O velho relógio que existia nas imediações da Praça José Bonifácio - que sumiu sem deixar vestígios - passou por muitas situações desde a sua implantação no cruzamento da Rua 7 de Setembro com a antiga Travessa 24 de Maio, hoje Rua Dr. Sílvio Scopel, no final de janeiro do ano de 1928. Foi ele um dos últimos elementos a completar o grande e revolucionário projeto de urbanização promovido durante a administração do Dr. João Neves da Fontoura.
Relógio na Rua 7 de Setembro - Studio Aurora - MMEL |
Sua presença naquele local importante da cidade servia não apenas para embelezamento, mas cumpria o importante papel de informar as horas e as condições climáticas e atmosféricas, já que dispunha também de um barômetro e termômetros. Acostumada a se abastecer de tais informações, a população reclamava quando algum problema acontecia com o mecanismo, o que deveras atrapalhava a rotina da cidade.
Intenso trânsito em torno do relógio - MMEL |
Pouco mais de 10 anos depois da instalação do melhoramento, o jornal O Comércio, de 4 de abril de 1939, já registrava estar o relógio parado:
"Não sabemos por que ainda anda parado o relógio do Obelisco da Praça José Bonifácio. Dizem que isto acontece devido à trepidação do movimento de veículos que por ali transitam. Está certo. Mas também para ter-se um cronômetro que nunca funciona não sabemos qual a vantagem. Se não há um jeito para que então, no seu lugar, não se põe uma outra coisa de utilidade, de expressão? Por exemplo, um busto ou herma que perpetue a memória de um dos vultos da nossa história, mormente nesta esplêndida fase de nacionalização evidenciada dentro da nossa pátria.”
O mesmo jornal trouxe uma notinha em sua edição do dia 3 de março de 1954, página 3, que dá mostras de mais um dos problemas envolvendo o decantado relógio. Assina-a alguém que se identificava pelas iniciais A. A.
"Relógio desmantelado
Quando João Neves da Fontoura reformou e aformoseou Cachoeira, pôs no coração da praça verdejante de cinamomos um fino e artístico relógio que indicasse aos passantes e passeantes o silencioso itinerário das horas...
Hoje o que se vê é apenas um arcabouço com a órbita vazia dando, dentro do buliçoso progresso desta cidade, a triste impressão de um órgão de vida que se extinguiu...
Dizem que o motivo desse ponto vem da trepidação do solo, ocasionada pela passagem de veículos, paralisadora do mecanismo do relógio...
Não seria caso de se recorrer à capital, onde deve haver certamente um especialista em relógio parado?
A. A."
Como se vê, nem relógio mais havia na coluna central do monumento, razão de se imaginar que o seu fim já se desenhava trágico antes da metade da década de 1950... O mistério permanece.