Há 50 anos,
quando a Igreja Matriz passava por uma de suas mais radicais reformas, com grande
retirada de material do templo, a Prefeitura Municipal resolveu aproveitar
parte do entulho para encascalhar algumas das ruas sem calçamento. A questão é
que o entulho estava cheio de um elemento para lá de bizarro: ossos humanos!
Ao terem
início os trabalhos de encascalhamento, logo os moradores das ruas em obras se
deram conta dos funestos resíduos e começaram as reclamações. O Jornal do Povo
estampou, na primeira página de sua edição do dia 24 de setembro de 1967, a
seguinte manchete: PREFEITURA ESTÁ DISTRIBUINDO OSSADA HUMANA PELAS RUAS.
Eis o
conteúdo da notícia:
A afirmação é verdadeira e tem gerado inúmeras reclamações. Ocorre que a Prefeitura
vem aproveitando o entulho retirado da Igreja Matriz, para encascalhar algumas
ruas da cidade. E, como no local de nosso tradicional templo religioso já
existiu um cemitério é natural a presença de ossos humanos entre o entulho que
dali vem sendo retirado pelos caminhões da Prefeitura.
O que não é natural é que a ossatura humana venha
sendo espalhada pelas ruas, ferindo a sensibilidade cristã do povo
cachoeirense. O fato se torna tanto mais inconcebível num país como o nosso, de
arraigados sentimentos religiosos, a ponto de se opor à política da cremação de
cadáveres.
Enquanto os nossos clero, governo e legisladores
se opõem obstinadamente à cremação, a Prefeitura, calcando sobre os pés toda
uma gama de arraigados preconceitos, se encarrega de espalhar ossos humanos
pelas ruas da cidade. (Coleção do Jornal do Povo – Acervo
de Imprensa do Arquivo Histórico).
Praça Dr. Balthazar de Bem - década 1960 - Fototeca Museu Municipal |
A notícia
segue citando o caso de um açougueiro que morava a uma quadra da Avenida Brasil
que, em razão da existência de ossos humanos nas proximidades de seu açougue, vinha
perdendo a freguesia, que se recusava a adquirir carne em seu estabelecimento.
Também um morador da Vila De Franceschi estava revoltado com o grande número de
ossos humanos depositados em frente à sua residência.
A situação
vivida em 1967 não foi a primeira do gênero. Em 1890, obra feita pela comissão
administrativa do município, na Praça da Conceição (atual Praça Dr. Balthazar
de Bem), causou inquietação nos moradores das redondezas, de forma que os
membros da dita comissão solicitaram ao delegado de polícia, Olympio Coelho
Leal, que ordenasse o emprego dos presos da cadeia na remoção da ossamenta. A
grande quantidade de ossos que surgiu com as obras se devia ao fato de ter sido
aquela praça, em tempos passados, parte do grande cemitério que rodeava a
Igreja Matriz.
Olympio Coelho Leal - delegado de polícia |
Antiga Igreja Matriz - Fototeca Museu Municipal |
Como se vê,
nossa história também oferece páginas bizarras!