Espaços urbanos

Espaços urbanos
Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

sábado, 28 de junho de 2014

Série Cachoeira Futebol Clube - 1914 - 2014

No ano do centenário do Cachoeira Futebol Clube e de realização da Copa do Mundo no Brasil, o esporte da bola no pé é assunto em todas as rodas, contagiando as pessoas nos mais diferentes recantos do mundo.



Em Cachoeira, os movimentos iniciais da prática do futebol remontam ao ano de 1913, como noticia o jornal Rio Grande, edição de 24 de julho:

Domingo à tarde continuavam os ensaios de futebol no Bairro Rio Branco. Sabemos que será fundada definitivamente uma sociedade desse gênero logo que certo número apreenda as regras do jogo. À frente dos entusiastas do futebol está o Sr. Arno Trommer.

De fato, em fevereiro de 1914, surgia o Cachoeira Foot-Ball Club. Pelo visto os “ensaios de futebol no Bairro Rio Branco” conseguiram dar resultado!


Campo de futebol no Bairro Rio Branco em foto de 1922
- foto do Grande Álbum de Cachoeira - 1922 - Benjamin Camozato -



sábado, 21 de junho de 2014

Ainda a Bandeira Branca

O sírio-libanês Haguel Botomé era definitivamente um homem de marketing. Pelo menos assim o definiríamos no século XXI. Mas ele comerciava no início do século XX! E isto certamente o põe na vanguarda em iniciativas de propaganda de negócios.

Haguel Botomé com a esposa Haifa e a filha Jofreta
- Grande Álbum de Cachoeira (1922) - Benjamin Camozato -

Em julho de 1925, por exemplo, mandou arrancar todas as lajes e tijolos dos passeios de sua loja, na Rua 15 de Novembro, esquina General Osório, e substituí-los por mosaicos. Sob a supervisão pessoal de Fernando Rodrigues, o fabricante de mosaicos da cidade, acrescentou na calçada o letreiro que recentemente foi destruído. Mesmo que as pessoas que cruzavam suas calçadas não entrassem na loja, ou observassem com o canto dos olhos o estoque exposto em seu interior, saíam certamente com o nome da casa na ponta da língua ao lerem os mosaicos brancos com letras vermelhas: CASA DA BANDEIRA BRANCA. A propaganda já era a alma do negócio!
Em outra jogada interessantíssima de divulgação do comércio que praticava, no mês de novembro daquele mesmo ano, Botomé resolveu vender todo o estoque da loja e mandou publicar no jornal O Commercio (Cachoeira, 1900-1966), em várias edições, uma sugestiva quadrinha:

Aproveitem a torração!

Se quereis ótimas compras,
 Fazer pechincha de arranca,
Visitai agora mesmo
A Casa da Bandeira Branca.

Nessa loja preferida
E barateira de fato,
Vende-se muito, por pouco,
Pois só se vende barato.

Para o gosto delicado
Do freguês mais exigente,
Tem artigos escolhidos
De qualidade excelente.

Perfumaria estrangeira
Magníficos bordados,
Fazendas de toda a espécie,
Cortinas e cortinados.

Para homens, só se vendo,
Sortimento que é um primor:
Chapéus, cuecas, camisas.
Gravatas de qualquer cor.

Para noivas, nem se fala,
O que há de fino e de chique,
Véus, grinaldas, confecções,
E meias de seda BIC.

Enfim, como todos sabem,
Essa loja da Bandeira,
É a preferida do povo
Por ser a mais barateira.

E agora, ainda por cima,
Pra provar que não me engano,
Só vai vender pelo custo
Todo o resto deste ano.

Vede, pois, ó freguesia,
Comprar barato é que é,
Pechinchas e mais pechinchas
Na loja do Botomé.


Não há registro de que Haguel Botomé tenha conseguido vender todo o seu estoque depois dessa campanha. Mas uma coisa é certa: quase 100 anos depois, ainda seria considerado um bom marqueteiro.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Casa da Bandeira Branca - desaparece o último resquício

A Casa da Bandeira Branca, importante loja aberta em Cachoeira pelo sírio-libanês Haguel Botomé, em março de 1915, acabou de desaparecer em vestígios materiais!

Casa da Bandeira Branca - esquina da Rua 15 de Novembro com General Osório
- foto do Grande Álbum de Cachoeira - 1922 - Benjamin Camozato

Restava dela apenas o letreiro em mosaicos sobre a calçada de seu antigo endereço na Rua 15 de Novembro. Em letras vermelhas, já muito gastas pelo tempo e cruzar dos transeuntes, lia-se em fundo branco: CASA DA BANDEIRA BRANCA.

O letreiro foi assentado na calçada no ano de 1925, quando o proprietário realizou obras de melhoria em seu estabelecimento. Os mosaicos com as letras foram fabricados em Cachoeira por Fernando Rodrigues.

Uma obra no local condenou ao desaparecimento este último resquício da grande casa comercial que oferecia variada gama de produtos e, além disto, da marcante presença árabe na Rua 15 de Novembro.

O mosaico com letreiro ficava onde está a betoneira
- foto Elizabeth Thomsen - 19/6/2014

O blog História de Cachoeira do Sul lamenta não ter feito registro fotográfico dos mosaicos daquela velha calçada.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Desvendando uma foto nonagenária

Uma das tarefas mais instigantes e saborosas em pesquisa histórica é decifrar fotografias antigas, desvendar os lugares, as pessoas, os ambientes, a conjuntura dos momentos eternizados e – claro – a data em que foram feitas.
Uma fotografia pertencente à coleção da Família Gama Mór, tomada nas instalações do antigo Conselho Municipal, no segundo andar do Paço Municipal, permitiu uma viagem no tempo, e pela identificação de duas das personalidades centrais do registro – Dr. Glycerio Alves e Capitão Francisco Gama – foi possível desvendar um pouco de momento político ocorrido há 90 anos!

Sala do Conselho - Paço Municipal - 1924 - coleção Família Gama Mór

Vamos à foto: o local e o mobiliário não deixam dúvidas. Trata-se de uma reunião do Conselho Municipal. A mesa da presidência está ocupada pelo Dr. Glycerio Alves, eleito para a função em setembro de 1924. Em maio de 1925 ele deixou a presidência, o que então permite a datação da foto neste período. Ao lado de Glycerio Alves, à direita de quem observa a foto, está o Capitão Francisco Fontoura Nogueira da Gama, intendente municipal. Os demais conselheiros não aparecem, pois suas mesas estão fora do ângulo que o fotógrafo registrou. Na parede de fundo, fixados três quadros com os retratos de Júlio de Castilhos, à esquerda, patriarca dos republicanos positivistas gaúchos, Dr. Borges de Medeiros, Presidente do Estado, e Floriano Peixoto, o segundo presidente do Brasil.
A imprensa da época é fonte importante para tentar descobrir o evento e na edição do dia 22/9/1924, p. 1, do jornal O Commercio (1900-1966), consta o que segue:

A's vinte horas do dia 20 de setembro de mil novecentos e vinte e quatro, reunidos no salão nobre da Intendencia Municipal de Cachoeira, os srs. Conselheiros Dr. Glycerio Alves, José Gomes de Oliveira, Hermilo Felippe Pohlmann, Donato Nunes de Menezes, Alvaro Xavier da Cunha, Sebastião Pereira, Felippe Moser, Balduino Weber e Leonel Friedrich, perante numerosa e selecta assistencia de Exmas. Sras. e Cavalheiros, depois de tomarem assento nas cadeiras destinadas aos Conselheiros (...), acclamaram presidente o sr. Conselheiro Dr. Glycerio Alves.  O presidente nomeou então uma commissão para introduzirem na sala do Conselho o sr. Capitão Francisco Gama, intendente eleito. Foi o capitão Francisco Gama recebido por uma prolongada salva de palmas, sendo-lhe jogadas petalas de rosas, por uma commissão de alumnas do Collegio Elementar. (...) A convite do dr. Presidente do Conselho occuparam as cadeiras collocadas no estrado da presidencia o sr. Capitão Francisco Gama , Dr. Annibal Loureiro , Dr. Dionysio Marques, juiz de comarca,  e major José Bentes Monteiro, que representou o 3º Batalhão de Engenharia.

A foto permite outras observações: uma das senhoras postadas na lateral direita da foto parece ser a professora Laura Azambuja Marques, do Colégio Elementar, e esposa do juiz Dionysio Marques. Está acompanhada de algumas alunas. Os trajes das meninas e senhoras parecem apropriados para um mês de setembro. 

O Dr. Annibal Loureiro, sentado na primeira mesa de conselheiros, abaixo um pouco da mesa principal, à direita na foto, está olhando para o conselheiro que faz a leitura, provavelmente Hermilo Pohlmann que, conforme noticia O Commercio, fez discurso de saudação ao ex-intendente.
Destaque para o mobiliário usado pelos conselheiros e que até hoje serve aos nossos vereadores. Verdadeiro patrimônio histórico!

Com o início das obras de recuperação do Paço Municipal, toda e qualquer informação que se levante a respeito do prédio, da sua ocupação e das diversas épocas e situações por que passou podem significar uma leitura importante para o entendimento de sua organização e funcionamento e, consequentemente, das intervenções que sofreu.
Devemos saudar a todos que preservam fotografias, permitindo que as imagens registradas no passado sirvam aos propósitos do presente e do futuro.

Colaboração imprescindível: Maria Lúcia Mór Castagnino (Ucha).