Espaços urbanos

Espaços urbanos
Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

sábado, 20 de junho de 2020

Série: Cachoeira Bicentenária - Primeiro templo


Do primeiro templo erguido em Cachoeira não resta nenhuma prova material. Os anais da história contam que em 1769, quando índios catequizados foram aldeados junto à margem esquerda do Jacuí, no lugar até hoje chamado de Aldeia, ergueram uma capela dedicada a São Nicolau. Acanhada, a capela foi construída de pau-a-pique e coberta com palha, atestando os limitados recursos de seus construtores.

Dez anos depois, o lugar foi elevado à condição de freguesia, adotando logo depois o nome de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira. A capela tomou proporção de maior abrangência e responsabilidade, passando a ser Igreja Matriz. São desta época os primeiros livros em que eram assentados os registros de batismos, casamentos e óbitos, a maior parte deles existente até hoje junto aos arquivos da Diocese de Cachoeira do Sul.

A capela original era modesta em dimensões e estrutura. Em 6 de outubro de 1793, foi lançada a pedra fundamental do novo templo que seria erguido em honra de Nossa Senhora da Conceição, junto à coxilha em que hoje se assenta a Praça Dr. Balthazar de Bem. A construção, coordenada pelas Irmandades de Nossa Senhora da Conceição e Santíssimo Sacramento, demorou seis anos e, embora inconclusa, foi inaugurada em 30 de setembro de 1799, com a transferência dos objetos litúrgicos da antiga capela da Aldeia.


Igreja Matriz projetada pelo militar Francisco João Róscio
- Museu Municipal

O projeto da igreja é atribuído ao militar Francisco João Róscio, autor também da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo. As obras arrastaram-se por décadas, sempre necessitando de reparos e acréscimos. Enquanto isto, algumas aquisições e melhorias foram sendo registradas, como uma lâmpada de prata chegada do Rio de Janeiro em 22 de maio de 1820, mesmo ano em que foi concluída a capela-mor.

Durante esse tempo, e mesmo na antiga capela da Aldeia, os mortos iam sendo sepultados no interior e no entorno da Igreja Matriz, prática corrente de então, o que demandava permanentes intervenções no templo.

No início da década de 1850, começaram tratativas para finalização da segunda torre, sendo para tal apresentada planta do engenheiro Frederico Heydtmann em 1853. Vinte anos depois, a frente da igreja precisava ser refeita com maior solidez, conforme registros das Irmandades. Todo o século XIX foi de obras e aquisições e, no ano de 1897, o Bispo D. Cláudio Ponce de Leão, depois de visita pastoral, finalmente teceu elogios ao estado geral da igreja.


Igreja Matriz no início do século XX - Museu Municipal

Torres da Igreja Matriz ao fundo - Coleção Aldo Schirmer

As maiores intervenções na Igreja Matriz foram feitas no correr do século XX, a começar pela grande reforma de 1929, quando toda a fachada foi alterada de forma a tornar mais rebuscada a arquitetura do velho templo. No início da década de 1960, uma radical reforma interior fez o contrário: tirou a beleza e suntuosidade da igreja, produzindo até hoje os lamentos de quem conheceu o seu esplendor.


Grande reforma de 1929 - Coleção Osni Schroeder


Em 1991, com a criação da Diocese de Cachoeira do Sul, a Igreja Matriz passou a ser Catedral Nossa Senhora da Conceição.

Mesmo tendo passado por tantas modificações ao longo de sua mais do que bicentenária história, a Catedral conserva ainda as fundações da velha Igreja Matriz do século XVIII, ostentando também, sem dúvida nenhuma, o título de edificação mais antiga de Cachoeira do Sul. 


Detalhe da Catedral - Mário H. Kämpf