Desvendar fotos é um desafio delicioso para quem trabalha com história, tarefa que por vezes se transforma em um verdadeiro quebra-cabeças, especialmente quando o distanciamento entre o tempo do registro e o momento da análise é maior.
Para começar, vivemos uma época em que ninguém mais imprime fotografias, pois muitos são os recursos de armazenamento de imagens. No entanto, ainda somos uma geração que pode acompanhar a própria evolução pessoal em fotos, álbuns, vídeos, sem contar a herança de registros fotográficos de antepassados. E, de quebra, ainda nos dar ao deleite de tentar decifrar o passado contido em velhas e desbotadas imagens...
Muitas vezes, ao observarmos fotos antigas, deparamo-nos com uma série de dúvidas relacionadas à data, ao local em que foi feita, ao evento, às pessoas envolvidas, questões postas pela inexistência de anotações de quem viveu a situação retratada.
O recente falecimento do popularíssimo Marco Antônio Guidugli, figura querida da cidade, dono de uma memória privilegiada e de um tipo físico também marcante, despertou a atenção sobre uma fotografia que está prestes a completar 100 anos! Trata-se do registro feito no dia 20 de setembro de 1921, quando a Hidráulica Municipal foi inaugurada.
Figuras da cidade presentes à inauguração da Primeira Hidráulica - foto Benjamin Camozato - Grande Álbum de Cachoeira |
Na foto, muitos homens da Cachoeira de então, dentre os quais é possível identificar o Padre Luiz Scortegagna, Vigário da Igreja Matriz, o comerciante Nicolau Roos, Henrique Möller Filho, dono do jornal O Commercio, Ernesto Müller, Vice-Cônsul da Áustria e liderança da comunidade germânica, e dois meninos atrás dos quais está uma figura que lembra muito o Guidugli que há bem pouco tempo estava entre nós. O tipo físico, o trajar e até mesmo a maneira de se postar na foto fazem pensar que a figura bem poderia ser um antepassado dele. Aí começa o exercício que poderá, ou não, levar à identificação...
Marco Antônio Guidugli era filho de Umberto Atílio Guidugli que, por sua vez, era filho do italiano Francesco Guidugli, imigrante nascido na Toscana e casado com a italiana Assunta Tagliassachi, nascida em Pisa. No Brasil, tiveram o filho Umberto Atílio, em 1904, chamado de Eliseu pela mãe que não queria que o menino tivesse o nome do príncipe italiano assassinado*. Eliseu, por sua vez, casou-se com Suely Medeiros Pereira, sobrinha-neta de Borges de Medeiros. O casal teve dois filhos: Umberto Fernando e Marco Antônio, nascido em 10 de maio de 1947 e falecido em 5 de julho de 2021.
Francesco aparece com armazém na Rua Moron em 1902, anunciando no jornal O Commercio que estava se estabelecendo na Rua Sete de Setembro, no endereço em que funcionara a casa comercial de João Gerdau. Anos mais tarde, adquiriu terrenos na Rua Saldanha Marinho, instalando-se ali com seu negócio. Na mesma rua, muito tempo depois, o filho Eliseu abriu a sua tipografia que ficou famosa pela edição das revistas Aquarela.
Voltemos à foto do dia 20 de setembro de 1921. Poderia a figura semelhante ao já saudoso Guidugli ser o seu avô Francesco?
Seria Francesco Guidugli? |
A ata da inauguração da Hidráulica traz as assinaturas de muitas das pessoas que estiveram prestigiando o acontecimento. Nela não consta a assinatura de Francesco Guidugli, o que não pode ser tido como conclusivo.
Por enquanto, diante da impossibilidade de afirmar a identidade do homem retratado por Benjamin Camozato, fica a questão no ar e o gostoso exercício de adivinhação. Alguém pode me ajudar?
* Umberto I, rei da Itália, assassinado em 29 de julho de 1900, em Monza, por Gaetano Bresci.
Adoro teu blog e como ele nos instiga a pensar!
ResponderExcluirObrigada, Letícia!
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ExcluirMirian,lá pelos anos 70 eu ia na tipografia do Sr. Eliseu Guidugli e mesmo com uma vaga lembrança, essa pessoa que instiga poder ser Francesco, pai do Eliseu e avô do Humberto e do Marco, ele tem sim o porte físico, especialmente, do Marco. E, pra falar a verdade, tem todo o jeito dos velhos imigrantes italianos. Eu ainda lembro que conheci uma senhora na década de
ResponderExcluir80 de sobrenome "Guidugli", se não me engano era professora municipal.
Parabéns pelo teu trabalho!
Obrigada, Rui. Não podemos afirmar que é o Francesco, mas que tem tudo para ser, ah tem! Abraço.
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