Nossos antepassados jamais imaginariam a interação virtual que temos hoje, nem as múltiplas possibilidades de comunicação. Todo esse aparato tem transformado as relações, e as redes sociais ditam hoje, para o bem e para o mal, os rumos da humanidade.
Sejam quais forem os mecanismos de comunicação, desde os mais toscos até os mais sofisticados, o homem sempre soube servir-se deles para expressar-se direta ou indiretamente.
Na Semana Santa de 1908, inusitadas aparições estavam colocando as autoridades em alerta, assim como despertando curiosidade nas pessoas...
Em sua rotineira patrulha pelas ruas da cidade, a Guarda Municipal encontrou, na madrugada do sábado de aleluia, um "judas" comodamente instalado em um dos bancos da Praça do Mercado, hoje José Bonifácio, defronte ao armazém de Feliciano da Silva. O "judas" tinha duas caras, trajava fraque curto, botas, chapéu de aba larga e pincenê*. O jornal Rio Grande, deu a notícia destacando que pelo local e outros detalhes era "fácil supor a quem se referia a alegoria, cujo efeito foi frustrado pela polícia". E mais, "na mesma praça, defronte à agência do Correio, apareceu de manhã outro judas que escapou à vigilância policial", chamando a atenção de todos que passavam e que, em discussões, julgavam ser um dos carteiros da cidade...
A exposição de bonecos no sábado de aleluia é uma tradição bem antiga, mas que desapareceu entre nós. Sua prática era uma forma de criticar pessoas, normalmente políticos ou figuras polêmicas, dando-lhes o tratamento punitivo como o fariam com Judas Iscariotes por ter entregue Jesus Cristo aos seus algozes. A tradição, chamada por uns de "Queima de Judas" ou "Malhação de Judas", foi introduzida no Brasil pelos portugueses. Na maioria das vezes, o "judas" era surrado até se desmanchar ou então ateavam fogo sobre o seu corpo, normalmente montado com serragem, palha ou trapos velhos e vestido de forma a identificar o alvo da crítica.
Bancos da Praça José Bonifácio - Museu Municipal |
Quem seria o "judas" sentado num dos bancos da praça? Certamente uma figura de relevo na Cachoeira daqueles tempos... O distanciamento temporal torna difícil decifrar o recado, mas que ele foi dado, e muito bem dado para os cachoeirenses daquele tempo, ah, certamente foi!
Imaginem se esta tradição voltasse!!!
*pincenê: óculos sem haste.
Olha não achei a foto para confirmar o uso do referido pincenê, mas é bem possível ser o Intendente Cândido Freitas, 😉✌que estava encerrando o mandato em 1908 para ser sucedido pelo Isidoro Neves da Fontoura também do PRR, partido que dominava a política na cidade. É bem possivel que algum correligionario do Dep. Ramiro Barcelo do Partido Liberal seja o autor da proeza, quem sabe um tal de "Amaro Juvenal", kkk!
ResponderExcluirMarcelo Fabiano, obrigada pelo comentário. Sempre desconfiei que fosse o Isidoro, pois ele sim usava o pincenê. A única foto do Cândido que conheço não o mostra usando óculos.
ResponderExcluir