Espaços urbanos

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Centro Histórico - foto Catiele Fortes

sábado, 19 de janeiro de 2019

Série Prédios com Passado, Presente e Futuro: Cine-Teatro Coliseu


Não costumo escrever postagens em primeira pessoa. Mas hoje tenho um motivo especial. Há muito sonhava em incluir nesta série de Prédios com Passado, Presente e Futuro o Cine-Teatro Coliseu!

Fachada do Cine-Teatro Coliseu - Foto Renato F. Thomsen

E eis que a aquisição do que restou desta importante casa de espetáculos, prestes a completar 81 anos (17 de fevereiro de 1938), pelo advogado e empreendedor Gilson Lisboa, lança sobre ela a luz do futuro.

A velha fachada, tombada como patrimônio histórico-cultural do município, dona de um passado glorioso e de um presente desastroso e até então incerto, ruma para o futuro com nova utilização, mas sem perder a sua essência expressa em arquitetura e significado.

Foto Mirian Ritzel

O que poucos sabem é que o Cine-Teatro Coliseu foi o sucessor do antigo Cinema Coliseu Cachoeirense. Do velho galpão na esquina da Praça José Bonifácio, a casa de espetáculos conservou a denominação, a tradição e um dos proprietários.


Cinema Coliseu Cachoeirense - Praça José Bonifácio - Fototeca Museu Municipal

O velho Coliseu Cachoeirense encerrou seus dias na propriedade de Henrique Comassetto que fez sociedade com Algemiro Carvalho. 


Henrique Comassetto - Acervo Família Carvalho Bernardes

Ambos ergueram o prédio da Rua Sete de Setembro, endereço nobre da cidade, e inauguraram o que havia de mais moderno em seu tempo em termos de casas de cinema. De estilo art-déco, o prédio portava um inédito letreiro vertical, com iluminação que marcava sua presença dos mais diferentes ângulos e distâncias.

Inauguração do Cine-Teatro Coliseu - 17/2/1938
- Reprodução Robispierre Giuliani
Letreiro - Foto Renato F. Thomsen

Henrique Comassetto e Algemiro Carvalho inovaram em termos de cinema e ousaram outros voos, como a instalação, em terreno fronteiro ao Coliseu, do primeiro cinema ao ar livre da cidade – o Cine Marrocos. De curta duração, mesmo assim deixou marcada sua existência no cenário de arte e entretenimento da década de 1950.

Placa do Cine Marrocos (invertida para permitir a leitura) - Foto Mirian Ritzel

O passado guarda grandes lembranças do Cine-Teatro Coliseu na memória de gerações de cachoeirenses. Palco de inúmeras apresentações também de teatro, de conferências e outras atividades, acolheu ilustres personalidades como Erico Verissimo, Procópio Ferreira e Maria Della Costa. 


Interior do Cine-Teatro Coliseu - junho de 1960
 - Acervo Família Carvalho Bernardes

O presente de incertezas e descaso chega ao fim. Agora é possível afirmar, com a convicção de que nossas joias passam, finalmente, a ter o reconhecimento que merecem – o Coliseu voltará a ser um prédio com passado, presente e futuro!

Esta postagem é uma homenagem a Gilson Lisboa, Osni Schroeder, que orientará o restauro da sua fachada, e Elizabeth Thomsen, uma das vozes que sempre se elevou em defesa do que restou do Cine-Teatro Coliseu.

domingo, 13 de janeiro de 2019

Janeiros de curiosas coisas...


- Em 4 de janeiro de 1928, o jornal O Commercio noticiou que havia estado na cidade e em visita à redação, o capitão Alfredo Klotz, andarilho alemão que tinha perdido o pé e parte da perna esquerda em 1915, na I Grande Guerra. O curioso é que ele vinha percorrendo diversos países, sem muletas, com o auxílio de um aparelho ortopédico, graças ao qual caminhava com facilidade! Para provar que não estava faltando com a verdade, o andarilho apresentou no jornal vários documentos, estando em viagem desde 1.º de junho de 1923! Que aparelho seria este? Estava a divulgar uma invenção? A resposta não chegou aos nossos dias...

- Macróbia*: o jornal O Commercio, edição do dia 29 de janeiro de 1919, trouxe a necrologia de uma mulher de nome Frauzina de Oliveira, que chegou aos 110 anos de idade! Solteira, de filiação ignorada, a anciã morreu sem assistência médica, no 1.º distrito. Deixou seis filhos: Felisberto de Oliveira, Rufino Antonio de Oliveira, João Fagundes de Oliveira, Francisco de Oliveira, Maria Leonor de Oliveira e Vicente de Oliveira, todos devidamente registrados com seu nome. Duas proezas da D. Frauzina – a longevidade e a condição de solteira cheia de filhos, algo extremamente mal visto há 100 anos!
- O jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, noticiou em 22 de janeiro de 1913, que o intendente de Cachoeira, Dr. Balthazar de Bem, havia contratado um especialista de Montevidéu para a macadamização e calçamento das ruas da cidade. A Cachoeira daqueles tempos vivia sob uma intensa cortina de pó no verão, consequência das ruas sem calçamento. O macadame era um tipo de pavimentação feita com pedras britadas, breu e areia, devidamente compactadas, processo inventado pelo engenheiro escocês John MacAdam em 1820.
O rolo compactador vindo de Montevidéu em trabalho na Rua Sete de Setembro
- Fototeca Museu Municipal

- O mesmo jornal Correio do Povo publicou no dia 1.º de janeiro de 1913, que no dia 31 de dezembro de 1912, às 7 horas da manhã, tinham seguido pela viação férrea, com destino a Cachoeira, oito índios adultos e quatro menores... O que esses silvícolas vieram fazer em Cachoeira?
- A tipografia do jornal Rio Grande, de Cachoeira, propagandeava em uma de suas edições do mês de janeiro de 1913, que imprimiam “em poucos minutos” convites para enterros. Garantiam impressão nítida e a preços módicos. Como se vê, vem de longe a tradição de anunciar os falecimentos em via pública na forma de “convites”.
- O Coliseu Cachoeirense anunciava na imprensa que tinha adquirido um aparelho cinematográfico movido à eletricidade e hidráulico, “evitando assim qualquer incêndio nos filmes”! (Jornal Rio Grande, 17/1/1915). Por esta novidade dá para perceber que o fogo muitas vezes literalmente dava cabo dos filmes!
Cinema Coliseu Cachoeirense - Praça José Bonifácio - Foto Benjamin Camozato

- Em janeiro de 1908, a cidade estava infestada de saltões** que tudo devastavam e contra os quais era improfícua qualquer ação. A Rua Sete de Setembro estava de tal forma tomada pelos bichos que à passagem das pessoas levantava uma nuvem quase intransponível de insetos! (Jornal Rio Grande, 12/1/1908). As mais diferentes fórmulas eram tentadas para acabar com a praga de gafanhotos, inclusive a esdrúxula compra, pela Intendência Municipal, de ovos destes insetos, tentando garantir assim a sua extinção! Confira em: https://arquivohistoricodecachoeiradosul.blogspot.com/2016/02/venda-de-ovos-de-gafanhotos.html


Limpeza de gafanhotos na Rua Júlio de Castilhos - Acervo Orlando Tischler


 *Macróbia: mulher longeva, de idade avançada.
**Saltões: insetos ortópteros, gafanhotos.

sábado, 5 de janeiro de 2019

1919 - 2019: centenário da chegada a Cachoeira das Irmãs de Santa Catarina



Há 100 anos, mais precisamente no dia 10 de janeiro de 1919, chegaram a Cachoeira as primeiras irmãs da Congregação de Santa Catarina para atuarem no Hospital de Caridade como enfermeiras. As tratativas para sua vinda iniciaram em 1918 quando a superiora da Congregação, Madre Plácida, veio acertar as condições para a chegada das primeiras irmãs-enfermeiras. Em fevereiro daquele ano de 1919, o Hospital efetivou um contrato que só cessaria na década de 1980, exercitando as irmãs a sua messe, com grande desvelo e admiração da comunidade, de levar alívio e atenção aos doentes.

A Ordem de Santa Catarina, fundada pela jovem polonesa Regina Protmann em 1571, tinha por preceitos a oração, o atendimento aos doentes e a educação. 

Madre Regina Protmann - Mercado Livre

E foi justamente com esta proposta que elas iniciaram seu trabalho em Cachoeira, começando em 1919 pelo atendimento aos doentes e, um pouco depois, no ano de 1921, fundando o Colégio Imaculada Conceição, destinado à formação de meninas. Inicialmente o educandário funcionou na Rua Saldanha Marinho, defronte ao quartel da Guarda Municipal, prédio que em 1929 abrigaria o Ginásio Municipal Roque Gonçalves.

Naquele mesmo ano de 1919, em 23 de novembro, inauguraram a Capela de Santa Catarina, em homenagem à sua padroeira, ao lado do prédio do primeiro hospital.

Fototeca Museu Municipal

A missão de saúde das irmãs no Hospital de Caridade encerrou-se na década de 1980, mas a educativa persistiu até 2012, quando as últimas representantes da Congregação de Santa Catarina deixaram a cidade definitivamente, fechando o Colégio Imaculada Conceição.

As Irmãs de Santa Catarina, além dos inúmeros serviços prestados aos enfermos, às crianças e aos jovens, marcaram sua passagem para sempre em Cachoeira do Sul por duas edificações advindas de sua missão: a Capela de Santa Catarina (1919) e o complexo do Colégio Imaculada Conceição (1927). Ambas, além de patrimônios histórico-culturais do município, são verdadeiras odes ao legado humanista destas abnegadas mulheres que devotaram a vida ao próximo.

Capela de Santa Catarina (1919) - foto COMPAHC

 Complexo do Colégio Imaculada Conceição - atual Colégio Totem