Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

domingo, 3 de julho de 2016

A incrível aventura do Danilo

No dia 30 de junho de 1916 nascia em Cachoeira o intrépido, corajoso e pouco difundido Danilo Marques Moura. Contar a participação dos pilotos brasileiros da FAB na II Guerra Mundial sem referir a aventura vivida por Danilo Moura na Itália é suprimir uma experiência inimaginável e que de tão incrível parece ficção cinematográfica!

O piloto Danilo Marques Moura
- tarauacanoticias.blogspot.com

Filho caçula do casal Gilberto da Silva Moura e Maria Emília Marques Moura, Danilo veio fazer companhia aos irmãos Osmar, Nero, Alzira e Odete. Osmar e Nero seguiram a carreira militar, um no Exército e outro na Aeronáutica. Nero Moura entrou para a história como um dos mais completos pilotos da Força Aérea Brasileira, criada por ele e outros em 1941, e por comandar o 1º Grupo de Aviação de Caça na II Guerra. Em razão disto, foi escolhido o patrono da aviação de caça brasileira.

Influenciado pela carreira de Nero, Danilo quis ser piloto, no que foi incentivado e patrocinado pelo irmão. Da formação inicial no Aeroclube do Rio Grande do Sul até os cursos de aperfeiçoamento como piloto civil fora do Brasil decorreram poucos anos até a entrada brasileira no conflito mundial.

Os irmãos Nero e Danilo Marques Moura
 - hangardeplastico.net


Em 1940, com o brevê na mão, Danilo foi admitido no Ministério da Agricultura como piloto de aerofotogrametria. No ano seguinte foi para os Estados Unidos, onde ingressou na Southwest Airways Inc., para curso de pilotagem civil, concluindo-o em 1942.  No Texas, em 1943, fez curso para instrutor estrangeiro de pilotos. Naquele mesmo ano, com mais dois diplomas de formação de instrutor e piloto, voltou para o Brasil como adido do Gabinete do Ministério da Aeronáutica. Em 1944, foi convocado para integrar o recém-formado 1º Grupo de Aviação de Caça, sob o comando do irmão Nero Moura, com destino ao front da II Guerra Mundial.

Os pilotos brasileiros receberam treinamento da força aérea americana e embarcaram em missão para a Itália em setembro de 1944. Danilo realizou sua primeira missão nos céus italianos no dia 19 de novembro de 1944.

Em 4 de fevereiro de 1945, um domingo, o piloto Danilo partiu para a sua 11ª missão. No comando do avião número 2, decolou para mais um voo ofensivo. Não imaginava que aquela missão seria frustrada, porém gravaria seu nome como protagonista de uma inusitada aventura e que tinha todos os elementos para ser desastrosa...

A sudoeste da cidade de Treviso, seu avião foi abatido pelos alemães. A pouca altura do solo, abriu o paraquedas e ao cair cortou a língua. Este detalhe foi fundamental para protegê-lo na inacreditável fuga que empreendeu, durante quase um mês, a pé ou de bicicleta, atravessando mais de 300 quilômetros em território dominado pelos alemães. Nas vezes que foi interceptado, vestido com roupas civis que italianos lhe deram, mostrava a língua ferida, fingindo não conseguir falar.

Enquanto isto, na sede do comando do 1º Grupo de Aviação de Caça, o irmão Nero temia pelo pior e pensava na mãe, Maria Emília, em Cachoeira, sem notícias dos três filhos que tinha na guerra... Como contar-lhe o suposto abatimento do caçula nos céus da Itália?

Danilo, Nero e Osmar Marques Moura - FEB
Mas o caçula, destemido, com astúcia e contando com a ajuda de camponeses, gente simples com quem sabia lidar bem graças aos tempos em que vivera na fazenda dos pais em Cachoeira, seguia seu caminho entre os alemães. Cerca de 30 dias depois, 21 quilos mais magro, chegou a uma base aliada. Um longo interrogatório de dois dias arrancou do intrépido Danilo, com a maior naturalidade, todas as ações empreendidas na travessia do longo caminho que fez. Nenhum oficial, apesar da admiração da aventura do piloto brasileiro, recomendou que a sua história entrasse para os anais porque contrariava, integralmente, todos os ensinamentos e as regras de conduta de pilotos em guerra...

Quando o irmão Nero Moura o avistou, assim como os seus colegas de missões nos céus da Itália, quase não acreditaram. Naquela noite beberam todo o whisky que tinham disponível e se inspiraram para compor a Ópera do Danilo, peça encenada nos meios aeronáuticos. Acesse https://www.youtube.com/watch?v=LXGBy7IGHz0

No ano seguinte ao término da guerra, Danilo abandonou a FAB e em outubro casou-se, em Cachoeira, com Maria Isolina Krieger, com quem teve cinco filhos. Fez carreira na Panair como piloto e após a aposentadoria estabeleceu-se com fazenda de café no Paraná. Faleceu em 14 de maio de 1990, no Rio de Janeiro.

Danilo Marques Moura, quase um anônimo para a história. Um gigante em sua vontade. Um excepcional personagem para o cinema. Meras projeções dos poucos que conhecem e admiram sua corajosa e patriótica aventura.

Esta postagem homenageia postumamente o conterrâneo Sílvio Barreto Vianna,  admirador e difusor da memória de Danilo Marques Moura.

10 comentários:

  1. Muito bonita a história desse grande herói pouco conhecido. Estou colhendo dados para editar um livro contando sua história e a de outros heróis brasileiros.
    Caso, tenham a indicação de mais dados ou pessoas de quem eu possa pedir informações sobre Danilo, favor comunicar-se com bodegadovalentim@gmail.com. Ficarei grato e o Brasil conhecerá um pouco mais nossos verdadeiros heróis.
    Grato!

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    1. Valentim, podes contatar com a filha do Danilo, Regina Moura: mariamoura9@terra.com.br
      Sucesso!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Conhecia um pouco dessa história, muito bom saber mais. Mirian sempre atenta como conhecedora e divulgadora das histórias de Cachoeira e Cachoeirenses. Mais uma vez, parabéns Mirian Ritzel.

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    1. Obrigada, Marta! Mais uma história incrível ligada à nossa terra!

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  4. Fico feliz por fazer parte da FAB praça 1981 BAGL-RJ e hoje trabalho no Campus dos Afonsos, berço da aviação e tendo como protagonista o Tem Danilo Marques Moura.
    É gratificante demais conhecer a história de vida marcante deste aviador para o Brasil e especial Aviação de caça.
    Quem sabe um bom roteiro de filme.

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    1. Certamente daria um excelente filme! Os americanos não deixariam passar esta história sem montá-la em Hollywood!

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