação, na
maioria dos casos, acaba por associar a conservação dos bens do passado ao
entrave do desenvolvimento. Países do primeiro mundo estão aí a provar que a
preservação de sua memória tem sido a saída econômica para uma sucessão de
crises que têm assolado o mundo globalizado na última década. Só para citar um
dos aspectos – o econômico - que parece ser o mais forte na discussão instalada em nosso
meio. A fixação de uma identidade é outro aspecto fundamental para solidificar
a cultura, levando os indivíduos a finalmente entenderem a importância de
valorizar as marcas do passado e a memória de seu meio, especialmente numa cidade
de tradição histórica.
Em Cachoeira do Sul há bons exemplos da conjugação do
passado com o presente, sempre com vistas ao futuro, e com grandes possibilidades
de ganhos culturais e financeiros.
Esta série tem a pretensão de mostrar aos leitores que
casas antigas, sejam elas inventariadas, tombadas, ou nenhum dos casos, podem SIM ser bem aproveitadas, dando ganhos aos
proprietários e à cidade que assim legitima sua condição de quinta mais antiga do Rio Grande do Sul.
1 - Knorr & Eisner – um pouco da história
do prédio
No ano de 1916, Oscar Knorr e Leo Eisner estabeleceram, na Rua 7 de Setembro n.º 4, uma casa de
comissões, representações e consignações
denominada Knorr
& Eisner. Tinham até telefone, de número 26. A casa comercial trabalhava com
muitos artigos, os mais variados, que iam
desde balanças, arames, equipamentos e máquinas para engenhos de arroz e de
madeira, artigos para eletricidade, automóveis e acessórios, bicicletas,
aberturas e pianos. Tinha também seção de perfumaria, de bebidas, cigarros e
doces.
Em 1918, Oscar Knorr e Leo Eisner noticiaram a construção de um amplo prédio na
esquina das ruas Sete de Setembro e Ernesto Alves, defronte à Estação
Ferroviária, endereço propício para o recebimento das mercadorias, em sua
maioria importadas. Segundo noticiou o jornal O Commercio, edição de 25 de setembro, a planta do soberbo edifício que o Sr. Oscar Knorr vai
mandar construir nas proximidades da estação ferroviária, para a firma Knorr
& Eisner, planta confeccionada pelo engenheiro-arquiteto Frederico Gelbert,
encontrava-se em exposição na livraria da
Tipografia d’Commercio. Como era comum aos prédios comerciais da
época, a parte térrea serviria para o negócio e a superior para residência da
família.
Foto raríssima do primeiro prédio Knorr & Eisner - reprodução Robispierre Giuliani |
Em setembro de 1919, ocorreu a mudança da firma para o
novo prédio que, no entanto, devido à crise econômica
gerada pela 1.ª
Guerra Mundial, sucumbiu, determinando que a
ocupação do espaço fosse por tempo bastante curto, uma vez que a concordata
preventiva já havia sido decretada em agosto daquele ano. Com o fechamento da
Knorr & Eisner, o prédio passou por reformas para sediar, a partir de 1924,
a agência local do Banco do Brasil. E nesse intervalo de tempo entre o fechamento da Knorr & Eisner e o início das obras para instalação no prédio da agência do Banco do Brasil, habitou o andar superior o Sr. Otto Müller e família. Numa porta do andar térreo, Müller abriu um mercadinho.
Para a nova destinação do prédio mudanças significativas foram feitas na
construção original, com a colocação de elementos decorativos nas paredes, antes lisas,
e divisão da parte superior, onde dois apartamentos foram dispostos. As obras
foram executadas pelo construtor Santiago Borba.
Banco do Brasil - foto original de Ilsa Ribeiro |
O Banco do Brasil deixou o prédio da extinta Knorr &
Eisner em 1946, quando se mudou para o prédio mandado construir na Rua Sete de
Setembro esquina Presidente Vargas. No velho endereço passou a funcionar a
agência do Banco Agrícola Mercantil, depois incorporado pelo União de Bancos
Brasileiros S.A. – UNIBANCO, ocupante do prédio até outubro de 2008.
Desmonte da agência do UNIBANCO - outubro de 2008 - foto Mirian Ritzel |
Adquirido pelo empresário cachoeirense Willy Haas Filho, o
antigo Knorr & Eisner, que já era tombado pelo COMPAHC desde 1986, foi totalmente restaurado, recuperando sua imponência
arquitetônica. Desde 2014, por ocasião das festas natalinas, tem sido iluminado,
conferindo beleza ao alto da Sete, ao à subida dos bancos, como aquela quadra é
popularmente identificada. Está nos planos do proprietário a instalação ali de
seu escritório de negócios rurais.
Configura-se assim o Knorr & Eisner como um dos tantos prédios de nossa cidade que tem PASSADO, PRESENTE e FUTURO.
Prédio de Willy Haas Filho - foto Claiton Nazar |