A foto descoberta por Eduardo Vieira da Cunha nos guardados do seu avô provocou um excelente exercício em busca da descoberta de que evento determinou o registro e quando ele foi feito. O interesse de muitas pessoas na bela foto é também um excelente indicativo do quanto os documentos do passado podem provocar positivas discussões, levando ao entendimento de momentos históricos que compõem a trajetória da comunidade.
Foto localizada por Eduardo Vieira da Cunha - acervo Achylles Figueiredo |
Pois, ao que parece, o mistério foi solucionado e, para tal, foi fundamental e determinante a colaboração do pesquisador Coralio Bragança Pardo Cabeda, um especialista em história militar, e as excelentes informações que prestou. Anotadas as observações de Cabeda, o próximo passo foi servir-se do excepcional acervo de imprensa do Arquivo Histórico para buscar a comprovação dos dados.
Segundo ele, a fotografia que ilustrou a última postagem parece mostrar desfile do 3.º GIAP (3.º Grupo Independente de Artilharia Pesada) que foi transferido da Margem do Taquari (General Câmara) para Cachoeira por volta de 1928. E questiona: Por que desfile do 3.º GIAP e não do 3.º BE? Porque as viaturas da foto tracionam canhões, carros de munição e os serventes vão sentados nesses carros; a viatura seguinte, a partir da retaguarda, traciona uma peça de artilharia. A Engenharia dispunha de tração animal apenas para os carroções que transportavam os pontões e estes não aparecem na foto.
Lançando mão das suposições do pesquisador, o volume de 1928 do jornal O Commercio foi fonte natural de consulta. Nele, edição do dia 12 de setembro de 1928, matéria de capa, foi encontrada a seguinte notícia:
Passou, sexta-feira última, mais
um aniversário da independência do Brasil.
O
comércio local não abriu as portas, sendo embandeiradas as repartições
públicas, as casas bancárias e outros estabelecimentos, inclusive a redação
desta folha.
Às
9 horas efetuou-se, na Igreja Matriz, uma solene missa pró-Pátria que teve
numerosíssima assistência de povo, comparecendo
também os alunos e professores do Colégio Elementar e de outros
institutos locais de ensino.
Em
seguida, os alunos do Colégio Elementar efetuaram uma passeata pelos principais
pontos da cidade, volvendo ao edifício respectivo, onde fez uso da palavra a
professora Olympia de Paula e foram vocalizados hinos patrióticos pela
meninada.
Às
10 horas realizou-se uma parada na Praça Balthazar de Bem, com a assistência de
excelentíssimas famílias, cavalheiros e populares, formando o 3.º Batalhão de
Engenharia, o Grupo Independente de Artilharia Pesada, o Tiro de Guerra 254 e o
Destacamento da Brigada Militar do Estado.
O
Sr. tenente-coronel Barbosa Lisboa, comandante geral das forças federais aqui
aquarteladas, passou revista a esse contingente militar que, em seguida,
dirigiu-se para a Rua 7 de Setembro, onde desfilou, à frente do Clube
Comercial, perante o comando e a oficialidade da guarnição que se achavam na
sacada daquele clube.
Continuando a marcha pela Rua 7 de Setembro, a rumo sul, o 3.º
B. E. entrou, depois, para a Rua Saldanha Marinho e dali dirigiu-se aos seus
quartéis enquanto o G.I.A.P. ficou na Praça Balthazar de Bem, onde deu, ao
meio-dia, as 21 salvas de estilo.
Esse
grupo deu as mesmas descargas às 6 horas da manhã, à frente dos seus quartéis
e, igualmente às 6 horas da tarde.
Também
na Praça José Bonifácio, defronte à Avenida, por ocasião do desfile da tropa,
foi numerosa a aglomeração de povo, dirigindo-se uma grande parte ainda à Praça
Balthazar de Bem, onde o G.I.A.P. permaneceu durante uma hora com os seus
carros, guarnecidos e tirados por belos animais.
Ao
meio-dia terminaram as comemorações públicas que foram protegidas por bom
tempo.
A
tarde caiu chuva, porém em quantidade menor que a observada na tarde de 7 de
setembro do ano passado.
Uma nota publicada em 11 de abril de 1928 confirma que o GIAP estava aquartelado em Cachoeira. Primeira confirmação. Passada a informação para o pesquisador Cabeda, eis a sua resposta: o texto parece coincidir com o desfile militar fixado na foto. O 3.º GIAP aderiu à Revolução de 1930. Era unidade importante da 3.ª Região Militar, porque penso fosse a única unidade de artilharia pesada do Rio Grande do Sul à época, o que a tornava desejável. As mudanças de denominação dessa unidade acompanharam a evolução do Exército Brasileiro, passando de unidade hipomóvel a motorizada.
Desvendada a foto histórica! Que venham outras para desafiar memórias, associar conhecimentos e disseminar a importância da valorização da nossa história.
Agradecimentos especiais à colaboração valiosa de Coralio Cabeda!