Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

CINEMA PARQUE - nossa primeira casa da sétima arte

A história do cinema em Cachoeira já conta 115 anos. As primeiras exibições aconteceram no Teatro Municipal, quando empresas de cinematógrafos, ou bioscopos, projetavam gravuras em sequência rápida, causando no espectador a impressão de movimento das cenas.

A primeira casa de cinema aberta em Cachoeira chamava-se CINEMA PARQUE, inaugurado em 1909.

Recapitulando, o Teatro Municipal, avariado em sua estrutura, fechou as portas um ano antes, privando a cidade de uma atração que estava em franco progresso naqueles tempos. Uma empresa, chamada Livi & Baptista, provavelmente integrada por Victorio Livi e Pedro Fortunato Baptista, dois grandes empreendedores, aventuraram-se a preencher a lacuna deixada pelas exibições de cinematógrafos feitas no Teatro.

Em 1910, a imprensa divulgava com entusiasmo a iniciativa de Livi & Baptista, situando-a na Rua Sete de Setembro n.º 1233, onde hoje está a agência da Caixa Econômica Federal:

Com verdadeiro sucesso, o Cinema Parque tem se exibido ultimamente em seu confortável local. Magnificamente montado e oferecendo todas as comodidades e seguranças para as famílias que frequentam esse gênero de espetáculo, é rigorosamente justa a aceitação unânime que o maravilhoso aparelho da Gaumont tem obtido do culto e consciencioso povo desta terra. A empresa não tem poupado esforços e despesas para apresentar ao público que aplaude os espetáculos esplêndidos, não só pela firme nitidez do aparelho, como pela extensão desusada de seu programa sempre variado e palpitante. É com verdadeiro prazer que recomendamos ao público essa casa de diversão que, se a empresa conseguir no próximo inverno alugar um salão, o nosso público terá certamente conseguido um magnífico emprego das horas que precedem as do sono e que constituem um verdadeiro problema insolúvel, em nosso meio, permanentemente tão desprovido desse gênero. E depois a modicidade dos preços e a desenvolvida extensão dos espetáculos são tentadores e irresistíveis argumentos próprios para convencer as mais intransigentes bolas e os bicudos tempos que atravessamos. (Jornal Rio Grande, 13 de março de 1910, p. 1)

As sessões do cinema eram feitas ao ar livre, nos finais de semana. Com chuva, o projetor Gaumont era transferido para a sede do Cassino Clube, localizado na esquina da Rua Sete de Setembro com Ramiro Barcelos.

Em abril de 1910, o CINEMA PARQUE foi vendido para Baptista & Wolff, passando a se chamar CINEMA RECREIO CACHOEIRENSE. Esta denominação foi novamente trocada em setembro daquele ano para CINEMA POPULAR, quando foram aumentadas as acomodações do público para noventa lugares e construído um camarote para os músicos.

Trecho da Rua Sete de Setembro, próximo ao endereço do Cinema Parque
- fototeca Museu Municipal

Não há muitos registros sobre nossa primeira casa de cinema. Mas o sucesso deste tipo de diversão crescia a olhos vistos, tanto que no final daquele mesmo ano de 1910 os irmãos Albino e Renoardo Pohlmann abriram o CINEMA FAMILIAR, na Praça José Bonifácio. Este cinema inauguraria um endereço que por décadas seria uma das maiores atrações culturais da velha Cachoeira.

Na próxima postagem você conhecerá esta história! 

domingo, 16 de agosto de 2015

115 anos do cinema em Cachoeira

O cinema vence todas as barreiras e segue firme em sua condição de sétima arte. As novas mídias não o ameaçam e as salas de exibição  atraem multidões.

Embora a “imortalidade” dessa arte, as grandes casas de cinema do passado não sobrevivem mais e aquelas que foram preservadas em suas estruturas hoje têm outra destinação. Foi assim com Cachoeira. Os nossos grandes cinemas, representados ainda pelos prédios do Cine Teatro Coliseu, na Rua Sete de Setembro, e pelo Cine Ópera Astral, na Rua Júlio de Castilhos, há muito deixaram de projetar filmes. O primeiro, quase em escombros, aguarda melhores dias... e, o segundo, trocou as luzes da ribalta pelo comércio de mercadorias...

Cine Teatro Coliseu (1938) - foto Renato Thomsen

Cine Ópera Astral (1953) - foto Renato Thomsen


Mas a história do cinema em Cachoeira começou muito tempo antes do Coliseu e do Astral, ocupando um grande prédio, cujos dias de glória não chegaram a 10 anos!

Este prédio era o Teatro Municipal, inaugurado no dia de Natal de 1900. A comunidade que se uniu para erguer o imponente prédio destinado a Dionísio sonhou para ele grandes espetáculos. E, já naqueles primeiros tempos, a arte que despontou por lá foi a do cinema... ou melhor, um antecessor do cinema, o cinematógrafo – ou bioscopo.

Teatro Municipal (1900) - fototeca Museu Municipal

O cinematógrafo era um equipamento que projetava imagens pela movimentação contínua de figuras. A primeira companhia que ocupou as instalações do Teatro foi o Cinematógrafo Sastre, de Sastre & Cia., que segundo o jornal O Commercio, teve muito sucesso de público.

Em 1905, o Cinematógrafo Lumiére Falante trouxe a novidade das figuras animadas que emitiam palavras em sintonia com os gestos e mímicas dos intérpretes do filme. A Revista Centenário, de Humberto Guidugli, publicou no número de 1957 que a plateia assistente desta exibição começou a ficar inquieta e desconfiada quando começou a ouvir a sonoridade das personagens, classificando o espetáculo “como obra do diabo!” No entanto, logo após o susto inicial, o ambiente do Teatro ficou sereno, prorrompendo a assistência em aplausos ao final da apresentação, para alegria do diretor da empresa, José Joaquim Pozzo.

Anúncio de cinematógrafo falante
- brasilianasteampunk.com.br

Dois anos depois, em 10 de outubro, estreou no Teatro Municipal o cinematógrafo da empresa Baterlô & Cia., que trouxe a novidade de cenas importadas de Paris, “cômicas, jocosas e humorísticas”, conforme descreveu O Commercio de 9 de outubro de 1907. O sucesso foi tanto que os espetáculos do cinematógrafo lotaram as dependências do Teatro, inclusive ficando parte da plateia em pé.

Com a desativação do Teatro em 1908, abriu-se espaço para a criação da primeira casa de cinema de Cachoeira, o Cinema Parque, da empresa Livi & Baptista, inaugurado em 1909.

Na próxima postagem, a história do Cinema Parque.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Paço Municipal - 150 anos

Quando Cachoeira adquiriu sua autonomia política, em 5 de agosto de 1820, começou sua organização administrativa, elegendo vereadores e constituindo a estrutura mínima para o funcionamento do aparato público. De pronto foi preciso alugar uma casa para as sessões da Câmara e outra para a cadeia.

Por anos a fio a Câmara alugou os espaços necessários, tendo por meta a construção de um prédio que atendesse às necessidades administrativas, judiciárias e carcerárias.

Depois de algumas tentativas mal sucedidas, finalmente em 1861 houve a assinatura de contrato com o construtor Ferminiano Pereira Soares para a edificação da Casa de Câmara, Júri e Cadeia.
As obras foram concluídas em 1864. Em razão disto, este é o ano que consta no seu frontão.

O sobrado ao tempo da Intendência - fototeca Museu Municipal

1864 - ano da conclusão da obra - acervo COMPAHC

O prédio passou a ser ocupado em março de 1865, primeiramente pelos presos. Entregue à Câmara em 5 de agosto, foi imediatamente cedido ao Ministério da Guerra para nele ser instalado um hospital militar. Finalmente, em janeiro do ano seguinte, a Câmara apossou-se de sua tão sonhada sede própria.

Casa de Câmara e Cadeia, Paço, Intendência ou Prefeitura Municipal, que foram as denominações que este fantástico sobrado de estilo colonial recebeu ao longo do tempo e ao sabor das mudanças de cunho político e administrativo que perpassaram os séculos XIX e XX, o que vale é ressaltar a riqueza arquitetônica, histórica e cultural que carrega há exatos 150 anos!

O arco-íris jogando luz sobre o Paço que está a um passo da restauração
- foto Renato F. Thomsen

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Cachoeira do Sul - 195 anos de emancipação política e administrativa

Algumas cidades contam sua existência a partir do momento em que o primeiro povoador fincou pé em seu território; outras se baseiam na documentação mais remota que faz alusão ao lugar, e outras ainda, como é o caso da nossa Cachoeira, consideram a data em que houve a emancipação política e administrativa do município-mãe.
 
O marco inicial do povoamento de Cachoeira se deu em 1750, com o estabelecimento de soldados portugueses ao longo do Jacuí, para guarnecer as fronteiras portuguesas no Sul do Brasil. Esta data poderia ter sido adotada para contagem da idade de Cachoeira, mas pouco se sabe desse momento histórico e a concessão de sesmarias aos soldados não permitiu que houvesse efetivamente a formação de um núcleo populacional, bem pelo contrário, pois as grandes extensões de terras recebidas por eles ofereciam léguas e léguas de distância entre uns e os outros.  Três anos depois, quando os primeiros açorianos chegaram, apesar de se estabelecerem em chácaras, bem menores em extensão do que as sesmarias, ainda assim não houve uma associação de pessoas suficiente para formação de um povoado.

Em 1769, com a instalação de uma aldeia de índios das Missões às margens do Jacuí, já havia a clara indicação de que a intenção era firmar um povoado, base para uma futura cidade. As referências ao povoado já o denominavam Capela de São Nicolau. Daí em diante, demonstrando o interesse que os portugueses tinham em povoar o Sul e assim garantir os seus domínios, em um intervalo curto de dez anos foi constituída a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira. Datam dessa época os primeiros registros documentais feitos em Cachoeira, constantes de assentos de batismos, casamentos e óbitos procedidos pelos padres, confirmando que já havia um contingente populacional reunido, porém sem autonomia, dependendo das decisões tomadas pela vizinha Freguesia de Rio Pardo.

Com o crescimento da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira, favorecido pela localização central e pelo grande fluxo de homens e tropas no vai-vem de um território que estava em processo de ocupação, o desejo de tomar decisões sem depender de Rio Pardo contagiou os moradores e lideranças que já se destacavam. Assim, em 26 de abril de 1819, D. João VI assinou o Alvará de Criação da Vila Nova de São João da Cachoeira. Não poderia ser esta a data para Cachoeira adotar como a mais importante de sua história? Ainda não, porque a decisão estava presa somente ao papel.

Alvará de criação da Vila Nova de São João da Cachoeira
- acervo Arquivo Histórico
Segundo as determinações portuguesas, para a constituição de um município, ou vila, era preciso haver a delimitação da área a ele pertencente, além da existência de “juiz, câmara e pelourinho”. Ora isto só foi ocorrer de fato no dia 5 DE AGOSTO DE 1820, quando o Ouvidor Geral, Corregedor e Provedor da Comarca de São Pedro e Santa Catarina, Joaquim Bernardino de Senna Ribeiro da Costa, veio a então Freguesia e providenciou na abertura dos livros necessários para registro das ações administrativas, deu posse à Câmara e seus oficiais e mandou erguer o pelourinho. Naquele momento estava instalada definitivamente a Vila Nova de São João da Cachoeira, desligada política e administrativamente de Rio Pardo, constituindo-se no quinto município do Rio Grande do Sul (o maior deles em extensão territorial) e o primeiro a se emancipar. Os quatro anteriores, Rio Grande, Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha e Rio Pardo, haviam sido criados conjuntamente em 1809.

Extensão territorial de Cachoeira em 1822
- acervo Museu Municipal

Modernamente todos os novos municípios comemoram como data histórica a de emancipação do município-mãe. À nossa volta temos vários exemplos disso: Agudo conta sua existência como município a partir de 1959, ano da sua emancipação de Cachoeira do Sul. O mesmo acontece com Novo Cabrais e Paraíso do Sul, os mais jovens filhos de Cachoeira. Suas histórias, antes disso, integravam a história de Cachoeira do Sul. A nossa história, antes de 5 de agosto de 1820, integrava a história de Rio Pardo.