Espaços urbanos

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Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Um balão nos céus de Cachoeira em 1910

Nos primeiros anos do século XX, as opções de lazer e entretenimento da população eram restritas. Às iniciativas locais somavam-se atrações vindas de fora que abrangiam os cinematógrafos, trupes teatrais, ventríloquos, fantoches, touradas... E algumas delas foram responsáveis por momentos únicos, inesquecíveis...

O balão Granada

Na tarde de domingo, 13 de março de 1910, o capitão Guilherme de Magalhães Costa, segundo o jornal O Commercio, de 16 de março, “fez sua projetada ascensão aerostática”.

Representação de uma "ascensão aerostática"
- cartão-postal da Coleção Ernesto Müller

Segundo relata o jornal, pelas quatro horas da tarde começou regular afluência de povo ao local escolhido que era o terreno situado à Rua Moron, nos fundos da casa comercial de Pedro Stringuini. Antes das cinco, tiveram início os preparativos de enchimento do balão, tocando durante o ato uma banda musical. Pouco a pouco foi se esticando e entesando o escuro pano do colossal Granada, que tinha 24,5 metros de altura e 52,5 de circunferência, capacitado a suspender um peso de 900 quilos.

Rua Moron à esquerda - fototeca Museu Municipal

O tempo estava calmo e, portanto, muito propício para ascensão. Pelas cinco e meia, quando o balão já era contido em terra só à força, ouviu-se a voz de – Larga! O Granada fez um arranco lindo, conduzindo o intrépido aeronauta que subiu com a fisionomia calma e com a serenidade de quem conhece o seu ofício, sendo nessa ocasião alvo de estrepitosa aclamação que partiu da assistência.

O capitão Magalhães ia seguro pelos quadris a uma corda e estava a alguns três ou quatro metros de distância do seu barco que, depois de subir a uma altura, seguiu serenamente para o nascente, transpondo o arroio Amorim e indo cair nas proximidades da Charqueada do Paredão, donde o arrojado aeronauta foi trazido, de carro, por Francisco Timotheo da Cunha, João Bruno Lorenz e Oscar Pötter.

Imediações da Charqueada do Paredão
- Cartão-postal da fototeca do Museu Municipal 

O Granada chegou a subir à altura de 426 metros, gastando 16 minutos no percurso. Tendo caído num ponto elevado, muitas pessoas puderam presenciar, da cidade, a sua descida. Foi um verdadeiro sucesso que alcançou o capitão Magalhães, sendo apenas de lamentar que tão exíguo fosse o produto das entradas.

Ao pedido de muitos cavalheiros, que prometeram empenhar-se para que o distinto aeronauta conseguisse uma razoável compensação material das suas despesas, foi prevista uma segunda ascensão na tarde de domingo, dia 20 de março de 1910, sendo que nessa ocasião o Granada levaria a sua barquinha para conduzir Oscar Pötter e Marianna Peres, consorte do aeronauta Magalhães.

No domingo marcado, um forte vento que soprou à tarde não permitiu encher o balão Granada e fazer a projetada ascensão. Na tarde de segunda, estando o tempo propício, muitos foguetes convidaram para o local, onde uma banda musical fazia ouvir seus acordes. Pelas seis horas da tarde, na presença de uma assistência numerosa, ao grito de – Larga!, o Granada deu um arranco formidável e conduzindo a intrépida senhora Marianna Peres, que atreveu-se a sulcar os ares sem mais acompanhamento. Aos aplausos e aclamações que irromperam, uníssonos, a corajosa senhora agradecia com acenos de lenço.

O balão seguiu a direção do noroeste, tendo subido a uma altura de 470 metros. Depois de viajar cerca de 20 minutos, desceu na invernada do Sr. José Luiz de Carvalho, numa colina ao lado do capão de Nossa Senhora. 

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