Espaços urbanos

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Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Série: Registros fotográficos incríveis - I

A Série: Registros fotográficos incríveis traz ao conhecimento dos leitores e seguidores imagens sensacionais da Cachoeira de outros tempos, tentando desvendá-las em pormenores. Contribuirá nesse desafio o memorialista Claiton Nazar, um dos maiores colecionadores de fotografias da Cachoeira antiga, cuja consultoria tem sido fundamental para a identificação de  imagens históricas disponíveis nos acervos, especialmente na Fototeca do Museu Municipal.

A maior parte desses registros fotográficos mantém a autoria no anonimato e a data indefinida. Alguns deles, inclusive, não guardam mais nenhuma relação com o aspecto atual da cidade e justamente por isto, ou talvez especialmente por essa dissociação com a realidade de hoje, é que se robustecem em significado e atiçam a imaginação daqueles que têm sensibilidade para se transportarem no tempo e no espaço.

Registro fotográfico incrível - I 

Crédito das imagens: Fototeca do Museu Municipal Edyr Lima

Praça da Conceição fronteira ao Teatro Municipal 

O registro fotográfico acima pode ser datado entre 1900 e 1908, com maior probabilidade de ter sido feito no ano de 1906, quando o intendente da época, Dr.  Cândido Alves Machado de Freitas, decidiu colocar bancos* nas praças e encomendou orçamentos para o serviço. A fotografia registra o interior da Praça da Conceição (atual Praça Dr. Balthazar de Bem), que era fechada por muros à época. Ao fundo, o prédio do Teatro Municipal, cuja placa de identificação está aposta sobre a porta central. À direita de quem observa a foto, divisa-se uma parte do prédio da Intendência Municipal, hoje sede do Museu.

A praça estava murada e gradeada, oferecendo um banco de ripas de madeira sobre estrutura de ferro. A sombra que parece convidar a um descanso é dada por árvores frondosas. A nitidez e a qualidade da fotografia permitem quase afirmar que há um cedro à direita, cuja exuberância da folhagem indica ser primavera ou verão. O caminho que conduz ao portão parece ser de terra solta, observando-se também que há tufos de grama crescida onde não há trânsito. Pela sombra projetada pelos pilares do muro pode-se imaginar que a tomada tenha sido feita pela manhã.

I - Decompondo a foto:

Teatro Municipal, inaugurado em 25 de dezembro de 1900 e interditado por problemas estruturais em 1908. Construído em três níveis que se distinguiam pelos diferentes tipos de colunas e esquadrias, tinha no primeiro deles cinco portas, sendo quatro guarnecidas por caras de leões; a quinta ostentava a placa de metal com o letreiro Teatro Municipal. No último nível, coroando a edificação, uma estátua. Seria de Dionísio, a divindade grega associada ao teatro? Ou quem sabe São João, padroeiro da Vila Nova e da maçonaria? A inauguração no dia de Natal foi marcada por uma festa maçônica.

Teatro Municipal

II - Decompondo a foto:

Os muros da Praça da Conceição: em agosto de 1898, os trabalhos de fechamento da praça com muros e grades estavam concluídos, serviço finalizado por um cidadão chamado Bruttus Machado, a quem os cofres públicos pagaram a quantia de 130 mil réis pelo serviço**.

Vista externa da Praça da Conceição fechada a muro


A foto seguinte mostra o mesmo trajeto feito no interior da Praça com maior distanciamento, vendo-se um transeunte caminhando rumo ao portão fronteiro ao Teatro Municipal.


Em outras tomadas, é possível confirmar que havia outro portão na quina da Praça que encontrava a atual Rua General Câmara.



No ângulo contrário, a vista da Igreja Matriz e do portão da Praça fronteiro ao Teatro Municipal.



E, finalmente, o Teatro Municipal visto do lado de fora da Praça.



O registro fotográfico incrível que inaugura a série pôde ser ampliado em diferentes ângulos em razão de existirem outros tantos que gravaram para a posteridade espaço urbano de tamanha relevância. A profusão de registros fotográficos se deve, com certeza, ao fato de que essa zona concentrava edificações de grande significado para a Cachoeira do final do século XIX e primeiros anos do século XX, com assídua frequência da população.


**Fonte: Arquivo Histórico do Município de Cachoeira do Sul - documento IM/RP/SF/D-039, fl. 506.